São Remígio, apóstolo da França
A França recebeu a insigne graça de ser chamada “filha primogênita da Igreja” devido, especialmente, à pessoa de São Remígio e ao apostolado por ele realizado.
Redação (05/10/2021 11:15, Gaudium Press) Nasceu ele em 437, na cidade de Laon, Norte da França, de uma família católica e nobre. Um eremita cego que vivia nas redondezas havia dito aos pais de Remígio, já bastante idosos, que eles teriam um filho varão o qual se tornaria grande diante de Deus, faria milagres e o primeiro destes seria a cura de sua cegueira. De fato, no dia em que Remígio nasceu o eremita ficou curado.
Desde a adolescência, ele foi viver como anacoreta nas cercanias de Laon, dedicando-se à oração, penitência e ao estudo. Progrediu de tal modo na virtude e no conhecimento que a fama de sua santidade e ciência se difundiu por todo o país.
Bispo de Reims, com apenas 22 anos de idade
Tendo falecido o Bispo de Reims – cidade próxima de Laon –, o clero e o povo aclamaram Remígio como seu sucessor; não houve nenhum voto discordante. Sabendo que uma multidão acorria à sua cela para homenageá-lo, ele tentou fugir, mas não conseguiu.
Procurou dissuadir as pessoas dizendo que era muito jovem – tinha apenas 22 anos de idade –, mas de nada adiantou. Então, uma auréola luminosa desceu do céu sobre sua cabeça, e seus cabelos ficaram impregnados de um bálsamo que exalava agradável perfume. Conduziram-no a Reims, onde foi ordenado sacerdote e logo depois bispo.
Batalha de Tolbiac
Em 493, o rei dos francos Clóvis, que era pagão, casou-se com Santa Clotilde, a qual, certamente orientada por São Remígio, começou a fazer apostolado com seu marido para convertê-lo ao Catolicismo, mas em vão.
Certa ocasião, os alamanos atacaram os francos e uma grande batalha travou-se em Tolbiac, nas proximidades de Colônia, Sul da Alemanha. Aqueles eram mais numerosos e os francos começaram a ser derrotados. Aflito, o Rei Clóvis fez uma promessa a Deus: se obtivesse a vitória ele se converteria à Religião de Clotilde, ou seja, à Igreja Católica. Suas preces foram atendidas e os alamanos fragorosamente vencidos.
São Remígio catequizou Clóvis e os membros de seu exército. Quando o Santo lhes descreveu a Paixão de Nosso Senhor, o monarca bradou: “Ah, se eu estivesse lá com os meus francos, teria vingado as injúrias feitas ao meu Deus!”
Comenta o Padre Rohrbacher: “Essas palavras já anunciavam a espada cristã de Carlos Martel, de Carlos Magno, de Godofredo e Tancredo.” Os dois últimos foram grandes heróis da Primeira Cruzada.
“Pai santo, isto já é o Céu?”
Na noite de Natal de 496, São Remígio batizou Clóvis na Catedral de Reims. As ruas, desde o palácio do rei até a igreja, estavam atapetadas e floridas, e o povo caminhava em procissão.
A fachada principal da igreja estava iluminada com muitas tochas. Em seu interior, queimava-se incenso que perfumava a atmosfera, cânticos eram entoados. Ao penetrar no templo, Clóvis perguntou a São Remígio que o segurava pela mão:
– Pai santo, isto já é o Céu que me tendes prometido?
– Não, respondeu o bispo. É a entrada do caminho que para lá conduz.
No momento em que vertia a água sobre Clóvis, o Santo lhe disse: “Curva tua cabeça, sicambro, adora o que queimaste e queima o que adoraste!”
Os sicambros eram um povo germânico, do qual se originaram os francos. Clóvis rejeitou os ídolos que cultuava e passou a adorar Nosso Senhor Jesus Cristo.
Uma pomba trouxe uma ampola contendo o santo crisma
O templo estava tão repleto que os acólitos não conseguiam caminhar a fim de levar ao bispo o óleo para a unção do Rei.
De repente, uma pomba de plumagem branca como a neve se aproximou de São Remígio, trazendo em seu bico uma pequena ampola cheia do santo crisma. Ele a abriu e exalou-se um odor agradável por todo o recinto. A ave desapareceu e o venerável bispo espalhou uma parte do óleo na piscina batismal.
Essa ampola foi conservada em Reims até a Revolução Francesa. Em 1793, comissários da Convenção a quebraram sacrilegamente. Porém, um homem fiel a Deus que ali se encontrava conseguiu recolher uma parcela do óleo, a qual posteriormente era misturada com o crisma utilizado na sagração dos reis da França, na Catedral de Reims.
Carlos X foi o último soberano francês que recebeu a unção real com esse óleo; a cerimônia realizou-se em 1825.
Nesse mesmo dia, duas irmãs de Clóvis obtiveram insignes graças: uma foi batizada e se tornou religiosa; a outra, que era ariana, abjurou a heresia. Também receberam o Sacramento membros da corte, chefes do exército e cerca de 3.000 soldados francos, bem como suas mulheres e filhos.
Seus raciocínios lembravam a impetuosidade do trovão
São Remígio possuía um porte extraordinário. Segundo as medidas do tempo, sua altura era de quase sete pés, ou seja, 2, 31 m. Tinha o olhar cheio de doçura para com os bons, mas fitava os ímpios com majestade terrível.
Quando caminhava pelos campos, passarinhos o rodeavam e pousavam em seus ombros. Curou doentes, exorcizou possessos, ressuscitou um homem morto; com água benta e sinais da cruz, apagou um terrível incêndio que grassava na cidade de Reims.
São Sidônio Apolinário (430-486), que foi prefeito de Roma, senador e depois Bispo de Clermont-Ferrand, acompanhou de perto São Remígio e escreveu que, lendo seus sermões, vê-se: «a nobreza dos pensamentos, a beleza das figuras, a força dos raciocínios que podem ser comparados à impetuosidade do trovão».
Tal era a grandeza de São Remígio que o Papa Santo Hormisda, cujo pontificado exerceu-se de 514 a 523, escreveu-lhe uma carta na qual dizia:
“Nós vos confiamos o cargo de nos representar em toda a extensão dos Estados conquistados por nosso filho espiritual e bem-amado, o Rei Clóvis, que vós tendes recentemente regenerado com a graça de Deus pela água do Batismo, em circunstâncias que lembram a série de prodígios realizados outrora pelos Apóstolos.”
São Remígio governou a diocese de Reims durante 74 anos. A única enfermidade que teve foi a perda da visão.
Em 13 de janeiro de 533, Deus levou sua bela alma ao Céu. Tinha 96 anos idade. Sua mãe, Celina, e seu irmão Princípio, Bispo de Soissons, também obtiveram, por suas heroicas virtudes, a glória dos altares.
Por Paulo Francisco Martos
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