A Mãe que sempre esteve de pé
A memória da Mãe Dolorosa vem lembrar aos fiéis o papel da Corredenção de Maria e o modo como devemos aceitar os sofrimentos nas adversidades.
Redação (14/09/2021 18:40, Gaudium Press) No dia 15 de setembro, a Santa Igreja comemora algo excepcional; dentre as numerosas comemorações do calendário Litúrgico, a memória de hoje distingue-se por uma forte nota de compunção e sofrimento, não sem deixar seu caráter festivo: a memória de Nossa Senhora das Dores.
O culto às Dores de Maria
Desde os primeiros séculos do Cristianismo, a devoção à Maria Santíssima enquanto Mater Dolorosa[1] suscitava grande piedade entre os fiéis, pelo que se introduziu no culto a comemoração das Sete Dores de Maria. Em meados do século XIII, um novo carisma surgiria para propagar esta devoção: a Ordem dos Servos de Maria — ou Servitas[2] — tinha por vocação estimular a contemplação da Paixão de Cristo e de sua Mãe, e assim converter os pecadores e santificar as almas.
Como fruto deste apostolado, em menos de dois séculos boa parte do mundo cristão celebrava os mistérios e esplendores da Corredenção de Maria.
A partir do Sínodo de Colônia (1423), passou-se a invocar As angústias e dores da Bem-Aventurada Virgem, sobretudo em expiação às profanações e sacrilégios dos hereges e os pecados cometidos contra a Mãe de Deus.
A piedade popular, então, consagrou a devoção com o título de Nossa Senhora da Piedade, tão difundida nos séculos subsequentes até nossos dias. Dentre os pontífices que mais exaltaram tal comemoração estão os Papas Pio VII (1800-1823) e São Pio X (1903-1914), além de inumeráveis santos e institutos religiosos.
Porém, como a memória das Dores de Maria perdia um pouco de seu valor por ser comemorada em plena quaresma, foi finalmente transferida para o 3°domingo de setembro e, com a reforma do Breviário, definitivamente estabeleceu-se no dia 15 de setembro, dia seguinte à Festa da Exaltação da Santa Cruz.
O cântico do amor mariano por excelência: o Stabat Mater
A memória de Nossa Senhora das Dores é uma das poucas datas litúrgicas na qual há uma sequência, ou seja, um hino específico para a festividade, recitado antes da proclamação do Evangelho.
Coube a um ilustre escritor e filho de São Francisco de Assis, o bem-aventurado Jacopone de Todi (1236-1306), compor um dos mais belos e eloquentes cânticos marianos, o único a penetrar a fundo no mistério dos sofrimentos da Virgem Maria: o Stabat Mater.
Nele, a alma devota contempla a Santíssima Virgem, lacrimosa, sofredora, mas de pé ao lado da Cruz, cuja esperança no momento em que o próprio Deus “morria” e parecia lhe abandonar para sempre logrou manter sua fé acesa e participar do augusto mistério da Redenção, sofrendo Ela mesma em sua alma cada passo da Paixão de seu Filho.
Peçamos, pois, à Mãe dolorosa esta piedade para com seu Filho e nosso Deus, e a força de enfrentar todas as adversidades no Calvário de nossas vidas, conforme reza a oração:
Em pé a Mãe dolorosa
estava em
prantos junto à
Cruz, da qual seu
Filho pendia.
Sua alma gemente,
contristada e desolada,
foi por um gládio
trespassada.
Ó quão triste e
aflita estava a bendita
Mãe do Unigênito
Filho.
Gemia e suspirava
a piedosa Mãe, ao
contemplar as dores
de seu Filho
Divino.
Qual o homem que
não choraria, vendo
a Mãe de Cristo
em tal suplício?
Quem poderia, sem
tristeza, contemplar
a Mãe de Cristo sofrer
com seu Filho?
Pelos pecados de
seu povo, Ela o via
atormentado e pelos
açoites dilacerado.
Viu seu doce Filho
morrer abandonado,
e entregar seu
espírito.
Ó Mãe, fonte de todo
amor, fazei-me
sentir a violência
de vossas dores, para
convosco chorar.
Fazei meu coração
arder de amor
por Cristo, nosso
Deus, a fim de
comprazê-Lo.
Ó Santa Mãe, eu
Vos suplico, gravai
no meu coração
as chagas do
Crucificado.
Dividi comigo as
dores de vosso Filho
dilacerado, que
Se dignou sofrer
tanto por mim.
Fazei-me piedosamente
convosco chorar,
e sofrer com o Crucificado
enquanto eu viver.
Estar convosco junto
à Cruz, e no pranto
unir-me a Vós, eis
o meu desejo!
Ó Virgem, entre as
virgens ilustre, não
sejais para mim
amarga e fazei-me
chorar convosco.
Fazei-me carregar
a morte de Cristo,
compartilhar
de sua paixão e suas
chagas venerar.
Feri-me com suas
chagas e inebriai-
-me com a Cruz e
o Sangue de vosso
Filho.
Para não ser consumido
pelas chamas,
que eu seja,
ó Virgem, defendido
por Vós no dia
do Juízo.
Quando chegue, ó
Cristo, a hora de
minha partida, outorgai-
me por vossa
Mãe a palma da
vitória.
Quando meu corpo
morrer, concedei
à minha alma a
glória do Paraíso.
Por André Luiz Kleina
Referências:
PIRES DE SOUSA, Geraldo. [Notas ao livro Glórias de Maria] In: AFONSO DE LIGÓRIO, Santo. Glórias de Maria. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1951.
[1] Do latim: Mãe das dores ou Mãe dolorosa.
[2] Fundada em 1240 por Sto. Aleixo Falconieri e mais seis companheiros.
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