Em Muret, o milagre do Rosário
Como protetora e Mãe da Igreja, mediante a devoção ao seu Rosário, a Santíssima Virgem preservou a sã ortodoxia em terras francesas, em muito já devastadas pela heresia dos cátaros.
Redação (12/09/2021 12:09, Gaudium Press) Pandemia difundida no início do século XIII, filha de seitas vindas do oriente próximo, a heresia Cátara tinha como base a doutrina dualista que afirma a existência de uma luta contínua entre o que é material e o que é espiritual.
A matéria, segundo o dualismo, foi criada pelo ‘Deus do mal’, enquanto o espírito, pelo ‘Deus do bem’. Consequentemente, a alma e o corpo estão em constante fricção. Portanto, para alcançar a verdadeira felicidade fazia-se necessário libertar-se do corpo e se tornar inteiramente “espiritual” por meio de penitências excessivamente rigorosas a tal ponto que, por vezes, provocavam o suicídio, revelando incontestável desequilíbrio – humano e doutrinário.
A heresia cátara grassava espantosamente por toda a França meridional, chegando a perverter vários senhores feudais, entre os quais o Conde de Toulouse, Raymond VI, e o Conde de Foix, Raymond-Roger Trancavel.
Entretanto, como é a obrigação da Santa Igreja auxiliar os fiéis, mister em momentos de grandes dificuldades e perigos, certos sacerdotes começaram a pregar fervorosamente a doutrina católica em referida região, trabalhando pela conversão daqueles hereges.
O Santo Padre, por fim, mandou um legado pontifício chamado Pierre de Castelnau para auxiliar nessa tarefa. Contudo, o principal homem que ia surgir como resposta à heresia era São Domingos de Gusmão.
Um presente do Céu
Passando pelo Languedoc para retornar à cidade de Osma, na Espanha, e após acompanhar o seu Bispo numa missão diplomática, São Domingos viu a necessidade de pregar a verdade àqueles pervertidos. Assim, depois de ter recebido a permissão papal, começou a batalhar dia e noite com o gládio da palavra.
Entretanto, as suas tentativas de conversão não davam muito fruto, pois as pessoas estavam demasiado enraizadas em seus erros. Foi então que ele percebeu que não conseguiria mudar a mentalidade daquela gente sem um ostensivo milagre.
Certo dia, ele teve uma visão na qual viu a Rainha dos Anjos que lhe dava o Sagrado Rosário, dizendo que esta seria a mais eficaz arma contra gente tão desviada; e que o Rosário operaria prodígios maravilhosos. A partir de então, as mudanças mais espantosas começaram a se dar.
Graças ao Rosário muitos voltaram ao seio da Igreja.
A luta contra os Cátaros
Ora, quem entenderá o coração do homem e a sua maldade?
Apesar de tanto empenho da Igreja – se não bastasse o da Santíssima Virgem –, muitos não queriam se emendar. O Conde de Toulouse contratou alguns nobres para assassinar o legado pontifício; e assim o fizeram.
Este e outros crimes cometidos pelos hereges fez com que o Papa convocasse uma investida, iniciando-se assim uma série de batalhas em defesa da fé, na qual a figura de Simon de Montfort ocupa singular destaque.
Com efeito, nessa luta, o Rosário operou maravilhas, como bem registrou a batalha de Muret, ocorrida em 12 de setembro de 1213.
Muret
Em sua sanha de destruir tal investida cristã, o Conde Raymond VI junto com o Conde de Foix se apresentaram diante do Rei Pedro II de Aragão. Os três fizeram uma aliança e se puseram em marcha com numeroso exército.
Entrando nos domínios do Conde de Montfort, eles se depararam com a cidade de Muret, e armaram as suas tendas em volta dela, pois sabiam que Simon viria em contra-ataque.
De fato, Simon de Montfort estava a caminho.
Apesar de contar com somente 1700 homens, ele avançava com ardor, pois lutava por Nossa Senhora. Junto dele se encontrava São Domingos, o qual não cessava de animar a todos, recomendando rezassem o Rosário e lhe pedissem a vitória.[1]
O exército católico parou em Belpech, pois antes de batalhar Simon de Montfort desejava rezar. Entrando numa Igreja, ele se dirigiu a Deus nestes termos:
“Ó Bom Senhor, ó Jesus, Vós me escolhestes, se bem que eu seja indigno, para conduzir a vossa guerra. Neste dia eu ofereço as minhas armas sobre o vosso altar, a fim de que, combatendo por Vós, receba por isso a justiça desta causa”.[2]
Terminando a sua prece, todos continuaram em marcha até chegaram a Muret, ao cair da tarde.
Durante a noite, todos católicos se dedicaram à oração. Nenhum dos presentes fez outra coisa senão implorar o auxílio celeste da Rainha do Rosário, pois cada um sabia que esta batalha só poderia ser ganha por uma intervenção de Deus.
No dia seguinte, 12 de setembro, os fiéis se armaram para a luta. Deixando discretamente a cidade, eles caíram sobre os coligados infiéis num momento de total surpresa, quando foram postos em inteira desordem.
Incapazes de resistir ao ataque, começaram a ceder e a fugir. Nesse ínterim, foi morto o Rei de Aragão, quando o desespero dos soldados foi completo.
Então, os católicos avançaram e os puseram em fuga. A vitória seria, outra vez mais, dos filhos da Santíssima Virgem.
Amparados, pois, em arma tão eficaz, digna de alcançar a vitória nas mais insólitas, difíceis e complicadas circunstâncias, por que não nos voltarmos mais uma vez a essa Rainha dos Céus que atendeu tão maravilhosamente a seus filhos oito séculos atrás, pedindo a vitória em dias tão confusos quanto os nossos?
Por Jerome Sequeira Vaz
[1] Cf. GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário. Trad. Robson Carvalho. Campinas: Ecclesiae. 2016, p. 101.
[2] PALADILHE, Dominique. Les Grandes Heures Cathares. Évreux: Librairie Academique Perrin. 1969. p. 149. (Tradução pessoal).
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