“Miopia de espírito”
Seus horizontes intelectuais abarcam pouco mais do que a realidade concreta. Dir-se-ia ter perdido a capacidade de ver os fatos em três dimensões, passando a observar tudo apenas num plano só: o dos seus pequenos interesses pessoais e imediatos, sem a profundidade do que é eterno.
Redação (08/08/2021 15:31, Gaudium Press) Diz o ditado popular que o pior cego é aquele que não quer ver. A deficiência visual “do espírito” é, de fato, um mal muito sério e, infelizmente, muito comum. Por exemplo: o que dizer de alguém que, diante de um belo panorama ou um grande monumento, põe sua atenção em detalhes defeituosos da cena e não é capaz de atentar à beleza da coisa? Melhor seria estar ao lado de um cego de corpo a estar com um “cego de espírito”, que despreza o que merece admiração.
Essa situação se verifica no Evangelho de hoje.
Naquele tempo, os judeus começaram a murmurar a respeito de Jesus, porque havia dito: “Eu sou o pão que desceu do Céu”. Eles comentavam: “Não é este Jesus, o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como então pode dizer que desceu do Céu? (Jo 6, 41-42)
O povo acabava de presenciar o milagre da multiplicação dos pães, mas ainda assim não era capaz de acreditar no poder de Jesus, em sua divindade; não era capaz de crer nas palavras daquele que operara há pouco o inacreditável. E por quê? Pois eram pessoas dominadas por uma concepção materialista da vida, incapazes de ver “dois palmos à frente” quando o assunto era sobrenatural.
“O materialista está voltado, sobretudo, para a fruição sensível da vida. Seus horizontes intelectuais abarcam pouco mais do que a realidade concreta. Dir-se-ia ter perdido a capacidade de ver os fatos em três dimensões, passando a observar tudo apenas num plano só: o dos seus pequenos interesses pessoais e imediatos, sem a profundidade do que é eterno. Por isso, não é capaz de captar as realidades mais elevadas, de ordem sobrenatural. O materialista é um míope do espírito. Torna-se incapaz de elevar o olhar para os grandes horizontes da Fé que Deus lhe oferece em sua misericórdia.
“Era desta visualização materialista que nascia a impossibilidade de aceitar o maior dom de Deus à humanidade: a Eucaristia”[1]
***
Enquanto os acontecimentos mundiais denotam uma assustadora instabilidade e a situação na Igreja faz imprevisível o futuro, há muita gente que continua a enxergar somente os próprios interesses materiais. Será que estes abrirão os olhos somente quando forem chamados para prestar contas diante de Deus?
Por Afonso Costa
[1] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O Inédito sobre os Evangelhos. São Paulo: Lumen Sapientiae; Città del Vaticano: L.E.V., 2014, v. IV, p. 282.
Deixe seu comentário