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Transfiguração: anúncio da realidade futura

No dia 6 de agosto, a Igreja celebra a Festa da Transfiguração do Senhor. Jesus manifestou sua glória aos Apóstolos Pedro, Tiago e João no Monte Tabor. “Virá uma gloriosa vitória, que superará em muito a terrível derrota da Cruz!”

Transfiguracao Tabor

Redação (06/08/2024 09:00, Gaudium Press) No episódio da Transfiguração, um detalhe chama a atenção: Jesus levou apenas três a um lugar à parte. Por que terá Ele procedido dessa forma?

Podia ter conduzido para o Monte Tabor os Doze, os discípulos e as Santas Mulheres, fazendo deles também testemunhas do fato.

A seguir poderia explicar-lhes a razão da Transfiguração, tornando evidente e irretorquível sua condição divina.

Entretanto, separou só aqueles.

Ele nos revela, com isto, seu amor ao princípio de mediação. Muitas vezes Deus dá graças só a uns poucos, com o intuito de que estes depois transmitam aos outros tais experiências sobrenaturais.

Assim a Providência indica como, para não vacilar na própria fé, é preciso confiar na de outrem ou fortalecer-se com o exemplo de quem a tem mais vigorosa.

O que aconteceu no Tabor?

Ali o Salvador quis dar uma ideia da nossa felicidade quando entrarmos no Céu em corpo e alma.

Transfiguração é um termo criado pela Igreja para exprimir o que se passou naquele episódio, como também o que nos acontecerá ao ressuscitar.

O corpo terá certos hábitos e qualidades, em consequência da glória da alma, e esta, com o lumen gloriæ, verá a Deus como Ele é.

 “Perante testemunhas escolhidas, Jesus manifestou sua glória e fez resplandecer seu Corpo, igual ao nosso, para que os discípulos não se escandalizassem da Cruz. Desse modo, como Cabeça da Igreja, manifestou o esplendor que refulgiria em todos os cristãos”.

Isso explica como, de fato, Cristo não assumiu o corpo glorioso nessa ocasião, mas apenas fez ver uma de suas características, a claridade.

Segundo afirma ainda São Tomás, Ele operou o milagre da Transfiguração e desvelou sua glória continuando com um corpo padecente igual ao nosso. Quando vier no fim dos tempos, essa glória será maior do que a do Monte Tabor, onde apareceu somente uma pálida imagem do esplendor futuro.

A Transfiguracao

O convívio com os Bem-aventurados

Além de mostrar um reflexo da felicidade eterna, Deus também quis que tivessem uma noção de um aspecto acidental dessa mesma felicidade: o convívio com os Bem-aventurados.

A presença de Moisés e Elias representando a Lei e os profetas era, por um lado, a garantia de que ali estava a plena realização da Lei, a Lei em pessoa, o Profetizado, o Prometido das Nações.

Por outro lado, prenunciava como seria, no Céu, o perpétuo relacionamento com todos os Anjos e Santos, tão íntimo, caloroso, cheio de fogo e de entusiasmo, e sem o desgaste da repetição de coisas já conhecidas.

Sendo Deus infinito, sempre haverá novas facetas divinas a serem contempladas individualmente e comentadas com todos para nos cumular de alegria e amor, estabelecendo-se um magnífico colóquio eterno no qual nunca haverá o inconveniente dos temas que envelhecem e se tornam desprovidos de interesse. Cada alma terá uma visão única e exclusiva de Deus, a partir de uma perspectiva ou ângulo que ninguém mais tem.

Nunca podemos esquecer a luta e a dor, mesmo no auge da consolação ou da glória

Nosso Senhor carrega a cruz a caminho do CalvarioÀs muitas interpretações sobre esta manifestação do Pai, podemos acrescentar um aspecto, por vezes esquecido: neste vale de lágrimas a dor está sempre presente. Em meio ao fulgor da Transfiguração, era preciso estar atento às palavras do Filho de Deus, ou seja, sair dali e voltar a escutar o que Ele ainda tinha a dizer, o anúncio da Paixão, e depois as lutas, as perseguições que a Igreja teria de vencer.

A vida de todos os dias não é no Tabor, mas na planície, expulsando demônios, discutindo com fariseus, num constante esforço para dilatar o Reino de Deus.

O panorama futuro é a Ressurreição, como lhes foi desvendado no Tabor. No entanto, deviam estar dispostos, para chegar lá, a passar pelo Pretório de Pilatos, pelo Calvário e por todas as humilhações.

O objetivo do Divino Mestre na Transfiguração era fazer com que seus três eleitos guardassem a recordação daquela cena imponente, sobretudo das graças místicas recebidas, como um flash da glória, proveniente de sua divindade e de sua Alma, refletida em seu Corpo, a fim de terem mais facilidade para atravessar o grande drama da Paixão que estava por vir.

E qual o efeito da Transfiguração sobre nós?

Já acreditamos na Ressurreição do Senhor, a Paixão não nos perturba — pelo contrário, é um consolo em nossos sofrimentos — e a Igreja nos proporciona a doutrina exata sobre o Reino de Deus. O que pode acrescentar ela à nossa fé?

Da mesma forma que Nosso Senhor favoreceu três Apóstolos com a experiência da Transfiguração, também em nossa vida espiritual são frequentes as consolações sobrenaturais e as diversas graças místicas e sensíveis que nos fortalecem, qualquer que seja a via que trilhemos rumo à santidade.

Ter ideia, portanto, do prêmio último, do gozo decorrente da ressurreição, dá alento para enfrentarmos as dificuldades da vida, quer sejam elas de ordem financeira ou de negócios, quer sejam de relacionamento ou de compreensão, ou de qualquer outra classe, as quais muitas vezes provêm da ilusão de encontrar o bem supremo nas criaturas e não no Absoluto.

Percorramos com confiança o caminho que ainda nos separa da bem-aventurança celestial, a fim de vermos satisfeitos nossos anseios de felicidade na plenitude do Bem que só existe em Deus.

Por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 183, agosto 2018.

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