São Cirilo de Alexandria e o dogma da Maternidade divina de Nossa Senhora
Segundo a Tradição, São Cirilo compôs a segunda parte da Ave-Maria: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.”
Redação (04/08/2021 09:40, Gaudium Press) No século V, houve inúmeras controvérsias a respeito da Pessoa e das naturezas de Nosso Senhor Jesus Cristo. O centro de todas as discussões era, no fundo, a Maternidade divina de Maria Santíssima, e o grande batalhador que defendeu com intrepidez esse dogma foi São Cirilo de Alexandria.
Episódios ocorridos na Basílica de Santa Sofia
Procedia ele de uma honorável família de Alexandria. Não se tem notícias a respeito de sua juventude, mas pela cultura que demonstrou em seus sermões e escritos percebe-se que recebeu excelente educação.
Em 412, tornou-se Patriarca dessa cidade onde brilhara de modo esplendoroso Santo Atanásio, que desferira terríveis golpes contra a heresia ariana.
Algum tempo depois, o monge Nestório assumiu o patriarcado de Constantinopla, que era a capital do Império do Oriente.
Certo dia do ano 429, na Basílica de Santa Sofia completamente lotada, realizou-se uma solenidade presidida por Nestório, durante a qual o Bispo São Proclo fez a homilia. Com ufania, o Santo declarou que em Jesus Cristo há duas naturezas – a divina e a humana –, as quais se uniram numa só Pessoa divina; portanto, a Virgem Maria é Mãe de Deus. Os fieis o aplaudiram com entusiasmo. Mas ao final da cerimônia Nestório tomou a palavra e, de modo enganoso, fez restrições às afirmações de São Proclo.
No domingo seguinte, na mesma Basílica, o Bispo Doroteu declarou: “Se alguém chamar Maria de Mãe de Deus, seja anátema!” Ouvindo isso, os fiéis se puseram a gritar contra Doroteu por ter dito tal blasfêmia.
Representante do Papa no Concílio de Éfeso
Tomando conhecimento dos desvios doutrinários propugnados por Nestório, São Cirilo escreveu-lhe uma carta – que é um autêntico tratado –, na qual proclamava a verdade e refutava seus erros. Redigiu também um memorial ao Imperador Teodósio II, que se deixara embair por Nestório.
Tal era a petulância de Nestório que, em 430, ele chegou a enviar ao Papa São Celestino I os textos de seus sermões contra a Maternidade divina de Nossa Senhora. Ao tomar conhecimento disso, São Cirilo escreveu ao Pontífice uma carta na qual sintetizou os erros de Nestório. Em sua missiva, declarou o Santo: “Tenho a dor de vos anunciar que satã se insurge contra a Igreja de Deus.”
Diversos padres e bispos se tornaram partidários do nestorianismo, arrastando também ponderáveis parcelas do povo. Porém muitas pessoas quiseram ficar numa posição intermediária, de terceira força.
Então, o Imperador Teodósio II convocou um Concílio a ser realizado em Éfeso, no ano de 431. Nessa cidade, onde Nossa Senhora viveu diversos anos com São João Evangelista, e ali ocorreu sua gloriosa Assunção, o Criador quis glorificá-La com a proclamação do dogma: Maria é Mãe de Deus.
Não podendo ir a Éfeso, devido à enorme distância entre Roma e essa cidade, o Papa São Celestino designou São Cirilo como seu representante, o qual para lá viajou acompanhado por 50 bispos egípcios.
Nestório morreu com a língua corroída por vermes
O Concílio, presidido por São Cirilo, ao qual o ímpio Nestório recusou-se a comparecer, declarou que ele estava deposto do episcopado, do sacerdócio, da comunhão católica, ou seja, excomungado.
Na noite em que se encerrou a grande assembleia, o povo aplaudiu os bispos que dela participaram e os acompanhou com tochas até os locais de suas hospedagens; em muitas casas diante das quais passavam eram queimados vegetais perfumosos.
Teodósio II exilou Nestório, que foi conduzido a um mosteiro da cidade de Antioquia, cujo bispo era seu partidário; algum tempo depois, levaram-no para uma longínqua cidade da Arábia.
Como ele continuava a pregar sua nefanda doutrina para as populações, resolveram transportá-lo para um oásis no deserto da Líbia. Devido a uma invasão de bárbaros, ele fugiu desse local e no trajeto teve um ferimento que gangrenou. Com a língua corroída por vermes, ele morreu. Era o ano de 439.
Segundo a Tradição, São Cirilo compôs a segunda parte da Ave-Maria: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.”
Em 444, após ter dirigido sapiencialmente a diocese de Alexandria durante 32 anos, faleceu São Cirilo.
Os que mais atrapalham a Causa católica
Durante a batalha doutrinária de São Cirilo de Alexandria contra Nestório, houve pessoas que pretenderam ficar numa posição de terceira força, ou seja, diziam não serem favoráveis ao Santo nem ao heresiarca.
Sobre essa questão, comentou Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Há uma raça de almas que correspondem àquilo que está dito na Escritura: ‘Se fosses frio ou quente, Eu te aceitaria; mas como és morno, começo a vomitar-te de minha boca’ (cf. Ap 3, 15-16).
“Isto é, se tu aceitasses a verdade, Eu te aceitaria; se tu aceitasses o erro e te arrependesses, Eu te perdoaria. Mas como és daquela espécie de gente morna, que não está nem do lado da verdade, nem do lado do erro, tu Me causas a náusea que a água morna provoca. […]
“São eles os que mais atrapalham a Causa católica. Porque sempre se aproximam dos outros dizendo para não seguirem os defensores da verdade, porque eles, mornos, são católicos também, mas não tão exagerados quanto os outros.
“É por causa disso que as fileiras dos verdadeiros seguidores da Causa católica contam muito menos adeptos do que deveriam contar. O melhor dispositivo de proteção do erro não está entre aqueles que o professam, mas entre os que dizem professar a verdade, porém nas táticas protegem o erro; são verdadeiramente a quinta-coluna que sempre existiu nesse tipo de luta. […]
“Devemos ser perfeitos como nosso Pai Celeste, e se é legítima aquela jaculatória ‘Sagrado Coração de Jesus, tornai meu coração semelhante ao vosso’, então precisamos também ter náusea daqueles de quem o Pai Celeste tem náusea. E se queremos ser como o Coração de Jesus, devemos ter horror àqueles de quem Ele tem horror.
“Aí está o pedido que devemos fazer a Nossa Senhora: compreender de modo vivo o horror dessa posição e ter contra ela toda a execração infinita que Deus possui em relação a esse tipo de gente. Uma execração que vai até o último limite: é o nojo, o asco, o desprezo. Essa posição intermediária atrai mais a cólera divina do que a definida posição contrária.”
Por Paulo Francisco Martos
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