Santo Efrém
No Século IV, o Cristianismo emerge das catacumbas e Santos ilustres marcam a História, dentre eles Santo Efrém, o Sírio, diácono e Doutor da Igreja. A Igreja celebra sua memória no dia 8 de junho.
Redação (08/06/2024 07:32, Gaudium Press) Poucos dados seguros temos acerca de sua infância. De acordo com alguns dos seus biógrafos, sua mãe era cristã, mas o pai, sacerdote pagão, proibiu-lhe educar o filho segundo as Leis do Evangelho. Não conseguindo ele, porém, evitar que florescesse na alma do menino uma profunda inclinação para o Cristianismo, expulsou-o de casa.
Discípulo de um Bispo e Santo
Efrém acorreu então ao Bispo, São Tiago, que o acolheu como a um filho: deu-lhe profunda formação catequética e ministrou-lhe o santo Batismo. Notando, com alegria, quanto o rapaz se sobressaía por sua inteligência e sabedoria, concedeu-lhe, aos 18 anos, a ordenação diaconal.
Pouco depois, entre maio e junho de 325, teve lugar o I Concílio de Niceia, marco histórico na luta contra as insidiosas doutrinas de Ário. Sabe-se que São Tiago participou dele e se crê que o jovem diácono também compareceu como secretário do santo Bispo.
Encerrada a assembleia, Efrém passou a dar aulas na escola teológica aberta em Nísibe, como meio de combater as heresias que proliferavam por aquelas ruas e praças.
Dedicou-se então de alma e corpo a esta tarefa e, em pouco tempo, conseguiu elevar a um alto grau o nível de formação de seus alunos. Com grande perspicácia e sabedoria, travou uma batalha sem tréguas na defesa da verdadeira Fé, cujo resultado não se fez esperar: muitas almas retornaram ao caminho da salvação.
Os três assédios de Nísibe
Enquanto crescia a fama de santidade de Efrém, bem como a admiração dos seus concidadãos, Sapor II, rei persa e inimigo da Cruz de Cristo, ansiava por conquistar a cidade das mãos dos romanos. Por três vezes tentou assediá-la e nas três vezes foi repelido pelos cristãos.
Conta-se que, durante um desses assédios, a população viu o diácono Efrém subir nas muralhas da cidade e traçar com determinação um grande sinal da Cruz, com o qual amaldiçoava as tropas do rei invasor.
Em seguida, como que guiadas por uma mão invisível, nuvens de moscas e outros insetos se abateram sobre o exército inimigo. Entraram eles nas trombas dos elefantes, nas orelhas e narinas dos cavalos de guerra e bestas de carga, e provocaram um alvoroço tal que determinou a retirada das tropas.
Entretanto, o que os arrogantes esforços militares dos persas não conseguiram obter, foi-lhes entregue sem esforço, alguns anos mais tarde, pelo imperador Joviano, como parte do preço de um tratado de paz…
Forçados a escolher entre o exílio, a escravidão ou a morte nas mãos dos pagãos, os cristãos viram-se obrigados a retirar-se de sua terra.
Teologia e poesia se encontram
Efrém partiu em direção a Edessa e ali se instalou em uma gruta aberta num alcantilado dos arredores, decidido a dedicar-se por inteiro à contemplação e ascese.
Neste privilegiado local escreveu a maior parte de suas obras, todas elas revestidas de grande riqueza teológica e adornadas por uma peculiaridade: a poesia.
Não tardaram os eclesiásticos de Edessa a notar a sabedoria e santidade incomuns daquele ermitão e logo o convidaram a estruturar a incipiente escola teológica da cidade. Vendo a devastação causada em seus habitantes, pelas seitas heréticas que nela abundavam, o santo asceta aceitou.
Iniciou-se assim uma nova etapa de seu apostolado. Em pouco tempo reuniu em torno de si numerosos discípulos, aos quais se empenhava em dar sólida formação.
Citarista do Espírito Santo e bardo de Maria
Não foi fácil a luta do santo diácono contra as heresias, e poucos foram os resultados iniciais. Prosseguiu ele, todavia, sem perder o ânimo e, inspirado pelo Espírito Santo, encontrou um meio eficaz para propagar a boa doutrina na disputa contra os hereges: através da liturgia.
Cheio de eloquência, sabedoria e santidade, compôs ele poesias e canções, pervadidas de beleza, de riqueza doutrinária e de unção sobrenatural, para serem cantadas nas assembleias.
Reuniu para isso um grupo de virgens cristãs, favorecidas com especiais dotes musicais, e ensinou-lhes a declamar os poemas e cantar os hinos por ele compostos. Em breve tempo, estas poesias e canções ressoavam melodiosamente por toda a cidade.
Deste modo, difundiu-se por todos os rincões de Edessa o perfume dos ensinamentos evangélicos. Seus versos — apesar de simples e acessíveis ao povo, feitos para serem cantados no meio de todo mundo — tinham tanto encanto, formosura e densidade de doutrina, que Santo Efrém passou para a História da Igreja como a cítara do Espírito Santo.
Estes magníficos dons poéticos e musicais se direcionavam muitas vezes para uma luminosa Estrela que brilhava com especial fulgor na mente e no coração de Efrém: Maria Santíssima.
Nutria por Ela uma devoção profunda e terna, que o acompanhou a cada passo. Em louvor à Virgem Mãe compôs um incontável número de orações e de melodias, as quais proclamavam, já naqueles remotos tempos, glórias e privilégios de Maria que o Magistério infalível da Igreja haveria de definir mais tarde.
O encontro de dois grandes Santos
A par de Santo Efrém, brilhavam por este tempo três outros grandes astros da História da Igreja, denominados Padres Capadócios: São Basílio Magno, São Gregório de Nissa e São Gregório Nazianzeno. Três Bispos que, tal como o diácono de Edessa, dedicaram a vida para defender dos erros das heresias o rebanho posto sob sua guarda.
Ecos da fama de santidade de um deles, São Basílio, chegaram a Efrém, o qual empreendeu uma longa viagem a Cesareia da Capadócia para conhecê-lo pessoalmente.
E o santo Bispo, por sua vez, ficou tomado de entusiasmo ao ver a fulgurante santidade de seu visitante. Deste encontro surgiu uma estreita amizade que uniu para sempre os dois varões de Deus.
Por várias vezes quis Basílio conferir ao diácono a ordenação sacerdotal, inclusive elevá-lo à dignidade episcopal, mas sem êxito algum, pois este se considerava indigno de tão alto ministério.
Um esplendor que se irradiou pelo mundo
Por volta do ano 378, enviou Deus a Efrém uma derradeira prova, destinada a coroar de modo magnífico sua existência de incansável luta em favor da Santa Igreja.
Edessa foi assolada por uma terrível peste, que levou à eternidade muitos de seus habitantes e deixou numerosos outros prostrados no leito de dor.
Tais circunstâncias abriram para o santo diácono um novo campo de batalha, no qual se consagraria de maneira generosa a Cristo: a assistência aos enfermos.
Ele, que até então muito fizera pelas almas, passou a ocupar-se também dos corpos. Entregou-se com admirável empenho à rude labuta de socorrer aqueles infelizes.
Atendia-os nas necessidades, animava-os nos sofrimentos, confortava-os nas angústias. Infatigável em tão caritativo labor, sentiu em si, certa manhã, os sintomas da peste. Era, em seu interior, a voz de Nosso Senhor Jesus Cristo chamando-o para receber no Céu o “prêmio demasiadamente grande” (Gn 15, 1).
Transidos de dor, seus discípulos o assistiram durante a enfermidade. Já nos umbrais da morte, o santo mestre dá-lhes ainda uma última lição.
Pede ele que, em vez de honras funerárias, seja-lhe oferecido algo muito mais valioso: as santas orações, o suave aroma do incenso espiritual que se eleva a Deus em favor de sua alma, o maior bem que se pode fazer a quem se apresenta ante o juízo divino.
Assim coroou Efrém uma vida marcada pela entrega completa em favor da verdadeira doutrina, da salvação das almas, enfim, da glorificação da Santa Igreja Católica.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.162, junho 2015.
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