Só Deus satisfaz a sede de absoluto: não bastam as coisas mundanas
Para celebrarmos a Eucaristia, é preciso primeiramente reconhecer a nossa própria sede de Deus. O drama atual é que muitas vezes se exauriu a sede do absoluto, a sede de Deus.
Cidade do Vaticano (07/06/2021, 15:15, Gaudium Press) Na tarde de domingo (06/06) o Papa Francisco presidiu a Eucaristia na Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, na Basílica de São Pedro.
O Papa recordou em sua homilia um trecho do Evangelho:
“Jesus manda aos seus discípulos que vão preparar o lugar para celebrar a ceia pascal. Foram eles que perguntaram: Mestre, ‘onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa? ’”
Em seguida, o Papa disse que ao contemplarmos e adorarmos Jesus, Pão Eucarístico, nós também somos chamados a nos perguntarmos a nós mesmos:
Em que “lugar” queremos preparar a Páscoa do Senhor? Quais são os “lugares” da nossa vida onde Deus nos pede para o hospedarmos?”.
E Francisco mesmo respondeu essas perguntas, usando três imagens do Evangelho.
Nossa Sede só é satisfeita em Deus, não bastam as coisas mundanas
E ele remeteu seus ouvintes para a imagem do homem que traz um cântaro de água.
Aquele homem, disse, “completamente anônimo, serve de guia para os discípulos à procura do lugar que depois receberá o nome de Cenáculo”.
O Papa, então, interpretou essa cena:
“O cântaro de água é o sinal de reconhecimento: um sinal que faz pensar na humanidade sedenta, sempre à procura duma fonte de água que lhe mitigue a sede e a restaure”.
“Todos nós caminhamos na vida com um cântaro na mão: temos sede de amor, de alegria, duma vida bem-sucedida num mundo mais humano. E, para esta sede, não basta a água das coisas mundanas, pois trata-se duma sede mais profunda que só Deus pode satisfazer”, disse o Pontífice para continuar em seguida:
“Para celebrarmos a Eucaristia, é preciso primeiramente reconhecer a nossa própria sede de Deus. O drama atual é que muitas vezes se exauriu a sede”.
“Apagaram-se as perguntas sobre Deus, afrouxou o anseio por Ele. Deus deixou de atrair, porque já não nos damos conta da nossa sede profunda”.
“É a sede de Deus que nos leva ao altar. Se faltar a sede, as nossas celebrações tornam-se áridas. Deste modo, também como Igreja, não nos podemos contentar com o grupinho daqueles que habitualmente se reúnem para celebrar a Eucaristia; devemos ir pela cidade, encontrar as pessoas, aprender a reconhecer e despertar a sede de Deus e o anseio do Evangelho”, disse o Pontífice.
Ter um coração grande para poder reconhecer, adorar Jesus sacramentado
A segunda imagem usada por Francisco é a da grande sala no andar de cima, como narra o Evangelho. É lá que Jesus e os seus farão a ceia pascal e esta sala encontra-se na casa da pessoa que os hospeda.
“Uma sala grande para um pequeno bocado de pão. Deus faz-se pequeno como um bocado de pão e, por isso mesmo, é preciso um coração grande para poder reconhece-Lo, adorar e acolher. “
“A presença de Deus é tão humilde, escondida, por vezes invisível, que precisa dum coração preparado, desperto e acolhedor para ser reconhecida. Se em vez duma grande sala, o nosso coração se assemelhar a um reposteiro onde conservamos tristemente as coisas velhas; se ele se assemelhar a um sótão para onde já há muito mandamos o nosso entusiasmo e os nossos sonhos; se ele se assemelhar a um quarto acanhado e escuro, porque vivemos apenas de nós mesmos, dos nossos problemas e amarguras, então será impossível reconhecer esta presença silenciosa e humilde de Deus”, comentou o Pontífice para ainda acrescentar:
“Serve uma sala grande. É preciso alargar o coração. Precisamos sair do pequeno quarto do nosso eu e entrar no grande espaço do encanto e da adoração. Este é o’ procedimento diante da Eucaristia, disto precisamos: a adoração”.
”A própria Igreja deve ser uma sala grande. Não um círculo restrito e fechado, mas uma Comunidade com os braços abertos, acolhedora para com todos”.
Partir o pão: o Senhor se oferece, nos faz renascer para uma vida nova
O Senhor reparte o Pão. Para Francisco, este “É o gesto eucarístico por excelência, o gesto identificador da nossa fé, o lugar do nosso encontro com o Senhor que se oferece a fim de nos fazer renascer para uma vida nova. ”
“Este gesto é desconcertante: até então imolavam-se cordeiros para se oferecer em sacrifício a Deus, agora é Jesus que se faz cordeiro e se imola para nos dar a vida. Na Eucaristia, contemplamos e adoramos o Deus do amor.
É o Senhor que não fraciona ninguém, mas fraciona-se a si mesmo. É o Senhor que não exige sacrifícios, mas sacrifica-se a si mesmo. É o Senhor que não pede nada, mas dá tudo”.
Para finalizar, o Papa aconselhou:
“A procissão com o Santíssimo Sacramento, caraterística da festa do Corpo de Deus, (…) nos lembra que somos chamados a sair levando Jesus.
Sair com entusiasmo, levando Cristo àqueles que encontramos na vida quotidiana. Tornemo-nos uma Igreja com o cântaro na mão, que desperta a sede e leva a água. ”
“Abramos amorosamente o coração, para sermos a sala espaçosa e acolhedora onde todos possam entrar para encontrar o Senhor. Repartamos a nossa vida na compaixão e na solidariedade, para que o mundo veja, através de nós, a grandeza do amor de Deus”, concluiu o Papa. (JSG)
(Com informações e Foto Vatican media)
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