Profunda e radical mudança de vida
O contato direto com a natureza angélica e com a própria Rainha dos Anjos desfez o véu que separava os pastorinhos de Fátima das realidades eternas e operou neles uma completa mudança de mentalidade.
Redação (20/04/2021 16:41, Gaudium Press) A ascensão ao cume da santidade é uma obra da graça que exige das almas a contínua disposição para se desapegarem de si mesmas e serem transformadas por Deus.
Nas vias clássicas de espiritualidade, isto implica enormes batalhas interiores que se estendem, não raras vezes, ao longo da vida.
Com os pastorinhos de Fátima o método foi outro: Nossa Senhora transformou-os pela comunicação de seu espírito. Realizou-se neles de alguma forma aquilo que São Luís Grignion de Montfort chama de Segredo de Maria, pois, graças à ação direta da Santíssima Virgem, foram se tornando mais propensos à prática do bem, livres de seus defeitos e modelados em tudo pelas virtudes d’Ela.
Ao conhecer a Rainha dos Céus, Francisco passa a viver em outro patamar: seus afetos são todos para Ela e seu Divino Filho, seu pensamento voa a cada instante para o sacrário onde está Jesus escondido, como ele se referia ao Santíssimo Sacramento, e suas ações nascem do contínuo e entranhado relacionamento interior com o Imaculado Coração de Maria.
Como ser o mesmo e voltar aos antigos divertimentos depois de sentir sobre si o dulcíssimo olhar da Senhora do Rosário?
Por isso, ao entoar as primeiras estrofes de uma das canções que antes o empolgavam, ele decide: “Não cantemos mais. Desde que vimos o Anjo e Nossa Senhora, já não me apetece cantar”.
As esporádicas inobservâncias domésticas ou as preguiças de Francisco deixam de existir; elas cedem lugar a um espírito penitente e contemplativo, ávido por consolar Jesus e colaborar com o oferecimento de sua vida para a magnífica vitória da Santa Igreja nos acontecimentos que lhe foram revelados.
Correspondência generosa ao apelo celeste
Na primeira aparição, quando Lúcia perguntou se Francisco ia para o Céu, Nossa Senhora respondeu: “Também, mas tem que rezar muitos Terços”.
A advertência era uma evidente alusão ao modo abreviado com que o menino costumava recitá-los para terminar rápido. E esta foi recebida por ele com as melhores disposições:
“Ó minha Nossa Senhora, Terços, rezo todos quantos Vós quiserdes”. A partir daí Francisco redobrou o número de Rosários, rezando muitos com as meninas e outros tantos sozinho.
Conta a Ir. Lúcia que “se lhe dizia que viesse brincar, que depois rezava conosco, respondia:
“— Depois também rezo. Não te lembras que Nossa Senhora disse que tinha de rezar muitos Terços?”
Este espírito de oração fervorosa distinguiu o pastorinho até o fim, como sua arma mais eficaz para levar adiante a missão recebida do Céu.
Ao lado dela estava a dos sacrifícios, em cujo cumprimento foi igualmente generoso: “Nossa Senhora disse que íamos a ter muito que sofrer! Não me importo; sofro tudo quanto Ela quiser! O que eu quero é ir para o Céu”.
Início do triunfo do Imaculado Coração nas almas
Em fins de outubro de 1918, Francisco e Jacinta adoeceram gravemente para não mais se recuperarem. Uma forte febre os consumia.
No princípio dava esperança de cura, não tardando em mostrar-se irreversível. A celestial Senhora visitou a casa da família Marto para confortá-los, como contou Jacinta à prima Lúcia:
“Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu”.
Desde então, os dois irmãos aguardavam com ardente amor o dia jubiloso de partirem para a eternidade.
No dia 3 de abril de 1919, um sacerdote veio trazendo de Fátima o Viático para Francisco, que há meses O pedia com fervor. Aquela foi a sua segunda Comunhão, precedida pela que recebera das mãos angélicas. O anseio veemente de comungar consistiu, durante o período da doença, o único estímulo que o animava a viver e, quando pôde por fim receber a Eucaristia, confessou à Jacinta:
“Hoje sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito a Jesus escondido. Eu vou para o Céu; mas lá vou pedir muito a Nosso Senhor e a Nossa Senhora que vos levem também para lá depressa”.
Na manhã do dia seguinte, sem agonia nem estertores, com a serenidade de quem entra no suave descanso dos justos, Francisco Marto expirou santamente em Aljustrel. Acompanharam o cortejo fúnebre do pastorinho apenas alguns conhecidos, recitando o Terço em singela homenagem até o cemitério da freguesia de Fátima.
Quem poderia imaginar à época as futuras peregrinações multitudinárias ao túmulo do confidente de Maria para pedir sua intercessão? Maria Santíssima não é Senhora de obras inacabadas!
E a vida de Francisco abre para nós a mais alentadora das esperanças: “Se a obra de Nossa Senhora em Fátima – especialmente com essas duas crianças chamadas para o Céu – foi assim, nós podemos bem nos perguntar se isto não tem um valor simbólico, e se não indica qual vai ser a ação de Nossa Senhora sobre toda a humanidade quando Ela cumprir as promessas feitas em Fátima”.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 184, abril 2017.
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