Santo Ambrósio increpa o Imperador
Fazendo comentários sobre os Salmos, seu secretário conto que, em certo momento o rosto de Santo Ambrósio resplandeceu como a neve, uma chama celeste saiu de seus lábios, difundiu-se por sua face e coroou sua cabeça com uma auréola.
Redação (31/03/2021, 17:35, Gaudium Press) A Imperatriz Justina, ariana contumaz, tinha perseguido ferozmente Santo Ambrósio, chegando inclusive a tramar sua morte. Houve, entretanto, um imperador católico, chamado Teodósio, que o protegeu de modo especial. Mas devido a uma ação por ele praticada, o Bispo de Milão increpou-o e excomungou-o.
O imperador se prosterna diante de Santo Ambrósio
Nascido na Espanha, filho de um grande general romano possuidor de muitas propriedades rurais nesse país, Teodósio reinou de 379 a 395 e recebeu o cognome “Magno”. Além de dar todo apoio à Igreja, Teodósio perseguiu o paganismo.
No ano de 390, a população de Tessalônica, cidade da atual Grécia, revoltou-se contra as autoridades locais por estarem envolvidas – segundo se dizia – em questões de costumes infames: o governador e diversos magistrados foram mortos e seus corpos arrastados pelas ruas.
Santo Ambrósio recomendou a Teodósio que agisse com prudência diante desse fato. Mas o Imperador fez pouco caso desse conselho e mandou reunir o povo num teatro para uma apresentação. Estando o local repleto, ordenou a matança de todos os presentes: 7.000 pessoas foram mortas. Então o Santo increpou duramente o Imperador e excomungou-o.
Teodósio ficou oito meses sem comparecer à Catedral de Milão, pois Santo Ambrósio proibira expressamente sua entrada. Numa carta dirigida ao Bispo, o Imperador afirmara que Davi também pecara e fora perdoado… Ao que o Santo lhe respondeu: “Vós o imitastes no crime; imitai-o na penitência!”
Na vigília de Natal, Teodósio foi à porta da basílica a fim de implorar perdão. Além dos fiéis que lotavam o templo, havia diversos bispos que se encontravam em Milão participando de um sínodo.
Santo Ambrósio absolveu o Imperador, o qual entrou na catedral, retirou seus ricos ornamentos, prosternou-se e, entre lágrimas, pronunciou as palavras do Profeta Davi: “Nossa alma está prostrada até o pó, e colado no solo o nosso corpo. Levantai-Vos em nosso socorro e livrai-nos, pela vossa misericórdia!” (Sl 44, 26-27).
Ficou prosternado durante a primeira parte da Missa; apenas se levantou no Ofertório, apresentou seus dons e dirigiu-se para seu trono colocado entre os clérigos, como era costume. Mas Santo Ambrósio disse-lhe que deveria ficar mais abaixo, no local destinado aos leigos, ao que ele obedeceu.
Morte de Teodósio Magno
Por volta do ano 392, o usurpador Eugênio, que favorecia o paganismo, à testa de um formidável exército marchou em direção a Milão. Santo Ambrósio retirou-se para a cidade de Florença, onde operou milagres entre os quais a ressurreição de um menino.
Teodósio planejou enfrentar Eugênio, e o principal general de seu exército chamava-se Estilicão, um autêntico católico inimigo dos arianos, que se casara com uma sobrinha do Imperador. O pai de Estilicão era vândalo, mas a mãe, cidadã romana.
A fim de se preparar espiritualmente para a grande batalha, Teodósio fez uma peregrinação a Jerusalém, mas se manteve incógnito. Na Cidade Santa ele rezou, jejuou e chegou até a usar cilício como penitência.
Regressando a Constantinopla, Teodósio reuniu seu exército e encetou a marcha para enfrentar Eugênio. Ao chegarem nas proximidades de Gorizia – localidade situada entre as atuais Itália e Eslovênia –, as tropas do usurpador desferiram ataque tão violento contra Teodósio, que os chefes de seu exército lhe recomendaram a retirada…Mas o Imperador respondeu com ufania: “Não suportarei que a Cruz de Jesus Cristo recue diante do ídolo de Júpiter.”
À noite, Teodósio teve uma visão na qual São João Evangelista e o Apóstolo São Felipe, montados em cavalos brancos, lhe asseguraram a vitória. Na manhã seguinte, um importante militar de Eugênio repudiou esse traidor e passou, com suas tropas, para o campo de Teodósio. De repente, uma tempestade com ventos fortíssimos se voltou contra as tropas do usurpador, cegando os soldados e derrubando as armas de suas mãos. Eugênio é morto e o restante de seu exército foge espavorido.
Após essa vitória estrondosa, ocorrida em setembro de 394, Teodósio dirigiu-se a Milão onde Santo Ambrósio e todo o povo católico o receberam triunfalmente.
Quatro meses depois, Teodósio Magno adoeceu e entregou sua alma a Deus; tinha 50 anos de idade. Em discurso pronunciado junto a seu féretro, Santo Ambrósio afirmou: “Do Céu ele contempla os abismos do Inferno, onde Máximo e Eugênio – usurpadores – são punidos pela revolta contra seu soberano.”
O Bispo de Milão falece após receber a Eucaristia
Aproximadamente dois anos depois, Santo Ambrósio, embora doente, foi a Verceia, Norte da Itália, onde solucionou desavenças entre dois partidos que se digladiavam a propósito da sucessão do bispo da cidade, que havia falecido. Os chefes das facções se ajoelharam diante do Santo, pediram perdão e escolheram para o episcopado um verdadeiro católico.
Santo Ambrósio regressou a Milão e começou a fazer comentários a respeito dos Salmos. Seu secretário, o qual anotava suas palavras, escreveu que em certo momento o rosto de Santo Ambrósio resplandeceu como a neve, uma chama celeste saiu de seus lábios, difundiu-se por sua face e coroou sua cabeça com uma auréola.
Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu-lhe e disse: “Em breve estarás comigo.” No sábado santo de 397, Santo Ambrósio estava rezando com os braços em cruz. Foi-lhe ministrada a Sagrada Comunhão e, enquanto ele fazia a ação de graças, sua alma foi levada ao Céu.
No domingo de Páscoa conduziram à catedral, apinhada de gente, seu venerável corpo. As pessoas o osculavam, nele tocavam objetos religiosos e alguns chegaram até a cortar pedaços de suas vestes .
Entre as qualidades de alma de Santo Ambrósio, destacamos uma de grande importância sobretudo para os dias atuais.
Ele se preocupava com que os ministros da Igreja apresentassem grande dignidade externamente. Não admitia em seu clero quem não tivesse uma presença respeitosa. Assim, não permitiu que um seu amigo fosse ordenado sacerdote porque notou em seu modo de andar algo menos próprio.
Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira que Santo Ambrósio tinha profundamente razão, pois “quando uma pessoa é altamente respeitável, até no seu físico uma respeitabilidade transparece”.
Peçamos a Nossa Senhora que suscite varões ainda mais combativos que Santo Ambrósio, pois a situação na qual hoje se encontra a Igreja é muitíssimo mais grave.
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 45)
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1- Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1891, v. X, p. 593-595; 1869, v. XI, p. 22-76.
2- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIII, n. 153 (dezembro 2010), p. 13.
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