Por que Jesus escolheu morrer na cruz?
A Cruz, sinal de contradição! Por que o Redentor escolheu este tipo de morte, o mais ignominioso de todos?
Redação (27/03/2021 11:39, Gaudium Press) Ora, em virtude da união hipostática, Jesus poderia nos ter redimido com um simples ato de vontade, um movimento de mão ou até uma lágrima…
Contudo, conforme ensina São Paulo na segunda leitura (Fl 2, 6-11), Cristo “não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas Ele esvaziou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-Se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-Se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até à morte, e morte de Cruz” (Fl 2, 6-8).
É com vistas a este holocausto que Jesus veio ao mundo a fim de nos livrar da condenação eterna, abrir as portas do Céu e comprar a nossa ressurreição.
De fato, Nosso Senhor, no Horto das Oliveiras, é preso por uma tropa armada de espadas e paus, como se fosse “um bandido” (Mc 14, 48); diante do tribunal de Pilatos, a multidão, instigada pelos sumos sacerdotes, pede o indulto de um assassino, Barrabás, em detrimento da libertação d’Ele; no Pretório, os soldados O flagelam, põem em sua cabeça uma coroa de espinhos e O escarnecem; segue-se a Via-Sacra, até o momento em que, no alto da Cruz, ladeado por dois ladrões, Jesus brada com força e expira, e, naquela mesma hora, o véu do Templo se rasga.
A Cruz, sinal de contradição! Por que o Redentor escolheu este tipo de morte? Era de todos o mais ignominioso, reservado aos piores bandidos. O condenado à crucifixão era alvo do desprezo geral. A caminho do suplício, as pessoas debochavam e lhe lançavam cusparadas, e, quando os algozes o levantavam no madeiro, era costume aproximarem-se para ridicularizá-lo.
Este gesto contribuía para aumentar a vexação e, por conseguinte, avivava no povo o medo de praticar algum crime. Enfim, o que havia de mais execrável Nosso Senhor quis para Si.
A este propósito se pergunta Santo Agostinho: “Que há mais belo que Deus? Que há mais disforme que um crucificado?”
Crucificado e triunfante!
Em sua infinita sabedoria, o Verbo onipotente promoveu que a cruz fosse um símbolo de horror, rejeição e repugnância; e, depois, ao Se encarnar, abraçou-a para nos redimir e cumprir a vontade do Pai.
Desde então a Cruz tornou-se a maior honra, o maior triunfo, a maior glória; no dizer de São Leão Magno, transformou-se em cetro de poder, troféu de vitória, signo de salvação.
Ela passou a ser o cimo das torres das igrejas, o centro das condecorações, o ponto mais alto das coroas e o sinal que distingue um filho de Deus de um filho das trevas.
Quando Nosso Senhor estava já exangue na Cruz, chagado da cabeça aos pés, prestes a render seu espírito, os sinedritas zombavam d’Ele, dizendo: “A outros salvou, a Si mesmo não pode salvar! O Messias, o Rei de Israel… que desça agora da Cruz, para que vejamos e acreditemos!”
Com muita propriedade São Bernardo de Claraval comenta este trecho: “Ó língua envenenada, palavra de malícia, expressão perversa! […] Pois, que coerência há em ter de descer, se é Rei de Israel? Não é mais lógico que suba? […]
Ou por outra, por ser Rei de Israel, que não abandone o título do reino, não deponha o cetro aquele Senhor cujo império está sobre seus ombros”.
E foi o que aconteceu. Ao terceiro dia Ele ressuscitou, e no quadragésimo ascendeu ao seu Reino Celeste, onde está sentado à direita do Pai, dominando o mundo inteiro. Rei absoluto, Ele não desceu, mas subiu!
A cruz se transforma em glória na eternidade
A fim de aproveitarmos bem as graças da Semana Santa que se inicia, é necessário que nos compenetremos de que devemos acolher Nosso Senhor com determinações interiores e propósitos, e com a firme convicção de que fomos criados para servir o Homem-Deus, cada qual no seu estado de vida, seja constituindo família, seja como religioso.
Jesus me convoca a segui-Lo! Valendo-se de uma expressiva imagem, São Roberto Belarmino pondera: “Quem vê seu capitão lutar por seu amor, com tal perseverança em lide tão penosa, recebendo tantas feridas e padecendo tão grandes dores, como não se animará a combater a seu lado, a fazer guerra aos vícios e resistir até morrer? Cristo batalhou até vencer e alcançar glorioso triunfo sobre seu inimigo […].
E se Cristo pelejou com tão grande perseverança, seu exemplo deve dar sumo alento a todos os seus soldados para não se afastarem de sua cruz, e sim pugnar a seu lado até vencer”.
Eu estarei com Ele, quer na entrada triunfal em Jerusalém, aclamando-O como Rei, quer na Via-Sacra, carregando minha cruz às costas, ou sobre o Gólgota, nela pregado. Será por meio desta cruz que eu obterei a glória da ressurreição, e conviverei com Ele por todo o sempre na verdadeira Jerusalém, a Jerusalém Celeste!
Ao transpor as muralhas desta esplendorosa cidade, “tabernáculo de Deus com os homens” (Ap 21, 3), veremos os “bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (I Cor 2, 9).
Entretanto, aqueles que persistiram numa concepção mundana e desviada a respeito de Nosso Senhor, negando-se a aceitá-Lo como Ele é, terão um eterno dia de fogo, enxofre, ódio e revolta!
Peçamos a graça de compreender que é através da cruz que chegamos à luz – “Per crucem ad lucem!” – e não há outro meio de conquistar a alegria sem fim.
Que a cruz seja a companheira inseparável de cada um de nós até o momento de ingressarmos na visão beatífica, e continue junto a nós por toda a eternidade, como magnífica auréola de santidade, resplendor de glória.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.195, março 2018. Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP.
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