De “Hosana!” a “Crucifica-o!”. O que aconteceu?
Aqueles que só aprovam, mas não admiram, nunca lutarão em defesa do ideal “aprovado”. Poderão até mesmo ser capazes de levá-lo à ruína, se for necessário para defender seus interesses pessoais.
Redação (27/03/2021 10:58, Gaudium Press) Iniciamos, neste domingo, a Semana Santa, dias de seriedade e reflexão.
Dois Evangelhos são propostos para este Domingo de Ramos. Um para a procissão inicial e outro para a Missa.
O primeiro descreve a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mc 11, 1-10); o segundo, sua Paixão e morte (Mc 15, 1-39).
Curiosamente, poucos dias transcorreram entre os dois fatos narrados. A mesma multidão que aclamara calorosamente o Filho de David pediria pouco depois sua condenação: “Fora, Crucifica-o!”.
E como explicar tal incoerência?
“Não há dúvida de que, com aqueles brados, a multidão reconhecia a realeza de Jesus como autêntico descendente de Davi. Entretanto, eram aclamações baseadas numa perspectiva deformada, segundo a concepção — generalizada entre os judeus — de um Messias político que os libertaria do jugo romano e restauraria o reino de Israel, obtendo-lhe a supremacia sobre todas as outras nações. Eles associavam a vinda desse Messias, portanto, mais a uma salvação temporal do que à salvação eterna. Assim, receberam Jesus com honras, na expectativa de que Ele, afinal, tomasse conta do poder e se iniciasse para os judeus uma época diferente.
De fato, o Redentor abria uma era diferente, mas do ponto de vista sobrenatural. E eles, muito naturalistas, não percebiam isto. Em consequência, aquele contentamento que manifestavam não estava timbrado pela admiração à divindade de Cristo.”[1]
Em outras palavras, os Hosanas eram “fogo de palha”, fervor sem fundamento, aprovação por interesse próprio. “A mediocridade sempre recusa admirar, e frequentemente, aprovar” … Joseph de Maîstre tinha razão. E complementamos: aprovar de forma condicional e temporal – se e enquanto houver benefício ao meu egoísmo.
Aqueles que só aprovam, mas não admiram, nunca lutarão em defesa do ideal “aprovado”. Poderão até ser capazes de levá-lo à ruína, se necessário for para defender seus interesses pessoais.
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Jerusalém aclamou o Messias: “Bendito o que vem em nome do Senhor!”, mas depois O assassinou cruelmente, eliminando do mundo a própria salvação do mundo.
E se Ele viesse hoje, seria diferente?
Pois Nosso Redentor não deixa de falar ao mundo em seus representantes: aqueles que lhe são fiéis, indefectivelmente fiéis. Estes – como Cristo – podem até ser aclamados por grandes massas a princípio, mas sempre acabarão sendo seguidos por minorias e perseguidos por maiorias.
Deus nos livre de, desta forma, entregarmos novamente Cristo à cruz depois de aclamá-lo nosso Rei.
Por Afonso Costa
[1] CLÁ DIAS. João Scognamiglio. O Inédito sobre os Evangelhos. Città del Vaticano: L.E.V./São Paulo: Lumen Sapientiae, 2014, v.III, p. 259-260.
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