Gaudium news > Escrava do Altíssimo

Escrava do Altíssimo

Na Anunciação, Nossa Senhora ouviu a mensagem do Anjo e procurou logo o seu significado profundo. Recebida a explicação, Ela imediatamente entendeu e deu a resposta: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra”.

Fiat

Redação (25/03/2021 10:49, Gaudium Press) A conversa com o Arcanjo São Gabriel se estendeu, sem interrupção, por mais de nove horas, ao longo das quais foram concedidas graças tão excelsas a Nossa Senhora que, à maneira de um Pentecostes específico para Ela, alçaram-Na a um patamar inédito de perfeição, necessário para que Se tornasse efetivamente Esposa do Espírito Santo e Mãe do Verbo Encarnado.

Desse modo, ficaram claros para Maria os desígnios de Deus. Ela abarcou num relance tudo o que sobre o Messias Lhe haviam mostrado as profecias, o relato de São Gabriel e as luzes divinas constantemente recebidas; tudo o que aprendera no Templo e Ela mesma lera nas Escrituras; tudo o que ouvira nas conversas que A formaram na infância; tudo o que Lhe penetrara na alma ao longo da vida a propósito d’Aquele que deveria vir…

Esse Messias será seu Filho. Ela viverá suas alegrias e suas dores. Nossa Senhora contempla a Santa Igreja que seria fundada depois das dores da Paixão e da glória da Ressurreição, bem como os tempos futuros de seu reinado.

O “Fiat” de Maria Santíssima

Enquanto reflete, encantada com a sabedoria de Deus revelada nessa visão panorâmica, todo o Céu aguarda sua resposta.

Nesse momento a Redenção esperada passa pelos lábios de Maria Santíssima pois, se é verdade que Deus não está sujeito ao tempo, sua obra por este se rege.

“O destino da humanidade inteira dependia da resposta de uma donzela. O Salvador estava, por assim dizer, batendo às portas”, comenta Dr. Plinio.

Ela, porém, considerando-Se nada e não compreendendo ainda por que era chamada a tal elevação, prefere colocar-Se humildemente nas mãos do Altíssimo, numa atitude de abandono absoluto, e apenas responde: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em Mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38a).

Para gerar em Si o próprio Deus, Nossa Senhora precisava dar um consentimento divino. Por isso, seu “sim” em nada difere daquele que o Pai Celeste proferiu desde todo o sempre para a geração eterna do Filho.

Reparou o orgulho de Eva

Maria alcançava assim, em grau muito superior, aquilo que em sua falsidade a serpente prometera a Eva: “Sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3, 5). E reparava o orgulho da primeira mulher, realizando o que esta deveria ter feito diante da tentação diabólica.

Sua atitude significava o início da restauração do plano de Deus para a criação. Passando por cima do pecado original e das faltas de toda a humanidade, Ele cumpria, em Nossa Senhora, o que de mais alto aconteceria no Paraíso: a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Com essa restauração, o Criador manifestava mais sua onipotência do que se nossos pais não houvessem prevaricado.

E o Verbo Se fez carne…

Narra o Evangelista que, após Nossa Senhora ter pronunciado seu “fiat”, São Gabriel “retirou-se” (Lc 1, 38b).

Com efeito, obtido seu consentimento, havia chegado o momento de o Espírito Santo agir. O Arcanjo fez uma vênia solene e profunda diante de sua Rainha e, depois de reerguer-se para contemplá-La mais uma vez, desapareceu lentamente sem deixar de fitá-La.

Entretanto, à medida que esvanecia a seus olhos, passava a atuar em seu interior, pois a união que o Espírito Santo estabeleceria com Ela seria tão forte para uma mera criatura que, sem uma especial sustentação angélica, Maria não a suportaria.

Arrebatada por torrentes de graças, julgou que seria levada ao Céu para receber Deus em seu seio; era Ele, porém, quem desceria para habitar em seu claustro virginal.

Nesse instante, o Céu se abriu e todos os Anjos se formaram para manifestar sua veneração pelo que aconteceria. Dali partiu em direção a Nossa Senhora uma luz fulgurante como um relâmpago, que A assumiria por inteiro. Era o Espírito Santo.

Conforme Se aproximava, Maria entrava em um êxtase altíssimo, no qual o Paráclito Lhe concedia toda a plenitude humana e sobrenatural que depois Ela deveria transmitir a Nosso Senhor.

“O Espírito Santo virá sobre Ti” (Lc 1, 35), anunciara o Arcanjo para explicar-Lhe como se daria a concepção de Jesus em seu castíssimo seio. Sim, coube ao Consolador preparar uma habitação para Deus Filho: tomando a carne virginal de Maria, forma na Pessoa do Verbo um corpo humano dotado de uma alma tão bela e sublime que se constituirá no ponto máximo da criação.

É impossível conceber outra criatura acima da humanidade santíssima de Cristo, obra-prima do Paráclito, infinitamente adorável porque divina em razão da união hipostática das duas naturezas na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Convívio com a Santíssima Trindade

A Encarnação não significou uma diminuição da divindade, mas uma manifestação de sua onipotência. A geração do Filho de Deus no tempo só poderia se dar no mais alto dos Céus, onde refulge a glória divina.

Esse Céu, no entanto, encontrava-se no seio puríssimo de Nossa Senhora, tabernáculo no qual Cristo contemplaria sua própria glória. Se o Criador fez surgir a terra para nela preparar um paraíso para os homens, antes pensou na terra santa e imaculada que viria a ser o Paraíso de seu Filho: o corpo virginal de Maria, claustro no qual o Verbo Se encarnaria. Tão elevado mistério transcende em muito nossa pobre inteligência.

Não seria exagerado afirmar que, por ocasião da Anunciação, a Mãe de Jesus foi de algum modo elevada à altura do próprio Deus.

Assim se estabeleceu um convívio altíssimo, em que Maria era, a um título único e muito especial, a Filha do Pai Eterno, a Mãe do Verbo Encarnado e a Esposa do Divino Espírito Santo.

Texto extraído, com pequenas adaptações, do livro Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. Por Mons. João Sconamiglio Clá Dias, EP.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas