Nem tudo o que se diz virtude, é virtude
Não seria mais coerente àquele Homem, “que livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro” (Is, 53, 7) durante a Paixão, já abaixasse a cabeça diante dos fariseus e mestres da lei desde o início? Humilhar assim os inimigos não denotaria uma pretensa falta de humildade, um contrassenso?
Redação (21/03/2021 10:20, Gaudium Press) Durante as semanas que precederam o último Domingo Laetare, as liturgias diárias nos convidavam especialmente ao exame de consciência, à conversão e à penitência. A partir de então, uma mudança considerável se verifica no teor das leituras e evangelhos: sem deixar o aspecto penitencial – próprio da Quaresma– a Igreja permite que nossa atenção se dirija ao clima cada vez mais polêmico da luta entre Nosso Senhor e seus inimigos declarados.
Não seria, entretanto, mais coerente àquele Homem, “que livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro” (Is, 53, 7) durante a Paixão, já abaixasse a cabeça diante dos fariseus e mestres da lei desde o início? Humilhar assim os inimigos não denotaria uma pretensa falta de humildade, um contrassenso?
A pergunta seria lícita, não fosse de um Deus que se tratasse.
Na verdade, o Divino Mestre nos transmitia importantes ensinamentos: Quando se trata de honra e de Religião, não nos é lícito transigir. Permitir que se ofenda a honra pessoal – e mais ainda, a honra da Igreja – e não reagir, não é verdadeira humildade, é, antes, covardia.
“É recomendável que se cuide de preservar o próprio bom nome e de se fazer ver como bom diante de Deus e pelos homens. Mas jamais deleitar-se de maneira vã nos elogios humanos”. Quem o afirma é Santo Tomás de Aquino. (Suma Teológica, II-II, q.132, a.1.)
Ademais, Nosso Senhor evidenciará o aspecto sobrenatural da Paixão que se aproxima. Ele então será glorificado como nunca, apesar das cruéis aparências, e do alto da Cruz atrairá a si toda a Humanidade:
Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto. Eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a Mim”. Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer (Jo 12, 23-24. 32-33).
O Homem Deus conhece perfeitamente a gravidade do momento próximo. Ele sabe que sofrerá como nenhum outro homem; mas se aproxima do suplício – abraçado, aliás, voluntariamente – de cabeça erguida e com grandeza de alma.
É a virtude da Magnanimidade, manifestada no próprio autor das virtudes.
“Tal virtude supõe uma alma nobre e elevada. Costuma ser conhecida com os nomes ‘grandeza de alma’ ou ‘nobreza de caráter’. O magnânimo é um espírito seleto e superior. Não se alegra demasiadamente com os aplausos nem se entristece pelos vitupérios, ambas as coisas são medíocres.
A Magnanimidade é muito rara entre os homens pois supõe o exercício de todas as demais virtudes. Em realidade, os únicos verdadeiramente magnânimos são os santos.”[1]
É realmente lamentável que tantas pessoas tentem, a todo custo, deformar a figura majestosa de Nosso Redentor, Jesus Cristo, atribuindo a ele modos de ser, ideias e uma personalidade que não condizem com o que a Igreja Católica sempre nos ensinou; com o que a piedade cristã belamente pintou e esculpiu tradicionalmente, com o que os Santos Evangelhos diariamente nos transmitem.
Por Afonso Costa
[1] MARÍN, Antonio Royo. Teología de la Perfección Cristiana. Madrid: B.A.C., 1988, 6. ed., p. 590-591.
Deixe seu comentário