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Quem ama, corrige e castiga

A ação de Jesus com o açoite em punho expulsando os vendilhões do Templo se insere entre outras atitudes motivadas por seu zelo ardente pela santidade da casa de Deus.

Jesus expulsa vendedores

Redação (07/03/2021 10:27, Gaudium Press) Não bastaria o mero ensinamento para inculcar nas mentes a maneira digna de se portar no Templo? Ainda mais se levarmos em consideração que o Mestre era o próprio Deus? Por que aplicar uma correção tão forte?

São perguntas que facilmente surgem devido ao definhamento, na sociedade atual, da noção de um prêmio e de um castigo por nossa conduta moral. Como lamentável consequência disso, vem se esvaecendo a compreensão dos benefícios da correção.

Sim, lamentável, como se pode deduzir desta afirmação do Livro dos Provérbios: “Perecerá por falta de correção e se desviará pelo excesso de sua loucura” (5, 23).

Amor à repreensão

Quanto se prega hoje em dia contra a disciplina, a ponto de se deformar o verdadeiro conceito de liberdade! Uma concepção errada, baseada nas ideias de Rousseau — de que todo homem é bom, e por isso deve ser deixado entregue à sua natureza —, penetrou em muitos ambientes, inculcando uma máxima que poderia ser expressa assim: “Todo homem é bom, a correção é que o torna mau”.

Entretanto, o ensinamento da Escritura não deixa dúvida. Os autores sagrados discordam desse ponto de vista tão comum em nossos dias, como por exemplo, nesta passagem:

“Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá, castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos” (Pr 23, 13-14). E ainda: “Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa” (Pr 13, 24).

Estas palavras talvez sejam duras para os ouvidos de hoje, todavia foram inspiradas pelo próprio Espírito Santo e devem ser recebidas com amor.

Mas, e a bondade?

A bondade do Homem-Deus é infinita e, portanto, inesgotável. Mas Jesus não é exclusivamente a Bondade. Ele é também a Justiça. Apesar de serem extremos opostos, castigo e bondade constituem contrários harmônicos.

Por este motivo, numa educação sábia e virtuosa, da mesma forma que jamais podem faltar a bondade, o afeto, a misericórdia, também não pode ser desprezada a disciplina: “Vara e correção dão a sabedoria; menino abandonado à sua vontade se torna a vergonha da mãe” (Pr 29, 15).

Nesta matéria tão delicada, nota-se uma perfeita continuidade entre o ensinamento moral do Antigo e o do Novo Testamento.

A implacável atitude de Jesus no Templo lançou por terra não apenas as mesas dos cambistas, como também quaisquer objeções contra o perfeito conúbio entre justiça e misericórdia.

Aquele mesmo Jesus de doce memória ensina-nos a necessidade da correção, através da ilustração viva de um de seus princípios enunciados no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!” (Mt 5, 6). E no Apocalipse nos torna patente a aliança indissolúvel entre amor e repreensão: “Eu repreendo e castigo aqueles que amo” (3, 19).

Os maus detestam ser corrigidos

Este é um dos efeitos do castigo sobre os bons: produz uma admiração amorosa e faz desabrochar a estima pela sabedoria.

Mas fixemos agora nossa atenção na atitude dos maus.

Por sua reação, percebe-se o quanto os príncipes dos sacerdotes e escribas se sentiram atingidos no castigo infligido por Jesus. Em nenhum momento vão discutir a licitude em si da presença dos vendilhões no Templo, pois conheciam perfeitamente os preceitos e em que medida os transgrediam. Nem sequer acusam Jesus de ter usurpado os poderes deles. Usando de artimanha, pedem-Lhe um milagre como sinal de sua autoridade.

Não os motivava o zelo pela casa de Deus. Se assim o fosse, teriam elogiado Jesus pela nobre e eficaz ação contra os profanadores.

O homem mau não aceita a correção, porque não ama a Lei de Deus. Ao contrário do homem sábio, que ama quem o repreende (cf. Pr 9, 8), eles detestavam a correção, por não buscarem a sabedoria; sentiam horror ao castigo, por não quererem emendar-se de suas faltas.

Como e por que frequentar a Casa de Deus

As igrejas são casas de Deus. Edifícios sagrados, nos quais o Cordeiro de Deus é imolado todos os dias sobre o altar. Ali somos elevados à dignidade de filhos de Deus, purificados de nossos pecados, alimentados com o Pão dos Anjos, instruídos pelas verdades da salvação, santificados pela graça.

Respeito, devoção e piedade são algumas virtudes indispensáveis para penetrar num tão sagrado recinto. Rezemos com confiança, santo temor e entusiasmo em seus oratórios.

Abracemos a firme resolução de frequentar com assiduidade a igreja para adorar o Bom Jesus e crescer na devoção a Maria. E temamos ser objeto da divina cólera, devido a um mau comportamento, tal qual advertia Alcuíno:

“O Senhor entra espiritualmente todos os dias em suas igrejas, e observa como cada um se comporta. Portanto, dentro delas, evitemos conversas, risadas, ódios e ambições: não nos aconteça que o Senhor chegue quando menos esperamos a nos expulsar a chicotadas”.

Alcuíno não viveu nos tempos atuais. Se conhecesse a degradação dos costumes e as modas dos presentes dias, não deixaria de recomendar delicadeza de consciência àquelas — e também àqueles — que entram no templo sagrado não para rezar, mas para se fazer ver, provocar ao pecado e levar almas à perdição eterna.

E além do mais agora, por causa da pandemia, quantos são aqueles que abandonaram completamente a frequência à Igreja e aos sacramentos! Será que se lembram de que é a Casa de Deus? Como Deus os tratará no dia em que tiverem de se apresentar perante Ele?

Saibamos aproveitar das correções feitas por Deus em nossas vidas, que, nesses momentos, está usando de misericórdia para nos admoestar a fim de que mudemos de vida e alcancemos a salvação eterna.

Texto extraído, com adaptações, do livro O inédito sobre os Evangelhos v. III. Por Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP.

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