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São José Luis Sánchez del Río: combatente heroico

No dia 10 de fevereiro, a Igreja celebra a memória de São José Luis Sánchez del Río, o menino mártir na Guerra dos Cristeros. Após sofrer com sobranceria inúmeros tormentos, José sanchez expirou sobre uma cruz traçada por ele, no solo, com o próprio sangue. 

Jose Luis Sanchez del Rio

Redação (10/02/2024 07:34, Gaudium Press) Sahuayo era uma pequena aldeia do estado de Michoacán, México.  Após o trabalho diário, sua população se reunia na hora do Ângelus na Igreja de São Tiago Apóstolo, para agradecer à bondosíssima Mãe de Guadalupe as graças e favores que lhes havia concedido na jornada. E todos rezavam o rosário sem nunca deixar de pedir pelo México, para que cessasse quanto antes a impiedosa perseguição do governo contra os católicos.

Um menino se destacava pela piedade com que rezava. Era José Luis Sánchez del Río. De apenas 13 anos, travesso como todos os de sua idade, tinha na mente uma ideia fixa.

Certa vez, quando seus pais convidaram o pároco para jantar, este lhes contou que a perseguição religiosa estava levando muitos mártires mexicanos para o Céu.

– Como é isso, padre?

– Sim, Josesito, são católicos que, ante a ordem de renegar nossa religião, preferem dar suas vidas, e morrem fuzilados. Mas o Senhor os recebe junto a nossa Mãe de Guadalupe, no Céu.

– E os meninos também podem ser mártires, padre?

– Bem… enfim… se Deus assim dispuser, podem ser, como os Santos Inocentes que celebramos em nossa paróquia no mês de dezembro.

José Luis sentiu em seu coração um ardor que não era senão uma graça de Deus, uma preparação para os grandes acontecimentos que se desenrolariam pouco tempo depois na tranquila Sahuayo.

Nunca foi tão fácil ganhar o Céu!

Com efeito, em agosto de 1926 chegou à pequena aldeia a notícia de que estava proibido o culto católico público. A família Sánchez del Río se reuniu consternada e, enquanto os filhos mais novos se conformavam em continuar ajudando seu pai nos trabalhos agrícolas, Miguel, o mais velho, decidiu pegar em armas junto com seus amigos, os irmãos Gálvez, para defender Cristo e sua Igreja.

Vendo isso, José pediu permissão a seus pais para alistar-se também no Exército “Cristero”, que havia se formado sob o comando do general Prudencio Mendoza. Sua mãe, porém, se opôs:

– Meu filho, uma criança da sua idade vai mais estorvar do que ajudar o exército.

– Mas, mamãe, nunca foi tão fácil ganhar o Céu como agora! Não quero perder a ocasião.

Ouvindo essa resposta, sua mãe deu-lhe permissão, mas pôs como condição que ele mesmo devia escrever ao general Prudencio Mendoza, perguntando se o aceitava. A resposta deste foi negativa.

Sem desanimar, José escreveu nova carta, pedindo ao general para ser recebido, se não como combatente, ao menos como soldado auxiliar da tropa: ele podia cuidar dos cavalos, cozinhar e prestar outros serviços aos soldados.

Vendo a grandeza de alma e o entusiasmo desse adolescente, o general respondeu-lhe que o aceitava. Assim, com a bênção de sua católica mãe, ele partiu para o acampamento “cristero”, muito feliz por poder lutar por Cristo Rei e Santa Maria de Guadalupe.

Combatente heroico

No acampamento, em pouco tempo o caçula da família Sánchez del Río conquistou o afeto e a confiança dos “cristeros”, que lhe puseram o apelido de Tarcisio. Sua alegria a todos contagiava, e desde o início ele foi o encarregado de liderar a recitação do terço com a tropa, no fim de cada dia.

Por seu valor e bom comportamento, o general lhe deu o cargo de corneteiro do destacamento. Pouco depois, sendo promovido a porta-estandarte, José Sánchez del Río via realizado seu mais ardente desejo: estar no campo de batalha, como soldado de Cristo.

Em fevereiro de 1928, um ano e cinco meses após sua incorporação ao exército “cristero”, travou-se um combate nas proximidades da cidade de Cotija. Depois de várias horas de renhida luta, o jovem porta-estandarte viu o cavalo do general tombar morto por um tiro. Para lá galopando imediatamente, disse com resolução:

– Meu general, aqui está meu cavalo, salve-se o senhor. Se eu morrer, não farei falta, mas o senhor, sim.

Entregou seu cavalo, pegou um fuzil e combateu com bravura. Quando acabaram as balas, avançou sobre o inimigo de baioneta em riste. Foi feito prisioneiro e conduzido ao general inimigo, o qual o repreendeu por estar lutando contra o governo.

– General, fique sabendo que eu caí prisioneiro, não porque tenha me rendido, mas porque acabaram minhas balas, pois, se tivesse mais, continuaria lutando.

Prisioneiro indomável

Vendo tanta decisão e arrojo, o general o convidou a se juntar às tropas do governo, dizendo-lhe:

– Você é um menino valente, venha conosco e estará muito melhor do que com os “cristeros”.

– Jamais, jamais! Prefiro morrer! Nunca me juntarei aos inimigos de Cristo Rei! Mande me fuzilar!

O general mandou encerrá-lo no cárcere de Cotija. No meio de pouca luz, do mau cheiro, e rodeado de delinquentes, conseguiu escrever uma carta:

Cotija, 6 de fevereiro de 1928

Minha querida mamãe

Caí prisioneiro em combate no dia de hoje. Creio que vou morrer, mas não importa, mamãe. A senhora precisa se resignar à vontade de Deus. Não se preocupe com a minha morte, que é o que me deixa inquieto; pelo contrário, diga a meus dois irmãos que sigam o exemplo dado por seu irmão menor.

E a senhora precisa fazer a vontade de Deus, tenha força e me mande sua bênção, junto com a de meu pai. Transmita minhas saudações a todos, pela última vez. E receba o coração deste filho que tanto lhe quer, e que desejava vê-la antes de morrer. – José Sánchez del Río

Entretanto, em vez de ser fuzilado no dia seguinte, como ele imaginava, foi levado, junto com um pequeno amigo também preso, chamado Lázaro, para a igreja de Sahuayo, que as tropas do general Calles haviam transformado em cavalariças.

A sacristia estava ocupada pelos galos de briga do deputado anticatólico Rafael Picazo, que ali realizava frequentemente orgias com seus amigos.

Ao ver sua nova prisão, José ficou indignado. Era a mesma igreja que, pouco tempo antes, ele frequentava com sua família para a reza do Ângelus e do terço. Tinham-na transformado em um antro de bandidos!

Quando se viu sozinho na penumbra, o juvenil soldado de Cristo Rei conseguiu desatar a corda que o amarrava, dirigiu-se às gaiolas onde estavam os galos de briga do deputado e cortou o pescoço de todos eles.

Depois dormiu serenamente.

No dia seguinte, mal soube do acontecido, o deputado Picazo correu à sacristia-prisão, onde, cheio de indignação, interpelou o jovem prisioneiro.

– A casa de Deus é um lugar para rezar, não para ser depósito de animais”, respondeu-lhe este.

Cheio de cólera, Picazo o ameaçou de morte, e recebeu esta serena resposta:

– Desde que peguei em armas, estou disposto a tudo. Mande me fuzilar!

Uma cruz traçada com o próprio sangue

Na sexta-feira, dia 10, por volta de seis horas da tarde, uma escolta o levou de volta ao quartel. Ali, ao saber de sua condenação à morte, escreveu a uma de suas tias, que havia conseguido lhe levar a Comunhão às escondidas, a última carta de sua vida:

Sahuayo, 10 de fevereiro

Querida tia

Estou condenado à morte. Às oito e meia da noite chegará o momento que eu tanto desejei. Agradeço-lhe os favores que a senhora e Madalena me fizeram. Não estou em condições de escrever a mamãe. (…) Transmita minhas saudações a todos e receba, como sempre e pela última vez, o coração deste sobrinho que muito lhe quer e lhe deseja ver. Cristo vive, Cristo reina, Cristo impera! Viva Cristo Rei! Viva Santa Maria de Guadalupe! – José Sánchez del Río, que morreu em defesa da fé. Não deixem de vir. Adeus.

Às onze da noite chegou o momento tão esperado. O ódio dos inimigos da Igreja era tal que, com uma faca afiadíssima, lhe arrancaram a pele das plantas dos pés e o obrigaram a caminhar desde o quartel até o cemitério, pisando sobre pedras e terra.

Nenhuma queixa saiu de seus lábios no meio dessa tortura. Chegou ao cemitério cantando hinos religiosos. Levado até a beira de uma cova que em breve seria a sua, os soldados deram-lhe algumas punhaladas não mortais, para ver se ele apostatava com esse suplício.

Em tom de zombaria e com o intuito de quebrar psicologicamente o herói da fé, o capitão comandante da escolta lhe perguntou se tinha uma mensagem para seus pais. Ele respondeu:

– Sim, diga-lhes que vamos nos rever no Céu.

Em seguida, pediu ao capitão para ser fuzilado com os braços em cruz. Como única resposta, este sacou a pistola e lhe disparou um tiro na têmpora.

Sentindo-se ferido de morte, José colheu com sua mão direita um pouco do sangue que lhe escorria abundantemente pelo pescoço, traçou com ele uma cruz na terra e prostrou-se em cima dela, em sinal de adoração.

Assim, na última hora da noite de 10 de fevereiro de 1928, sua alma subiu ao Céu e foi recebida com júbilo por seu querido Cristo Rei e sua amadíssima Mãe, a Virgem de Guadalupe.

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 49, janeiro 2006.

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