Aspirações de São José
Por sua índole despretensiosa São José não se preocupava muito com seu futuro pessoal, embora percebesse ser chamado a entregar-se a Deus por inteiro.
Redação (19/01/2021 16:50, Gaudium Press) As perplexidades e dificuldades vividas em longos períodos de aridez ajudaram São José a discernir sua vocação. Seu único desejo era cumprir a vontade da Providência a seu respeito e, a fim de descobri-la, dedicava-se com afinco à oração e ao jejum, suplicando ao Céu que lhe concedesse luzes e graças para ser fiel até as últimas consequências.
Nas idas anuais a Jerusalém, aproveitava para permanecer recolhido no Templo, ajoelhado em um dos degraus do Pátio dos Homens, com fisionomia muito séria, meditativa e profunda.
Guiado por sua humildade, nunca se deteve na perspectiva de vir a ser antepassado do Messias, para não deixar penetrar em sua alma a menor fímbria de vaidade. Bem sabia que a primogenitura da casa de Davi recaía sobre ele, mas isso não o movia a fazer considerações ou hipóteses a respeito de si mesmo.
São José tinha grande simpatia pela figura de Jônatas, o filho do Rei Saul. Este jovem príncipe possuía um coração nobre e reto. Ao saber que o escolhido de Deus para a sucessão de seu pai não fora ele, mas Davi, experimentou intensa alegria, estabelecendo com o filho de Jessé laços de amizade tão sinceros e sólidos (cf. I Sm 18, 1-4), que chegou a salvar-lhe a vida quando Saul quis assassiná-lo (cf. I Sm 19, 1-6).
A atitude de Jônatas, isenta de qualquer laivo de inveja, causava verdadeiro encanto em São José, o qual estava disposto a imitá-lo se encontrasse a família do Messias, tornando-se seu servidor mais dedicado.
A mais firme resolução de sua vida
Outro personagem que o arrebatava era Urias, um dos mais valorosos generais de Davi (cf. II Sm 11, 7-13). Impressionava-o, sobretudo, seu gesto de fidelidade quando, durante uma guerra, foi chamado a Jerusalém pelo rei, que pretendia disfarçar o horrível pecado de adultério cometido com sua esposa Betsabeia.
Nessa ocasião Urias não quis repousar em sua própria casa, mas dormiu na porta do palácio real, com os outros servos. Ao ser-lhe interrogado o motivo desse procedimento, ele respondeu: “A Arca se aloja debaixo de uma tenda, assim como Israel e Judá. Joab, meu chefe, e seus suboficiais acampam ao relento, e teria eu ainda a coragem de entrar em minha casa para comer, beber e dormir com minha mulher? Pela tua vida, não farei tal coisa” (II Sm 11, 11).
Ou seja, tão extrema era a dedicação deste corajoso oficial que, a fim de não perder a disposição para a luta e o sacrifício, guardou castidade perfeita durante sua permanência em Jerusalém.
Infelizmente o Rei Davi, como paga a tanta fidelidade, cometeu outro crime: mandou colocá-lo no posto mais arriscado do combate, expondo-o a morte certa (cf. II Sm 11, 14-17).
Urias não teve sua recompensa nesta vida, mas, com toda a segurança, o Divino Juiz concedeu àquele indomável soldado o prêmio da glória.
São José pensava na beleza da atitude de Urias e desejava imitá-la, mas não apenas uma vez, pois sua alma era guiada por parâmetros do Céu, onde todos vivem “como os Anjos de Deus” (Mt 22, 30) e ninguém se casa.
Bem entendia que o Messias seria um Rei incomparavelmente mais sublime que o próprio Davi, e julgava ser vontade do Altíssimo pôr ao seu serviço homens que mantivessem perpétua castidade, livres de laços familiares e consagrados a Ele por inteiro e em todas as circunstâncias.
Por esse motivo São José percebeu ser desígnio divino que se conservasse virgem, como único meio de cooperar na salvação da humanidade. E para isso era necessário alhear-se dos meios sociais da época, especialmente corrompidos pela impureza.
Corte tão radical não custou muito ao Santo Patriarca, tanto ele admirava a pureza em sua mais íntegra manifestação. Dessa forma, aos vinte e um anos São José era um silencioso artesão dedicado ao trabalho e ao recolhimento, à espera de ver despontar o dia da libertação, a vinda do Messias.
Quando o sol incide sobre um pedregulho de granito, este absorve a luz, obscurecendo o fulgor do astro rei. Ao contrário, ao deitar seus raios sobre uma pedra de elevada categoria, como o topázio, o diamante ou o rubi, ela reflete a luz, acrescida de esplendores novos.
Assim, aquele que abraça a virgindade é como uma pedra preciosa que não empana a luz de Deus, mas a transmite com matizes enriquecidos. São José tomou a resolução de manter-se celibatário com plena convicção e uma retidão de deslumbrar os Anjos.
Só não imaginava que justamente por sua virgindade atrairia sobre si o olhar benévolo de Deus, que lhe confiaria a missão mais alta da História: contrair matrimônio com a Rainha das Virgens, a fim de que Jesus Cristo, o Virgem por excelência, entrasse no mundo da maneira mais digna.
Com efeito, no seio da Trindade, Deus Pai gera o Filho virginalmente desde todo o sempre. Era, portanto, conveniente que o mesmo Filho, ao fazer-Se Homem, fosse concebido também de forma virginal, estabelecendo um grandioso arco gótico entre o tempo e a eternidade em louvor à Virgindade Encarnada.
Diante de nossos olhos se descortina o alcandorado mistério da virgindade: Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo atraído pela virgindade.
Ao pensar em uma Mãe para Se encarnar, quis que Ela fosse virgem antes, durante e depois do parto. Do mesmo modo, ao idealizar o varão destinado a ser seu pai terreno, escolheu um virgem.
A virgindade é o mais alto grau da castidade e a obra perfeita do Espírito Santo nas almas, pois eleva o homem a uma categoria próxima dos Anjos.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP.
Texto extraído do livro São José: Quem o conhece?… São Paulo: Lumen Sapientiæ, 2017.
Deixe seu comentário