Santa Elizabeth Ann Seton: convertida pela Eucaristia
Hoje, 4 de janeiro, a Igreja lembra também a memória de Elizabeth Ann Seton, primeira norte-americana elevada à honra dos altares, que transformou a história do Catolicismo nos Estados Unidos.
Redação (04/01/2024 09:17, Gaudium Press) De religião anglicana, casada com um rico comerciante e tendo cinco filhos, nada parecia indicar os elevados desígnios para os quais a Providência ia chamar Elizabeth Ann Seton. Mas de sua correspondência à graça dependeriam milhares de almas e, em certo sentido, um país inteiro.
E ela disse: “sim!”. Tomada de entusiasmo pela Presença Real de Nosso Senhor na Eucaristia, fez-se filha da Igreja Católica.
Uma infância sofrida
Segunda filha do famoso médico Richard Bayley e de Catherine Charlton, Elizabeth Ann Bayley veio ao mundo em 18 de agosto de 1774. A família residia em Nova York, descendendo dos primeiros colonos da região. Como acontecia com a maioria dos membros da alta sociedade nova-iorquina, eram anglicanos praticantes.
Antes de completar três anos ficou órfã de mãe, e seu pai contraiu novo matrimônio, do qual nasceram mais sete filhos. A pequena enteada era desprezada pela madrasta, o que lhe fazia sentir sobremaneira a falta da mãe. Também o pai, absorvido por serviços e pesquisas médicas, não conseguia retribuir os carinhosos sentimentos de sua afetuosa filha.
Por tais circunstâncias, Elizabeth, aos oito anos de idade, foi enviada à fazenda de um tio paterno, para aí viver em companhia de seus primos. Esse período passado no ambiente tranquilo do campo determinou a formação de seu caráter contemplativo e decidido.
Matrimônio na alta sociedade
Aos dezesseis anos, Elizabeth voltou para Nova York e antes de completar vinte anos, casou-se com William Magee Seton, de uma conceituada família de comerciantes. Os primeiros oito anos do casal transcorreram prósperos e tranquilos. Agraciados com cinco filhos – Anna, Richard, William, Catherine e Rebecca -, os Seton residiam num dos melhores bairros de Nova York, levando uma vida regalada.
Muito religiosa e caridosa, Elizabeth participava das atividades promovidas pela Igreja Anglicana e se preocupava com os sofrimentos do próximo. Para dar assistência às viúvas pobres, organizou, em união com outras damas ricas, uma associação caritativa.
Chegam as tribulações
Em 1803 os negócios da família Seton faliram. Ao mesmo tempo, William foi acometido pela tuberculose. A fim de mudar de clima, numa última tentativa para a recuperação da saúde do esposo, Elizabeth partiu para Livorno, Itália, com ele e a filha mais velha, então com oito anos de idade, apelidada Annina.
Aos olhos dos familiares e amigos, essa viagem parecia uma loucura. Entretanto, cada um daqueles dias constituía um trecho do longo caminho traçado pela Providência para conduzir Elizabeth à Igreja Católica.
Entre os muitos contatos comerciais que William Seton mantinha com a Europa, figuravam os irmãos Antonio e Filippo Filicchi, de Livorno, com quem tinha feito sólida amizade. Assim sendo, os Seton combinaram de hospedar-se em casa dos Filicchi durante o tempo que ali passassem.
Contudo, ao aportar em Livorno, as autoridades sanitárias decretaram quarentena aos tripulantes do navio recém- chegado, devido à notícia de que a febre amarela grassava em terras americanas. Os Seton foram então encaminhados para o lazareto, um prédio de paredes frias e úmidas, onde a saúde de William piorara ainda mais.
As primeiras graças de conversão
Isolada de todos, vendo o marido definhar dia após dia e sofrendo privações, Elizabeth pôs-se a pensar mais em Deus e a considerar sua vida através de um prisma mais sobrenatural. E ela começou a ouvir com atenção as explicações a respeito da Doutrina Católica que lhe davam as poucas pessoas com quem tinha contato durante esse período.
Terminada a quarentena, os Seton se dirigiram a Pisa. Enfraquecido pelos dias passados no lazareto, William faleceu em menos de duas semanas. Elizabeth tinha então trinta anos de idade.
A família Filicchi, imbuída da verdadeira caridade cristã, acolheu em seu lar a viúva e sua filhinha. Num domingo, a esposa de Antonio Filicchi, Amabilia, convidou-as a assistir à Missa na Igreja da Annunziata.
Ao entrar no templo sagrado, Elizabeth se sentiu tocada no mais fundo da alma. Reinava certa penumbra no recinto. Em torno do altar, muitas pessoas rezavam o Rosário, cheias de devoção. O olhar maravilhado de Elizabeth percorreu as obras de arte que embelezavam o ambiente: entalhes em madeira, bonitas pedras de diferentes cores, pinturas representando cenas da Escritura.
Ao sair dali, ela escreveria em seu diário: “Não se consegue ter uma ideia de como é tudo isso por meio de uma simples descrição”. Depois desse dia, Elizabeth sentiu uma mudança em seu interior. O que havia nos templos católicos para atraí-la tanto?
A Providência Se faz sentir
Os Filicchi aproveitaram para instruí-la ainda mais na Fé, expondo-lhe a doutrina da Presença Real de Cristo na Eucaristia. Elizabeth ficou encantada com a ideia de poder encontrar-se com Nosso Senhor Jesus Cristo nas Sagradas Espécies.
Alguns dias mais tarde, Deus lhe enviaria uma graça sensível para fazê-la acreditar nessa sublime verdade da Fé.
Em companhia da família Filicchi, ela assistia à Missa na Igreja da Madonna delle Grazie, em Livorno. Quando o celebrante estava elevando a Sagrada Hóstia, após a Consagração, alguém se ajoelhou ao lado de Elizabeth e lhe disse ao ouvido: “Aí está o que se chama ‘Presença Real’”. Arrebatada por tais palavras, ela inclinou-se cheia de veneração e, pela primeira vez, adorou a Jesus na Eucaristia, enquanto tentava conter as lágrimas.
Mais tarde ela escreveria à sua cunhada, Rebecca Seton, que ficara em Nova York: “Como seríamos felizes se crêssemos no que essas boas almas creem! Possuem Deus no Sacramento, Ele permanece em suas igrejas e é levado aos doentes! Oh, meu Deus! Quando eles passam com o Santíssimo Sacramento debaixo da minha janela, ainda que sentindo solidão e tristeza pela minha situação, não posso controlar minhas lágrimas, pensando: ‘Meu Deus, quão feliz eu seria, se, mesmo estando longe de tudo quanto me é querido, pudesse encontrar-Vos na igreja, como eles Vos encontram!’”.
O encontro com a verdadeira Mãe
Começava para Elizabeth uma de suas mais árduas lutas espirituais. Abandonar o anglicanismo significava renunciar à religião na qual nascera e vivera até então, mas Jesus Eucarístico a atraía à Igreja Católica. Pôs-se a rezar, pedindo a Deus uma orientação.
Certo dia, Elizabeth deparou-se com um livrinho de orações pertencente à Sra. Filicchi, posto sobre a mesa. Abriu-o a esmo e começou a ler: “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer…”
Cada uma das palavras do Memorare soou em sua alma como uma consolação: ela, que na infância tanto sentira a falta do afeto materno, na realidade tinha uma Mãe que dela cuidava com inefável bondade! Passou então a invocar Nossa Senhora, pedindo que Ela lhe mostrasse o caminho que deveria seguir.
Novas adversidades
Em 8 de abril de 1804, mãe e filha embarcaram de volta aos Estados Unidos, em companhia de Antonio Filicchi.
Apesar da felicidade de rever os outros quatro filhinhos, Elizabeth trazia na alma um profundo dilema: abraçar o catolicismo significava comprar o isolamento da parte de todos os familiares e amigos americanos.
Mas, de outro lado, ela já não conseguia viver sem pensar no Santíssimo Sacramento. Passava longas horas do dia fazendo comunhões espirituais e, estando na igreja anglicana de São Paulo, dali adorava Jesus presente no tabernáculo da Igreja Católica de São Pedro, que podia vislumbrar pelas janelas.
A conversão
Na Quarta-Feira de Cinzas de 1805, diante do tabernáculo da Igreja de São Pedro, Elizabeth tomou a decisão irrevogável de fazer-se católica, com seus cinco filhos. Dez dias depois, em 14 de março, fez sua profissão de Fé, na mesma igreja.
Na festa da Anunciação, 25 de março, realizou-se o seu mais ardente desejo: recebeu a Primeira Comunhão.
Sobre esse dia, Elizabeth anotaria em seu diário: “Meu Deus, até o meu último suspiro me lembrarei daquela noite que passei à espera de que o sol nascesse! Meu pobre coração ansiava pela longa caminhada até a cidade, em que cada passo significava estar mais perto daquela rua, mais perto daquele tabernáculo, mais perto daquele momento em que Ele entraria em minha morada pobre e pequena, mas inteiramente dEle!”.
Funda uma nova Congregação religiosa
Preocupada com a educação de seus filhos e a formação das crianças católicas, tentou abrir uma escola em sua cidade natal. No entanto, seus planos foram frustrados, devido ao desprezo e incompreensão por parte daqueles que não aprovavam sua conversão.
Mais tarde, em 1808, sob o amparo de Dom Carroll, Elizabeth transladou- se para Baltimore, onde fundou um colégio destinado à educação de meninas. Não demoraram a aparecer jovens que se sentiam chamadas à vida religiosa e queriam seguir Elizabeth, em seu nobre ideal de caridade.
Com a ajuda de um generoso doador, a pequena comunidade se estabeleceu em Emmitsburg, Maryland, no ano de 1809. Nasceu assim a primeira congregação religiosa dos Estados Unidos: Congregação das Irmãs de Caridade de São José, segundo a regra das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, e dedicada à educação.
Acompanhada por dezessete discípulas, Elizabeth fez os votos em 21 de julho de 1813. Madre Seton, como passou a ser chamada após a fundação, foi diretora geral da Congregação até o fim de sua vida, empenhando- se em formar as freiras segundo o espírito de Santa Luísa de Marillac e de São Vicente de Paulo.
Frutos de uma alma eucarística
Quanto a seus filhos, todos viveram e morreram como bons católicos.
Como sói acontecer com os Fundadores, a missão de Madre Seton se prolongaria após sua morte. Ela assistiria, do Céu, ao crescimento de sua obra.
Ao entregar sua alma a Deus, em 4 de janeiro de 1821, Santa Elizabeth tinha apenas cinquenta freiras, espalhadas por colégios e orfanatos.
No dia de sua canonização, 14 de setembro de 1975, elas eram mais de oito mil, pois sua Congregação se fundara sobre a rocha inabalável da Eucaristia, à sombra da qual florescem os carismas e se solidificam as obras de Deus.
Texto extraído, com pequenas adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.85, janeiro 2009. Por Ir. Isabel Cristina Lins Brandão Veas, EP.
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