Apreensão, luz, esperança
Não será que estamos às vésperas de uma nova manifestação do poder de Deus na Igreja? Não será que uma nova estrela, inconfundivelmente rutilante e distinta das demais, iluminará com a luz da verdade os povos que caminham nas trevas da incerteza?
Redação (03/01/2021 10:45, Gaudium Press) São reis? – perguntavam-se os habitantes da grande cidade.
– Sim, respondiam uns.
– Não, mais parecem sacerdotes caldeus – opinavam outros.
O certo é que a inesperada comitiva – com seu numeroso séquito e rica equipagem – movimentou as ruas de Jerusalém.
Como eram os Reis Magos?
Nos presépios e nas pinturas, são os reis magos apresentados em geral como homens de idade madura, e até mesmo já idosos, às vezes com suas barbas brancas descendo até o peito, mas todos fortes e robustos. Na imaginação popular, andam devagar e com ar pensativo, cobertos de ricos mantos, portando coroas com pedras preciosas fulgurantes.
A iconografia corrente apresenta Gaspar e Melchior como sendo de tez branca. O terceiro, Baltazar, um monumento de ébano, é o mais distinto dos três. Tem pouca barba, olhos redondos e escuros, bem abertos, lábios rubros e dentes alvos como a neve. Sua fisionomia é a de um homem sério e compenetrado, aberto para a contemplação das coisas maravilhosas: caminho para chegar a Deus.
Os bons presépios nos mostram os Reis Magos chegando em fila, trazendo nas mãos seus presentes. O Menino Jesus está sentado no colo de sua Mãe. Todos olham para Ele, inclusive Nossa Senhora, a qual é apresentada discretamente na cena.
“Esses magos eram reis”, afirma São Tomás em sua Catena áurea. E acrescenta que devia ser grande sua comitiva, pois puseram em alvoroço Herodes e toda a Jerusalém de então. São João Crisóstomo é da opinião de que “esses Reis Magos que vieram do Oriente adorar o Menino Jesus são os filósofos dos caldeus, homens muito considerados em seu país. Seus reis e príncipes aconselham-se com eles, por causa da sua ciência. Assim é que foram os primeiros a tomar conhecimento do nascimento do Senhor”.
O Evangelho resume nestas curtas frases o objetivo de sua viagem: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.
Segundo São Tomás, eles chegaram a Jerusalém três dias após o nascimento de Jesus, o que levanta uma curiosa questão: como fizeram em tão curto tempo a longa viagem? Antiga tradição fala de um antepassado deles que profetizou o nascimento de uma estrela em Judá. Este era de uma nação vizinha de Israel, situada do lado oriental.
São João Crisóstomo é de opinião oposta, declarando ser possível que eles tenham iniciado a caminhada dois anos antes. Esta tese encontra fundamento no texto evangélico, pois Herodes os inquiriu sobre a época em que lhes havia aparecido a estrela e “mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos Magos” (Mt 2,16).
Informados de que Belém era a terra natal de Jesus, para lá partiram os Magos. E a mesma estrela que os havia guiado de seus países até Jerusalém apareceu-lhes novamente, precedendo-os até chegar sobre o lugar onde estava o Menino, e ali permaneceu.
Era mesmo uma estrela?
Santos, doutores e teólogos levantaram hipóteses a este respeito.
A ser uma estrela, era diferente de todas as outras. Pois, ao contrário das demais – estáticas – a de Belém seguia um roteiro determinado. Além do mais, detinha-se e punha-se em movimento segundo as conveniências dos Magos.
Isso, afirma São João Crisóstomo, é próprio de um ser inteligente, não de uma estrela comum. De onde se deduz que “não era simplesmente uma estrela, mas uma virtude invisível que tomou a forma de uma estrela”.
Segundo São Remígio, crê-se que tal astro era o próprio Espírito Santo, ou um Anjo, talvez o mesmo que apareceu aos pastores perto da Gruta de Belém.
Já Santo Agostinho defenderá que a estrela de Belém “era um astro novo, criado para anunciar o parto da Virgem e para oferecer seu ministério, marchando diante dos Magos que procuravam a Cristo e conduzi-los ao lugar onde estava o Verbo, Menino-Deus”.
O fato indiscutível é que a estrela — corpo celeste físico ou não — cumpriu de forma exímia sua missão: levou os Reis Magos até a casa onde estava o Menino Jesus. Informados de que Belém era a terra natal de Jesus, para lá partiram os Magos. E a mesma estrela que os havia guiado de suas terras até Jerusalém apareceu-lhes novamente. Nesta reaparição da estrela, os Magos viram uma confirmação toda divina da informação que tinham recebido; a partir de então, o brilhante astro os foi precedendo até o lugar onde estava o Menino, e ali parou.
“Ninguém procurou e encontrou mais venturosamente a Cristo que aquele devoto e santo cortejo dos Reis do Oriente. Sumamente alegres, seguiram a estrela até Belém onde encontraram o Rei, recém-nascido. Mas, com quem O encontraram? Com Maria sua Mãe. Quereis achar Jesus, procurai-O onde estiver sua Mãe, e O achareis!” – afirma o Pe. Antônio Vieira.
Então, prossegue o Evangelho: “ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, O adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.” (Cf. Mt 1, 11)
Às vésperas de uma nova “epifania”?
A Festa da Epifania se presta a uma série de meditações.
Quando as trevas cobriam a terra e a escuridão envolvia as nações (Cf. Is 60, 2), uma estrela diferente despontou no horizonte e conduziu as nações todas, representadas nos três reis magos, à adoração ao Deus-Menino.
E em nossos dias, será que Deus Nosso Senhor abandonará seu povo e sua Igreja à ruína?
O ano 2020 só nos trouxe apreensões e preocupações. Pela nossa saúde física, sim; mas sobretudo pela saúde de nossa alma, pois Jerusalém não parece ter brilhado como devia (Cf. Is 60, 1). Não será que estamos às vésperas de uma nova manifestação do poder de Deus na Igreja? Não será que uma nova estrela, inconfundivelmente rutilante e distinta das demais, iluminará com a luz da verdade os povos que caminham nas trevas da incerteza?
São suposições que alimentam nossa esperança e que só 2021 poderá responder.
Deixe seu comentário