Santa Marciana, a virgem que desafiou a idolatria
Marciana foi condenada a ser estraçalhada por animais. Um leão avançou contra ela e, de repente, parou, ficou de pé e …fugiu sem tocar na frágil virgem cristã.
Redação (29/12/2020, 12:20, Gaudium Press) Diocleciano, que governou o Império Romano de 284 a 305, era dominado pelo orgulho. Logo após tomar posse, ele acrescentou ao seu nome a palavra Júpiter, querendo assim ser adorado como deus. Perseguidor feroz da Igreja, aproximadamente 15.000 cristãos foram martirizados durante seu governo.
Gladiadores e animais ferozes
Dentre esses mártires, destacamos a jovem Marciana residente numa cidade da Mauritânia, Argélia de hoje, que consagrou sua virgindade a Deus e deixou tudo para viver numa cela.
Um dia, inspirada pelo Onipotente, ela foi ao local onde existia uma grande estátua dedicada à deusa Diana. Tomada de ódio, a virgem derrubou o ídolo que se desfez em pedaços.
Conduzida ao tribunal, o juiz mandou que a levassem aos gladiadores. Durante três horas, Deus a defendeu no meio daqueles indivíduos depravados, que ficaram aterrorizados e imóveis. E um deles se converteu à Igreja Católica.
Furioso, o tirano juiz condenou-a a ser estraçalhada por animais ferozes. Marciana caminhou para a arena bendizendo a Nosso Senhor. Um leão avançou contra a virgem, mas ao chegar junto a ela ficou em pé, não a tocou e depois se afastou.
O povo aos gritos pediu que a libertassem; porém um grupo misturado à multidão exigiu que um touro selvagem fosse lançado contra ela. A fera lhe fez no peito uma horrível ferida. O sangue jorrou e a virgem caiu desfalecida.
Estancaram-lhe o sangue e o ímpio tirano mandou que a amarrassem novamente. Marciana ergueu os olhos ao céu e, com um sorriso que iluminava seu rosto marcado pelo sofrimento, bradou: “Ó Cristo, eu Vos adoro! Vós estivestes comigo na prisão, Vós me guardastes pura, e agora Vós me chamais. Ó meu Divino Mestre, vou feliz para Vós! Recebei a minha alma!”
Lançaram, então, contra ela um leopardo que a despedaçou e lhe abriu o glorioso caminho do Céu. Era o ano de 303.
Numa atitude épica, ela joga o ídolo no chão
Sintetizamos a seguir alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito dessa mártir, cuja memória é celebrada em 11 de julho.
“Trata-se de uma santa que é uma eremita no sentido próprio da palavra, quer dizer, ela vive inteiramente isolada, nas proximidades de uma
pequena cidade da África, no tempo do Império Romano, época na qual o Norte da África era todo constituído de colônias romanas e estava tão latinizado quanto a Europa latina.
“Depois, a invasão dos vândalos derrubou o domínio romano e eliminou de lá a raça latina. Mas naquele tempo se tratava de uma região inteiramente latinizada. Ela era, provavelmente, uma latina; seu nome indica isso.”
Certo dia, ela vai à cidade e derruba o ídolo de Diana que fica em pedaços.
“O crime de si, debaixo do ponto de vista romano, era muito grande, principalmente se tomamos em consideração que essas estátuas não eram
para eles o que são as imagens para nós. Uma imagem de Nossa Senhora, por exemplo, quem a quebra comete um sacrilégio porque rompe algo que é a figura de Nossa Senhora, mas não é Nossa Senhora em pessoa. Sabemos que essa estátua não faz senão representar a Santíssima Virgem, que está realmente no Céu em corpo e alma.
“Mas para os idólatras pagãos a estátua era o próprio deus. Este era um dos aspectos da idolatria deles, que acreditavam ser aquela estátua a deusa Diana. […] “Numa atitude carregada do mais belo espírito épico ela joga o ídolo no chão. […] Quer dizer, ela desafia a idolatria no que esta tem de mais central, de modo ostensivo. […]
Soou outra era da História
Ela “é sujeita aos ataques de um grupo de gladiadores, quer dizer, de homens da ralé, extremamente sensuais, que têm ordem de pular em cima da jovem, abusar dela como entenderem, e depois matá-la.
“Então se dá este fato incrível: ela se encontra ali tranquila, e o que ela mais ama na Terra, sua virgindade, sua fidelidade a Deus, está exposta ao risco iminente, ou seja, que os gladiadores podem pular em cima dela de um momento para outro. “Durante três horas esses homens estão ali imobilizados […] Uma força misteriosa vence os gladiadores.
“Temos aí a primeira manifestação dos traços característicos da Idade Média: é o domínio do Direito sobre a força, do espírito sobre a matéria, da virgindade sobre a concupiscência. Na ordem natural das coisas, ela representa tudo aquilo que na Civilização Cristã é frágil.
“Mas ela desafia. E por uma força sobrenatural mostra que soou outra era da História: tudo quanto é frágil, reto, digno vai começar a dominar tudo quanto é turbulento e representa a força material, tudo quanto é bestial, tudo quanto, segundo a ordem natural das coisas depois do pecado original, costuma dominar, avassalar a Terra.
“Ela reza tranquila. […] O gladiador que se converte é ele mesmo uma prova do caráter sobrenatural do que se passava. […]
Testemunho dos mártires
“Durante muitos séculos e até hoje, uma das melhores provas de que a Religião Católica é verdadeira, e de que os fatos narrados no Evangelho são verdadeiros, é o testemunho dos mártires por toda a extensão do Império Romano.
“Assim, se compreende que a Providência dava a esses homens o apelo para uma forma de heroísmo que correspondia aos desígnios d’Ela naquele tempo e que não era liquidar e vencer, mas aguentar e morrer. Se eles tivessem vencido, dir-se-ia: uma seita venceu. E não se teria um argumento inteiramente seguro. Dessa forma, ficou a prova: milhões e milhões tiveram tanta certeza que eles se deixavam matar.
“Quer dizer, a prova do sangue foi dada exuberantemente e todas as gerações vindouras creram por causa deles. E é por causa disso que a Providência não os convidou a uma cruzada contra os pagãos, mas, pelo contrário, a essa forma de reação cujo sentido profundo hoje se percebe, e
naquele tempo não se percebia.
“Fica, então, patente o milagre da Providência. Se Ela deu a Santa Marciana a força para derrubar o ídolo, não lhe concederia energias para ir até a tribuna do representante do imperador, do procônsul, para esbofeteá-lo, jogá-lo no chão, apunhalá-lo, liquidá-lo? É evidente que sim. Para Deus nada é impossível.
“Mas que prova seria para nós a vida de Marciana, se ela tivesse ficado
proconsulesa depois?
Que prova seria para os séculos futuros? Nenhuma. Era preciso que houvesse dois milagres: primeiro, da resistência contra todos os obstáculos; e depois, em determinado momento, um obstáculo que vem e a respeito do qual Deus não dá mais resistência.”
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 35)
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1 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa Marciana e o testemunho dos mártires. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIX, n. 220 (julho 2016), p. 27-30.
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