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São Paulo, o primeiro eremita

São Paulo, Eremita acompanhava atentamente as lutas da Igreja contra o arianismo e tinha grande admiração por Santo Atanásio.

 São Paulo, Eremita acompanhava atentamente as lutas da Igreja contra o arianismo e tinha grande admiração por Santo Atanásio.
Redação (15/01/2021, 08:16, Gaudium Press) A Igreja celebra no dia de hoje, 15 de janeiro, a memória de São Paulo Eremita. Nascido no Egito e tendo herdado uma grande fortuna de sua família, aos 15 anos foi residir numa casa de campo. Quando eclodiu a perseguição contra a Igreja movida pelo Imperador Décio, em 250, o cunhado de Paulo quis denunciá-lo como cristão a fim de ficar com seus bens. Foi então que Paulo fugiu para o deserto.

Um corvo traz um pão aos eremitas

Morando numa gruta ao lado da qual havia uma fonte, ele levou uma vida de oração e penitência, sempre voltado para altas cogitações, e santificou-se. Nessa gruta ele residiu durante 90 anos. Morreu, portanto, com 105 anos de idade e é considerado o primeiro eremita.

Certo dia, Deus revelou-lhe que em breve ele faleceria e um eremita que vivia nas proximidades viria sepultá-lo. De fato, logo depois chegou à gruta Santo Antão, que contava 90 anos de idade. Ambos se abraçaram e se trataram pelos respectivos nomes, embora nunca se tivessem visto.


Em meio à conversa que entabularam, São Paulo perguntou a Santo Antão, que vivia com alguns discípulos, como ia o gênero humano e se ainda existiam adoradores do demônio.


Em determinado momento, um corvo trazendo um pão inteiro baixou junto a eles, e São Paulo disse: “Há 60 anos recebo diariamente a metade de um pão; à vossa chegada, Nosso Senhor Jesus Cristo mandou o dobro.”

Iluminado pela luz da graça divina, São Paulo acompanhava atentamente as lutas da Igreja contra o arianismo e tinha grande admiração por Santo Atanásio, que comandava a batalha contra essa heresia.

 São Paulo, Eremita acompanhava atentamente as lutas da Igreja contra o arianismo e tinha grande admiração por Santo Atanásio.

Dois leões com as jubas flutuantes

Ao saber que Santo Antão possuía uma manta doada por Santo Atanásio, São Paulo pediu-lhe que a buscasse para envolver seu corpo após sua morte, a qual estava próxima.
Santo Antão foi ao local onde vivia, tomou a manta e iniciou a caminhada de volta, que durava três horas. Ao se aproximar da gruta, viu a alma de São Paulo resplandecente de alvura subindo ao Céu, cercada de Anjos e Santos. E na gruta estava seu corpo ajoelhado, de cabeça erguida e mãos estendidas para o céu.

Enquanto pensava como poderia sepultá-lo, pois não levara instrumento para cavar a terra, dois leões com as jubas flutuantes saíram da mata e se postaram junto ao corpo. E acariciando-o com as caudas, rugiam como que para testemunhar sua dor.

Depois cavaram com suas garras uma cova na areia e se aproximaram de Santo Antão, com as cabeças baixas remexendo as orelhas para significar que pediam a bênção. Ele abençoou os animais que em seguida voltaram para a mata. Então, envolvendo o cadáver com a manta de Santo Atanásio, enterrou-o e levou para seu eremitério a túnica de São Paulo, feita de folhas de palmeira entrelaçadas.

Nobreza do estado eremítico

A respeito desse admirável varão de Deus, comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“São Paulo Eremita, do fundo da caverna onde ele se encontrava completamente isolado e meditando as coisas de Deus, seguia em espírito as lutas do grande Santo Atanásio. E, ao morrer, quis ser revestido da manta deste magnífico Doutor da Igreja, como uma manifestação de seu ardente entusiasmo por aquele varão que, nas lutas deste século, estava sustentando a causa da Santa Igreja contra o arianismo penetrante. […]

“Em geral, quando se fala a respeito do estado de vida eremítico, põe-se em relevo a força e o sacrifício realizados pelo eremita para se separar de todas as coisas desta Terra e isolar-se. “Então, o grande mérito do ermitão seria de ficar sozinho e vencer a vontade torrencial de falar, inerente a todo homem, sobretudo quando está só. Porque nós, homens, somos feitos assim: quando estamos muito tempo no meio dos outros, queremos ficar quietos e isolados; mas quando permanecemos muito tempo quietos, queremos estar no meio dos outros. Logo, nesta vitória sobre si mesmo estaria uma das maiores glórias do estado eremítico.”

“Na realidade, uma das belezas desse estado encontra-se na profundidade de pensamento intrínseca a ele. A nobreza do estado eremítico não vem do fato de o ermitão estar quieto, mas de que, estando silencioso, ele fala com Deus. “E falar com Deus não significa ter continuamente aparições ou revelações, mas é também entreter o espírito a respeito das coisas sobrenaturais.
“O espírito é tocado pela graça, com a qual a pessoa consegue entreter-se com as coisas de Deus, ou seja, com os temas mais profundos, mais elevados, mais nobres.

As mais altas cogitações da mente humana

“Então, a vida eremítica é, por excelência, um estado ao qual é inerente a profundidade e a ordem do pensamento, a elevação do espírito, a familiaridade com as mais altas cogitações da mente humana, que são as de ordem religiosa. E isto confere exatamente ao estado eremítico uma alta respeitabilidade que constitui o seu maior adorno.

“Este é, debaixo de certo ponto de vista, o estado em que se pratica mais altamente a virtude do respeito. O eremita pensa, medita, elucubra; para ele nada é pequeno, nada é sem importância, nada é trivial. Ele compreende as altas razões de todas as coisas e o caráter sagrado e augusto que, a seu modo, cada criatura e cada fato apresenta. “Ele está constantemente com o espírito posto nas coisas de Deus, e sua voz, quando fala, é como o som de um sino de bronze, grave, sério, que chama os homens para os temas mais elevados e para as cogitações mais profundas.

“Eis o sentido do estado eremítico. Como o mundo de hoje necessita disso! […]

“A trivialidade, a superficialidade, a banalidade de espírito, o engolfar-se apenas nas coisas visíveis e passageiras, com as quais o indivíduo se distrai, mas que não têm um sentido profundo, tudo isto é inerente à mentalidade [moderna] e corresponde ao contrário do caráter nobilíssimo da condição eremítica que, como tal, é um estado no qual os homens são como tochas ardentes dessa gravidade de espírito, desse respeito para com Deus e para com todas as criaturas enquanto espelham a Deus.

“Este estado de seriedade, de sobranceria, de distância psíquica e de auto equilíbrio é exatamente a glória do estado eremítico.”

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 34)

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1- Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. I, p. 378-382.

2- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Paulo e a glória do estado eremítico. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIX, n. 214 (janeiro 2016), p. 28-29.

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