Um gesto de Bento XVI
As atitudes deste Papa invariavelmente nos dão muito o que pensar.
Redação (01/12/2020 18:22, Gaudium Press) O último consistório deu à Igreja novos cardeais. Entretanto, mais significativo que a cerimônia celebrada na suntuosidade dos mármores de São Pedro com Francisco, foi um discreto encontro, ocorrido na singela capela “Mater Ecclesiae” com Bento XVI.
Lado a lado, dois homens de branco, Bento XVI e Francisco. Diante deles, de cabeça descoberta, estão os purpurados. Todos observam atentos a figura venerável de Ratzinger, a quem os anos pouco a pouco deixam cicatrizes, sem, contudo, diminuir a reluzente lucidez. Os neocardeais aproximam-se um a um do sábio, com o barrete vermelho na mão. Ajoelham-se respeitosos e levantam-se sorridentes.
As fotografias deixam pensar que Bento, gentilmente, colocou a cobertura rubra sobre aquelas cabeças, sob o olhar de Francisco, demonstrando muito contentamento. Atitude esta que nos faz navegar mar alto em elucubrações, todas elas agitadas e errantes como ondas encapeladas.
Os consistórios têm sido uma das poucas ocasiões em que Bento XVI deixa seu retiro, rompe seu silêncio e fala ao mundo. Desde a morte de seu irmão, não era visto publicamente. Entenda-se bem que para “falar” nem sempre é preciso pronunciar palavras. Por que esse costume repetido desde 2014? Francisco quer se assegurar na forte figura do Bento? Qual será o segredo desta singular entente? O que os dois “Pedros” teriam conversado? Restam só especulações. Mas é certo que Bento XVI é um desses homens a quem um suspiro deixa sem ar o mundo inteiro. Um gesto desta personagem, meio no mistério, meio no silêncio, atrai bem mais do que muitos discurso banais que pululam cá e lá…
Por Paulo da Cruz
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