Santa Isabel da Hungria: filha de rei e mãe dos indigentes
Hoje, dia 17 de novembro, a Igreja celebra Santa Isabel da Hungria: viúva aos 20 anos, deu mostras de um total desapego dos bens desta terra em troca dos bens do céu. Será ela exemplo para os nossos dias?
Redação (17/11/2024 07:22, Gaudium Press) Parece que, em Santa Isabel, a santidade desabrochou do berço. Nasceu em 1207, na Hungria. Ainda muito jovem sua piedade e respeito para com as coisas sagradas se evidenciaram de uma maneira fora do comum. Ao brincar com as outras meninas de sua idade, procurava algum jeito de encaminhá-las para a capela. Quando esta estava fechada, beijava-lhe a porta, a fechadura, as paredes, pois, dizia ela: “Deus lá dentro repousa”.
Aos nove anos, perdeu sua mãe, a Rainha Gertrudes. Na mesma época, faleceu também seu protetor, o Duque Herman, o qual era pai de seu futuro esposo e a tratava como verdadeira filha.
Casou-se aos 13 anos com o piedoso Duque Luiz da Turíngia, ao qual havia sido prometida em casamento desde tenra infância.
Caridade em grau heroico
Santa Isabel caracterizava-se por uma profusa generosidade em administrar os seus bens, distribuindo-os aos pobres. Ora, isto causava profunda irritação em muitas pessoas da corte, sobretudo nos seus dois cunhados, Henrique e Conrado. Acusando-a de estar “dilapidando o patrimônio familiar”, estes não perdiam oportunidade de tentar fazer-lhe algum mal.
Mesmo assim, seu amor a Deus a impelia a ações muito além do comum das obras de caridade.
Certa vez, um leproso pedira esmola na porta do castelo.
Guiada por uma inspiração divina, a jovem e formosa Duquesa desceu até lá, tomou o doente pela mão, levou-o até seu quarto e o fez deitar-se na cama do casal. Após tratar de suas chagas, deixou-o repousando, coberto com um lençol.
“Um escândalo!” — bramiram os intrigantes, que se apressaram em chamar às pressas o Duque Luiz. Ao chegar, este encontrou Isabel radiante de felicidade. Confiante em que seu digno esposo aprovaria esse heroico ato de caridade, ela contou o fato e disse:
— Ide ao quarto ver.
A surpresa pasmou o Duque: levantando o lençol, ele viu, não um leproso, mas Nosso Senhor Jesus Cristo! Este deixou-se contemplar por um instante apenas, o suficiente para confirmar naquelas duas almas de escol a certeza de estarem no bom caminho, depois desapareceu.
Isso, entretanto, não comoveu em nada os inimigos da Santa. Pelo contrário, o milagre só atiçou a inveja e o ódio dos dois cunhados contra ela.
Quando é o orgulho que está em jogo, nem os maiores sinais servem para a salvação dos maus.
Do castelo para um abrigo de porcos
Os anos se passaram, e vendo que Santa Isabel estava sem a proteção de seu virtuoso esposo – que partira para as Cruzadas no ano anterior – seus dois cunhados, dando largas ao ódio que lhe tinham, a expulsaram do castelo com os seus quatro filhos pequenos, sem permitir que ela levasse qualquer provisão ou indumentária a mais do que a que tinha no momento. E num requinte de crueldade, proibiram, sob severas penalidades, que os habitantes da cidade a abrigasse sob qualquer pretexto.
Salva por um taberneiro condoído que a acolheu, oferecendo como abrigo uma espécie de cavalariça que servia também de chiqueiro, a Duquesa viu-se na contingência de passar a noite, junto com os filhos, na companhia dos porcos, agasalhando-se com os utensílios de sua montaria para não morrer de frio.
Uma noite e um dia, ela passou nesta “pousada dos porcos”, onde foi altamente recompensada por uma aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Depois de liberta desse local por um piedoso padre, a Santa visitou o convento dos Frades Menores e pediu que cantassem um Te Deum, na intenção de agradecer a Deus a graça de participar dos seus sofrimentos!
Seus cunhados, porém, ao saberem disso, tiraram-na daquele abrigo, e a mantiveram presa em péssimas condições nas dependências de um velho castelo da família.
Uma consolação entre tantas provas
Após alguns meses de indescritíveis sofrimentos, sua tia Matilde, abadessa de Kitzing, tomou conhecimento desses fatos e enviou mensageiros para tirá-la de lá e levá-la com os filhos para o seu convento.
Nesse período, os cavaleiros do Duque Luiz acabavam de voltar da Cruzada. Apresentando-se a Conrado e Henrique, censuraram-lhes a dureza e crueldade com que haviam tratado a viúva e os filhos de seu próprio irmão que falecera no caminho da Terra Santa.
Os dois culpados, não resistindo à retidão dos seus vassalos – chorando – pediram perdão a Isabel, e restituíram-lhe todos os seus bens.
Sua vida, porém, daí em diante seria dedicada aos pobres e necessitados.
Curas milagrosas
Certo dia, encontrou um menino estropiado e disforme, estendido na soleira da porta de um hospital. Além de surdo-mudo, ele não conseguia andar senão de quatro, como um animal. A mãe deixara-o ali, na esperança de que a boa Duquesa dele se apiedasse e o acolhesse.
Logo que o viu, Isabel abaixou-se para acariciar-lhe os cabelos sujos e revoltos. E perguntou-lhe:
— Onde estão teus pais? Quem te deixou aqui?
Não recebendo resposta, repetiu as perguntas. Mas o pobre ente apenas a fitava com olhos arregalados. Desconfiando de alguma possessão diabólica, ela disse em alta e clara voz:
— Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te ordeno, a ti ou a quem em ti estiver, que me respondas de onde vens!
No mesmo instante, o menino ergueu-se e — ele que não havia aprendido a falar! — explicou-lhe com desembaraço sua triste vida. Depois, caindo de joelhos, pôs-se a chorar de alegria e louvar a Deus todo-poderoso.
— Eu não conhecia Deus, nem sabia de sua existência. Todo o meu ser era morto. Não sabia nada. Bendita sejas tu, senhora, que obtiveste de Deus a graça de não morrer como até o presente vivi.
A estas palavras, Isabel pôs-se também de joelhos para agradecer ao Senhor, junto com o menino, e, por fim, recomendou-lhe:
— Agora volta para teus pais e não digas nada do que te aconteceu. Diz apenas que Deus te socorreu. Guarda-te sempre do pecado para não acontecer de voltares a ser o que eras.
A notícia desse milagre correu como um rastilho de pólvora, espalhando por toda a Turíngia a fama de santidade de Isabel. Em consequência, aumentou o número dos que a ela recorriam. E Deus dignava-Se de, por sua intercessão, atender a todos.
Deixou pender a cabeça, como se dormisse
Na Sexta-Feira Santa de 1229, fez os votos na Ordem de São Francisco, e tomou o hábito das Clarissas. Tendo edificado para si apenas uma pobre morada, empregou seus recursos em construir igrejas para Deus e hospitais para os doentes pobres, dos quais ela mesma passou a cuidar dia e noite, operando também, em favor deles, prodigiosos milagres!
No dia 16 de novembro de 1231, a Santa adoeceu. Após receber a unção dos enfermos e o viático, Nosso Senhor apareceu a ela e revelou que dentro de três dias iria levá-la para o Céu. Depois desta visão, seu rosto ficou tão resplandecente que era quase impossível fixar-lhe os olhos.
Ao primeiro canto do galo do dia 19, deixou pender a cabeça e rendeu sua alma a Deus.
A pedido dos fiéis, seu corpo permaneceu exposto na igreja durante quatro dias, e muitíssimos milagres atestaram a sua santidade. Foi solenemente canonizada em 1235 pelo Papa Gregório IX, e até hoje sua memória causa-nos admiração!
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho, n. 35, novembro 2004. Por Antônio Queiroz.
Deixe seu comentário