São Fabiano, o homem sobre quem a Pomba pousou
Fabiano era um devoto cristão daqueles primeiros séculos, nos quais testemunhar publicamente o nome de Jesus significava pôr em risco a própria vida.
Redação (13/11/2020 09:00, Gaudium Press) Durante o governo do Imperador Felipe, o Árabe (244-249), houve um simples leigo que, por indicação do Espírito Santo, foi eleito papa e se santificou. Chamava-se Fabiano e, certo dia, ele increpou publicamente Felipe em razão de sua vida pecaminosa.
O sangue dos mártires corria às torrentes
A respeito de São Fabiano, escreveu Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Fabiano era um simples romano como outro qualquer. Um ‘homem da rua’, como hoje se diria. E sequioso de notícias como são em todos os tempos os seus congêneres.
“Ora, havia em Roma, ainda recente, uma grossa novidade: morrera o papa. E estava em gestão uma novidade ainda maior: ia ser escolhido pelo povo o novo pontífice.
“Nosso ‘homem da rua’, segundo o costume, saiu de casa e se misturou na multidão, reunida para a augusta escolha. Fabiano julgava chegar atrasado, isto é, a tempo somente de conhecer o resultado.
“E este veio, bem diverso do que Fabiano podia imaginar. Do alto do céu baixou uma pomba de esplendorosa alvura e pousou sobre a sua cabeça. Por esse fato simbólico, o Espírito Santo deixava claro que designava Fabiano. A multidão, piedosamente entusiasmada, escolheu o papa. E Fabiano, que saíra à rua para passear, se viu alçado assim à dignidade inigualável de sucessor daquele de quem o Salvador disse: Tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja. E as portas do Inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18). […]
“Aqueles remotos tempos se assemelhavam de algum modo aos nossos. A Igreja tinha adversários poderosos e implacáveis. O sangue dos mártires corria às torrentes em toda a vastidão do Império Romano.
“Também hoje a Igreja tem inimigos poderosos. E por toda parte os católicos são perseguidos. É certo que os adversários de hoje não são brutais como os de outrora. Perseguem com o sorriso hipócrita nos lábios, e a mão estendida para a colaboração dolosa. Hipocrisia ou brutalidade são acidentes. Em substância, o ódio é o mesmo.
Igreja governada por varões que não temem as feras
“Fabiano, cheio de veneração pelos mártires, começou seu pontificado enviando por todo o Império sete diáconos e sete subdiáconos, para que recolhessem por toda parte as atas dos martírios. Homem previdente, queria ele legar assim para toda a posteridade estas narrações de uma heroicidade sem igual, escritas pelo sangue dos homens por amor ao Sangue de Cristo. De sorte que até a consumação dos séculos servissem de adorno à Igreja.
“Mas Fabiano não recebera em vão a visita da Pomba. O ‘homem da rua’, presumivelmente pacato e mediano, transformou-se em herói, e não apenas em colecionador e compilador de feitos heroicos de outros.
“O Imperador Felipe levava uma vida cheia de pecados. Sem embargo, quis assistir às vigílias da Páscoa e participar dos Santos Mistérios. Fabiano, em lugar de aceitar a presença escandalosa do pecador, impediu que Felipe transpusesse os umbrais sagrados enquanto não confessasse seus pecados e não aceitasse se colocar no lugar reservado então aos pecadores penitentes dentro da Igreja. Felipe cedeu.
“E Fabiano, pela graça da Pomba — isto é, do Espírito Santo –, venceu assim a fera. Feliz da Igreja quando é governada por varões que, fortalecidos pela Pomba, não temem as feras!”
Décio, um dos imperadores que mais odiou a Igreja
Com a morte de Felipe, o Árabe, galgou o trono Décio, o qual foi um dos imperadores que mais odiou a Santa Igreja. Por sua ordem, todos os habitantes deveriam concorrer para extirpar da face da Terra os cristãos.
Afirma São Gregório de Nissa que os magistrados suspenderam todas as causas públicas ou particulares para se dedicarem à prisão e aos suplícios dos fiéis a Cristo. Correntes incandescentes, unhas de ferro, fogueiras, feras, estraçalhavam dia e noite os corpos dos mártires. Os parentes, vizinhos, amigos se atraiçoavam fazendo denúncias aos magistrados. As cidades se tornavam desertas e os desertos se povoavam 1 .
Continua Dr. Plinio:
“Bem entendido, as feras não gostam deste trato. No primeiro ano de seu pontificado, o Imperador Décio mandou decapitar Fabiano. Este é o fim sinistro do ‘homem da rua’ visitado pela Pomba, e transformado por Ela em um vencedor de feras. Fim sinistro?
O mártir foi colocado aos pés de Nossa Senhora
“Consideremos o desfecho da história, tão e tão elevado, que a legenda áurea apenas o deixa discretamente subentendido. No momento em que a cabeça venerável de Fabiano foi cortada, uma coorte rutilante de Anjos, provindo das alturas excelsas onde reinam o Padre, o Filho e o Espírito Santo, baixou para receber a alma santíssima do novo mártir. […]
“Fabiano, extasiado de felicidade e de glória, foi deposto pelos Anjos aos pés de Nossa Senhora. E como através de um telescópio os astros mais distantes parecem aproximar-se de nós, assim também junto ao Coração de Maria, Fabiano se sentia inteiramente saciado pela presença de Deus.
“Como é doce e glorioso contemplar Deus face a face, aos pés do trono de Maria! Nessas alturas celestes terminou o passeio do ‘homem da rua’, que fora pacatamente à procura de notícias sobre quem tinha sido eleito papa.
“E até o fim do mundo haverá homens que digam: ‘São Fabiano, rogai por nós!’ Eu, por exemplo. E tu também leitor. ‘Rogai por nós!’ Só isto? ‘Rogai, São Fabiano, pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana!” 2
Cumpre esclarecer que nos primórdios do Cristianismo os papas eram eleitos pela aclamação do clero e do povo de Roma. A partir de meados do século XI, apenas os cardeais têm o direito de eleger o novo sucessor de São Pedro.
Décio morreu afogado num pântano 3 . Tal foi a violência da perseguição contra a Igreja movida por ele que, após a morte de São Fabiano, o papado ficou vacante durante 16 meses.
Por Paulo Francisco Martos
1 Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1889, v.
VIII, p. 192.
2 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Papa São Fabiano, o “homem da rua” sobre quem a Pomba
pousou. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano X, n. 106 (janeiro 2007), p. 27-29. Publicado na Folha de
São Paulo, de 3-12-1976.
3 Cf. SÃO JOÃO BOSCO. História Eclesiástica. 6 ed. São Paulo: Salesiana, 1960, p. 66.
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