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Por que celebrar uma festa para “Todos os Santos”?

Na Solenidade de Todos os Santos a Igreja nos convida a ver com esperança nossos irmãos celestes, como estímulo para percorrermos por inteiro o caminho iniciado com o Batismo e atingirmos a plena felicidade na glória da visão beatífica.

Por que celebrar uma festa para Todos os Santos

Redação (01/11/2024 14:00, Gaudium Press) Na Solenidade de Todos os Santos a Igreja celebra todos aqueles que já se encontram na plena posse da visão beatífica, inclusive os não canonizados. Santos são também — no sentido lato do termo — todos os que fazem parte do Corpo Místico de Cristo: não só os que conquistaram a glória celeste, como também os que satisfazem a pena temporal no Purgatório, e os que, ainda na Terra de exílio, vivem na graça de Deus.

Quer estejamos neste mundo como membros da Igreja militante, quer no Purgatório como Igreja padecente, quer na felicidade eterna, já na Igreja triunfante, somos uma única e mesma Igreja.

Os Santos intercedem por nós e dão exemplo

Voltemos a atenção para os Bem-aventurados, — nossos irmãos, se vivermos na graça de Deus —, pois eles estão mais perto d’Aquele que é a Cabeça desse Corpo, Nosso Senhor Jesus Cristo. Eles são motivo de esperança para os que padecem nas chamas do Purgatório. E para nós, que possuímos pelo Batismo o germe dessa glória da qual eles já gozam, são modelo da santidade de vida que devemos alcançar.

Todo nosso empenho será pouco para obter que essa semente se transforme em árvore frondosa, no pleno desabrochar de suas flores e com abundância de frutos, isto é, a glória eterna, nossa meta última.

Precisamos avançar, então, rumo aos que estão na presença de Deus com o mesmo desejo com que procuraríamos nossa família, caso não a conhecêssemos, pois, entre os membros de uma família harmônica e bem constituída existe um imbricamento, fruto da consanguinidade, tão inquebrantável que, por exemplo, se um dos irmãos atinge uma situação de prestígio, todos os demais se regozijam.

Com efeito, muito maior há de ser a união daqueles que, pela filiação divina, pertencem à família de Deus, e maior também a alegria ao contemplarmos nossos irmãos louvando a Deus no Céu, por todo o sempre, e intercedendo por nós junto a Ele.

A ideia da felicidade eterna

Esta é a felicidade absoluta da qual nossos irmãos, os Santos, já gozam em plenitude na eternidade e com a qual nenhuma consolação desta vida é comparável.

Nossa ideia a propósito da felicidade é tão humana, que julgamos, muitas vezes, possuí-la em grau máximo ao obter algo que muito desejamos.

A mera inteligência do homem não alcança a compreensão da felicidade do Céu, pois em relação a Deus somos como formigas que, andando pela terra, levantassem a cabeça para olhar o voo de uma águia no céu. A diferença entre uma formiga e uma águia é ridícula perto da infinitude existente entre a razão humana e a inteligência divina. E ainda que, dotados de uma capacidade incomum, passássemos trezentos bilhões de anos estudando, nosso verbo continuaria falho e não encontraríamos termos para nos expressarmos devidamente a respeito de Deus.

Um empréstimo da inteligência divina

Pois bem, em seu infinito amor, Deus quis dar às criaturas inteligentes, Anjos e homens, um empréstimo de sua luz intelectual, o lumen gloriæ, para que possam nela entendê-Lo tal qual Ele Se entende — guardadas as proporções entre criatura e Criador.

Só no Céu veremos a Nosso Senhor Jesus Cristo de fato, uma vez que enquanto viveu na Terra ninguém O viu tal qual Ele é. Nem mesmo na Transfiguração, quando tomou, enquanto qualidade passageira, a claridade inerente ao corpo glorioso, São Pedro, São Tiago e São João chegaram a contemplar a essência de sua divindade, pois, do contrário, a alma deles ter-se-ia destacado do corpo.

Quanto mais aumenta em nós a esperança desse encontro e dessa visão, e, portanto, quanto mais crescemos no desejo de nos entregarmos a Deus e de Lhe pertencermos por inteiro na caridade, mais nos purificamos do amor-próprio e do egoísmo profundamente enraizados em nossa natureza.

Devemos ter bem presente que não existem três amores, mas apenas dois: o amor a Deus levado até o esquecimento de si mesmo ou o amor a si levado até o esquecimento de Deus.

Sigamos o exemplo daqueles que nos precederam na graça e nos esperam na glória!

O homem, ainda quando privado da graça, tem uma apetência de infinito que não descansa enquanto não for saciada pela união com Deus. É o que revela Santo Agostinho, em suas Confissões: “E eis que Tu estavas dentro de mim e eu fora, e fora Te procurava; e, disforme como era, lançava-me sobre as coisas belas que criaste. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de Ti aquelas coisas que, se não estivessem em Ti, não existiriam”.

 Essa felicidade imensa e indescritível, para a qual todos nós somos criados, só a atingiremos seguindo os passos daqueles que nos precederam com o sinal da Fé e que já gozam dela, por sua fidelidade a tal chamado.

Peçamos que essa bem-aventurança eterna seja também para nós um privilégio, pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, das lágrimas de Nossa Senhora e da intercessão de todos os Santos, a fim de um dia nos encontrarmos em sua companhia no Céu.

Enquanto lá não chegarmos, podemos nos relacionar com essa enorme plêiade de irmãos celestes, membros do mesmo Corpo, por um canal direto muito mais eficiente do que qualquer meio de comunicação moderno: a oração, o amor a Deus e o amor a eles enquanto unidos a Deus.

Tenhamos a certeza de que, do alto, eles nos olham com benevolência, rogam por nós e nos protegem.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Texto extraído, com adaptações, do livro O inédito sobre os Evangelhos vol.VII. p.227-239.

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