Por que utilizar pão e o vinho na Eucaristia?
Tudo o que Jesus fez foi perfeito. Desde seus divinos ensinamentos ou seus estupendos milagres, até o mínimo gesto ou atitude. Para o mais sublime dos milagres, então, por que terá Ele se utilizado do pão e do vinho?
Redação (28/10/2020 10:32, Gaudium Press) O trigo, depois de ceifado e colhido, é transformado em farinha; misturado com água e assado ao forno torna-se o alimento mais comum para o sustento do homem: o pão.
A uva é amassada para liberar o seu sumo, que será guardado com carinho pelo viticultor em grandes cubas, para ser fermentado, e dali sairá aquele precioso líquido que “é o júbilo da alma e do coração” (Eclo 31, 36): o vinho.
O pão e o vinho — oferecidos outrora por Melquisedec ao Senhor em sacrifício — são de tal maneira alimentos prediletos de Deus, que Ele os escolheu para operar o milagre da Transubstanciação. É sob as aparências do pão e do vinho que nosso Redentor quis permanecer conosco “todos os dias, até a consumação dos séculos” (cf. Mt 28, 20).
Por que pão e vinho?
A Santa Igreja sempre usa pão e vinho para o Sacramento da Eucaristia. Por quê? Porque Jesus assim o fez e mandou fazer.
Na Última Ceia, Ele tomou o pão, benzeu, partiu e deu a seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei; isto é o meu corpo”. Depois tomou o cálice com vinho, rendeu graças e lhes deu, dizendo: “Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue” (cf. Mt 26, 26-28). Assim também o ensina São Paulo, afirmando ter aprendido diretamente do Salvador essa mesma doutrina: “Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de Mim. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim” (1 Cor 11, 23-25).
Um passeio pelo mundo dos símbolos
Mas por que terá Deus escolhido pão e vinho para esse sacramento tão mais importante que os outros? O amor à Sagrada Eucaristia leva muitas almas a fazerem mais esta pergunta.
Convido o leitor a acompanhar os teólogos num atraente e formativo passeio pelos campos da Simbologia à procura da resposta.
A Eucaristia — explicam eles — é alimento espiritual, da mesma forma como o Batismo é uma ablução da alma. E assim como a água, por servir para o banho corporal, tornou-se matéria do Batismo, pelo qual os homens são lavados espiritualmente, assim também o pão e o vinho, que restauram as forças corporais, tornaram- se matéria da Eucaristia, pela qual os homens são espiritualmente alimentados.
O pão e o vinho são os mais nobres frutos do reino vegetal, com os quais se nutre e se conserva a vida do corpo, a tal ponto que Santo Irineu os qualifica como “primícias dos dons de Deus”. Convinha, portanto, que fossem eles os escolhidos para a Eucaristia, instituída por Jesus para conservar e aumentar a vida espiritual do homem.
O teólogo Juan Cornubiense, citado por São Tomás na Suma Teológica, inclui no vinho também as gotas de água que o celebrante põe no cálice antes da Consagração e afirma de modo mais belo ainda esse simbolismo: “Entre todas as coisas necessárias para o sustento da vida humana, o pão, o vinho e a água são as mais limpas, mais úteis e mais necessárias. Por isso elas foram preferidas a todas as outras e transformadas no que há de mais puro, mais útil e necessário para adquirir a vida eterna, isto é, no Corpo e Sangue de Cristo”.
A utilização do pão e do vinho no Sacramento da Eucaristia é também uma admirável imagem da unidade da Igreja: o pão se compõe de muitos grãos de trigo que formam uma só massa, e o vinho deflui de grande quantidade de uvas.
A Eucaristia é como um memorial da Paixão de Cristo, na qual o Sangue preciosíssimo do Divino Redentor foi separado de seu Corpo santíssimo. Então, para bem representar esse mistério, toma-se separadamente o pão como sacramento do Corpo, e o vinho como sacramento do Sangue.
O que é verdadeiro pão
Parece tão simples dizer: pão e vinho… Mas o que é verdadeiro pão e o que é vinho autêntico? Também desses detalhes se ocupa, com beleza e precisão, a Teologia.
Para ser válida a Consagração, só pode ser usado pão de farinha de trigo misturada com água natural. Se misturar qualquer outro líquido, não servirá para o Sacramento do Corpo de Cristo, pois não será verdadeiro pão, ensina São Tomás.
No Rito Grego, a Consagração é feita com pão fermentado, enquanto no Rito Latino se usa pão ázimo, ou seja, sem fermento. Qual dos dois está certo? Ambos, porque o fato de ser ázimo ou fermentado em nada altera a natureza do pão, mas diz respeito apenas ao modo de prepará-lo. E a Igreja determina que cada sacerdote celebre segundo o rito ao qual pertence.
O que é vinho autêntico
Para o Sacramento da Eucaristia, só pode ser usado vinho espremido de uvas maduras. Exclui-se, portanto, o “vinho” de qualquer outra fruta. Igualmente excluído está o agraço (suco de uvas verdes), por estar ainda em vias de formação e não possuir a qualidade ou condição de vinho.
Desde sempre a Igreja determina que, antes da Consagração, o celebrante junte ao vinho “uma pequeníssima” quantidade de água. E o Concílio de Trento (1545 a 1562) sustenta categoricamente a doutrina de que ela adquire as propriedades do vinho: “De acordo com a sentença e o parecer de todos os eclesiásticos, aquela água se converte em vinho”.
A Santa Igreja se baseou em vários motivos para estabelecer essa norma. Em primeiro lugar, porque, como os judeus costumavam tomar vinho misturado com água na ceia pascoal, parece certo que Cristo assim o consagrou na Última Ceia.
Mas a esse motivo somam-se outros de elevada expressão simbólica. Assim diz o Concílio de Trento: “A Igreja preceituou aos sacerdotes que misturem água ao vinho no cálice que se oferece, seja porque se crê que assim fez Cristo Senhor, seja porque de seu Lado transpassado pela lança do soldado fluiu sangue e água”.
Quando no cálice a água se mistura com o vinho, o povo se une a Cristo, afirma São Cipriano. E São Tomás de Aquino vai mais longe: “Quando a água se converte em vinho, significa que o povo se incorpora a Cristo”.
Para outros teólogos, essa mistura é também uma imagem da íntima união de Jesus Cristo com sua Igreja. O vinho, elemento nobre e precioso, simboliza o Homem-Deus; e a água é símbolo da humanidade inconstante e frágil.
Entretanto, a água não é necessária para a validade da Consagração. A mistura de água com o vinho — ensina a Teologia — diz respeito à participação dos fiéis no Sacramento da Eucaristia, significando que o povo se une a Cristo. Ora, tal participação não é de necessidade essencial para ser válido esse Sacramento.
Pão do Céu
Quantas e quantas vezes nos sentimos desanimados por causa de nossa fraqueza espiritual, ou quase nos deixamos vencer pelas tristezas desta terra de exílio! E não é raro nos revoltarmos, ou tentarmos culpar outros. Mas bastaria nos olharmos em algum espelho para encontrarmos a quem acusar com certeza.
Sim, nós, que costumamos tomar tanto cuidado com nosso alimento físico, descuramos nossa alma, e esquecemos de que ela também — e muito mais — precisa ser tratada com carinho. Para isso temos à disposição o “Pão do Céu” (Go 6, 32), que nos dará forças para tudo suportar, para crescer, para alcançar a santidade, conforme a promessa de Jesus: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6, 56).
Aproximemo-nos, pois, o mais possível do Sacramento do Altar, prelúdio do eterno convívio que teremos com Jesus no Céu.
Pe Felipe Ramos, EP
Artigo extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 51 março 2006.
Deixe seu comentário