Como enfrentar as dificuldades?
Há um fator indispensável para manter firme qualquer coração: a clareza do fim. Se este não estiver claro, o ânimo esfriará quando surgirem as primeiras dificuldades e os dramas tão comuns do dia-a-dia.
Redação (15/10/2020 11:02, Gaudium Press) Muitas são as ofertas de uma felicidade passageira que encontramos hoje em dia, apresentando fórmulas “mágicas”… fora do único caminho que é Jesus Cristo e sua Igreja. Tudo não passa de pura ilusão. Fomos criados para o Céu! Eis o que nos dá ânimo, resolução e alegria.
Deus deseja conferir-nos eternamente sua própria felicidade, fazendo-nos partícipes de sua natureza no esplendor da glória. É fundamental para nós pensarmos, com constância, na glória eterna, como um prêmio imensamente grande a nós oferecido. Nada há de melhor do que essa meditação para enfrentarmos as dificuldades e as cruzes do dia-a-dia.
Aqui está uma observação importante a ser feita: muitos há que nos mostram a cruz do Senhor, e isto é ótimo e digno de todo louvor! Todavia, não basta. O objetivo de nossa existência não é a dor, nem o sacrifício. Não podemos nos esquecer da luz, nosso verdadeiro destino. A cruz não é o ponto final de nosso processo humano: é apenas o caminho. “Per crucem, ad lucem” — “Pela cruz, chegaremos à luz”.
Graças místicas
Enquanto a fé nos faz crer na divindade de Cristo e em suas promessas, a caridade nos conduz a uma entranhada união com Deus. São duas virtudes extremamente interdependentes. Sem a fé na esplendorosa vida eterna que nos espera, a caridade tende a desaparecer.
Mas, se a fé e a caridade dos apóstolos tanto lucraram quando viram a Transfiguração do Senhor, não haverá algo, nessa mesma linha, que poderá auxiliar a vida espiritual de cada um de nós?
A resposta é inteiramente positiva. Deus derrama graças místicas sobre todos os que trilham as vias da salvação, em intensidade maior ou menor, segundo o caso. Mas ninguém está excluído de recebê-las. Quem afirma isso é o famoso teólogo dominicano, Pe. Réginald Garrigou-Lagrange:
“Para esses autores, a vida mística não é coisa extraordinária, como as visões e revelações, mas algo eminente na via normal da santidade. Consideram eles que isso é comum para as almas chamadas a se santificar na vida ativa, como São Vicente de Paulo. Absolutamente não duvidam que os Santos de vida ativa tenham tido normalmente a contemplação infusa bastante frequente dos mistérios da Encarnação redentora, da Missa, do Corpo Místico de Jesus Cristo, do preço da vida eterna, se bem que esses Santos diferem dos puramente contemplativos, no sentido de que neles essa contemplação infusa é mais imediatamente dirigida à ação.”
Um “Tabor” em nossos corações
É fora de dúvida, pois, que Deus concede “Tabores”, ou seja, graças místicas, a cada um de nós. Quem não terá sentido, alguma vez, uma alegria interior, um palpitar do coração, uma emoção calma mas profunda, ao assistir a uma bela cerimônia? Ao apreciar o canto gregoriano, por exemplo? Ou ao contemplar alguma imagem? Quiçá ao ver um lindo vitral banhado de luz, dentro de uma igreja silenciosa, que deixa lá fora os ruídos do mundo? São mil ocasiões em que a graça sensível nos visita, e nos concede contemplações interiores, pré-degustações da felicidade perfeita que nos espera no Céu.
Dois Doutores da Igreja, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, mestres da vida espiritual, dizem que a Providência costuma conceder aos principiantes graças místicas que depois irão experimentar novamente só no fim de suas vidas. Tal proceder divino visa fortalecer essas almas para atravessarem os períodos de aridez. É um modo comum de Deus agir: dá-nos consolações — o Tabor — para, quando vier a hora do Getsêmani, termos forças, sabendo que o fim será mais cheio de alegria e esperança.
Assim, ao longo de nossa existência terrena, já iremos experimentando um pouco das delícias eternas, e as tendas tão desejadas por São Pedro sobre o monte da transfiguração, Jesus as irá levantando no “Tabor” de nossos corações. Para tal, Ele exige de nós apenas uma condição: que não Lhe coloquemos obstáculos.
Portanto, as experiências místicas nos tornam patente quanto Jesus nos ama e quer nossa eterna glória. Essas graças nos animam a enfrentar as dificuldades desta vida.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias,EP
Texto extraído, com adaptações da revista Arautos do Evangelho n.8 agosto 2002.
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