A prática da verdadeira gratidão
A saúde, o alimento, o repouso, o conforto: tudo vem de Deus. E nós Lhe agradecemos?
Redação (13/10/2020 19:29, Gaudium Press) Raras vezes interrompemos as ocupações cotidianas para considerar quantos bens nos são concedidos pela Divina Providência ao longo da nossa vida, ainda que não os tenhamos pedido ou sequer desejado. Se formos até à raiz de tais benefícios, devemos lembrar que não existiríamos sem um desígnio de Deus.
A partir do nada, foi Ele constituindo a diversidade de seres ao longo dos seis dias da criação, como está descrito no Gênesis, até modelar Adão do barro e Eva de sua costela, e neles infundir a vida. E cada nascimento, que ocorre a todo instante no mundo inteiro, é um fato extraordinário porque à lei física se acrescenta uma lei espiritual: Deus infunde uma alma inteligente, criada pelo simples desejo de sua vontade, num corpo concebido pelo concurso do pai e da mãe. E tudo o mais — a saúde, o alimento, o repouso, o conforto — vem d’Ele, direta ou indiretamente.
Além disso, o Criador nos promete, depois de transpor os umbrais da morte, um grande milagre: tendo nossos corpos sofrido a decomposição, voltando ao barro do qual fomos feitos, retomaremos um corpo glorioso que se unirá de novo à nossa alma, já na visão beatífica, e gozaremos da felicidade de Deus por toda a eternidade.
Quanta bondade! Entretanto… como é a nossa resposta? Somos gratos por tudo quanto recebemos?
Forma materialista da gratidão
No entanto, quão rara é a virtude da gratidão! Muitas vezes ela se pratica apenas por educação e meras palavras. Todavia, para ser autêntica, é preciso que ela transborde do coração com sinceridade.
É lamentável, afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que “a virtude da gratidão seja entendida hoje de um modo contábil. De maneira que, se alguém me faz um benefício, eu devo responder, contabilisticamente, com uma porção de gratidão igual ao benefício recebido.
Há, portanto, uma espécie de pagamento: favor se paga mediante afeto, bem como mercadoria se paga mediante dinheiro. Então, eu recebi um favor e tenho de arrancar de dentro de minha alma um sentimento de gratidão. Também fico pago, tenho um alívio, estou quite”.
Essa é uma forma pagã, materialista, de conceber a gratidão. Bem diferente é essa virtude quando impregnada de espírito católico.
A virtude da gratidão
“A gratidão é, em primeiro lugar, o reconhecimento do valor do benefício recebido. Em segundo lugar, é o reconhecimento de que nós não merecemos aquele benefício. E, em terceiro lugar, é o desejo de dedicar-nos a quem nos fez o serviço na proporção do serviço prestado e, mais ainda, da dedicação demonstrada com relação a nós. Como dizia Santa Teresinha, ‘amor só com amor se paga’. Ou a pessoa paga dedicação com dedicação ou não pagou. […]
Ora, além de dar-nos a vida humana, Deus nos concede o inestimável tesouro da participação na sua vida divina pelo Batismo e, mais ainda, nos dá constantemente a possibilidade de recuperar esse estado quando perdido pelo pecado, bastando para isso o nosso arrependimento e a Confissão sacramental.
Sobretudo dá-Se a Si mesmo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade como alimento espiritual para nos transformarmos n’Ele, santificando-nos de maneira a nos garantir uma ressurreição gloriosa e a eternidade feliz.
Como agradecer a Deus
Nosso Senhor Jesus Cristo nos deixou sua Mãe como Medianeira para cuidar do gênero humano com todo carinho e desvelo. Os benefícios que Deus nos outorga são, assim, incomensuráveis! Qual não deve ser, pois, nossa gratidão em relação a Nosso Senhor e a sua Mãe Santíssima?
De fato, a gratidão de nossas almas ao benefício que Nossa Senhora nos fez, consentindo na morte de seu Divino Filho e aceitando as dores que sofreu para que fôssemos resgatados, […] deve ser imensa e deve nos levar a querer servi-La com uma dedicação análoga.
Abraçar com entusiasmo e abnegação a santidade e batalhar com sempre crescente dedicação pela expansão da glória de Deus e da Virgem Puríssima na Terra, eis o melhor meio de corresponder ao infinito amor do Sagrado Coração de Jesus, que se derrama sobre nós às torrentes, do nascer do Sol até o seu ocaso.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos n.142 outubro 2013. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
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