A importância da Palavra
Para o que prega a divina palavra, o amor é como o fogo em um fuzil. Se um homem atirar uma bala com a mão, pouco estrago faz, mas, se essa mesma bala for arremessada com o fogo da pólvora, mata. Assim é a palavra de Deus. Se for dita naturalmente, sem espírito sobrenatural, pouco bem faz, mas se for dita por uma pessoa cheia do fogo da caridade, do amor a Deus e ao próximo, operará prodígios. (Santo Antônio Maria Claret)
Redação (29/09/2020 15:59, Gaudium Press) Em seu infinito amor por nós, Deus tem enorme desejo de entrar em contato conosco e fazer-nos participantes de sua alegria eterna. Para facilitar ao máximo esse relacionamento, quis Ele deixar na própria natureza reflexos de seu anseio de comunicar-Se.
Analisando, por exemplo, as formigas, vemos como, ao descobrir algum alimento, elas rapidamente se organizam num verdadeiro cortejo a fim de levá-lo até o formigueiro. Embora não conversem entre si, transmitem informações umas às outras ao se “cumprimentarem” com as antenas, tornando possível o trabalho em conjunto.
Aos homens, porém, o Criador reservou um meio mais perfeito para se comunicarem: a palavra. De fato, se não tivéssemos essa capacidade de nos expressar, como transmitiríamos aos demais nossos pensamentos, juízos e experiências?
A palavra é um elemento essencial no convívio humano, a ponto de, em muitas ocasiões, se constituir num critério para indicar com quem queremos ou não nos relacionar. Cortar a palavra com alguém significa um rompimento, chegando às vezes a criar graves indisposições até entre familiares. Do mesmo modo, negar a outro o uso da palavra no ambiente social pode feri-lo profundamente. E não menos trágica é a situação de quem precisa de uma palavra de orientação, mas não encontra quem a diga.
Pois bem, a palavra humana, tão importante para a boa convivência, não é senão pálida imagem de uma realidade muito mais alta: a Palavra de Deus manifestada aos homens.
Como ouvir a Palavra
“Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não compreende, vem o maligno e rouba o que foi semeado em seu coração” (Mt 13, 19). Essa é uma das numerosas passagens da Sagrada Escritura nas quais se põe em relevo a Palavra. Aqui, Jesus nos adverte que ela deve ser não só ouvida, mas também entendida.
Tal Palavra é eficaz e poderosa. Ela tem a capacidade, por exemplo, de pacificar. Quem, sobressaltado de preocupações, correrias ou angústias, quiser reencontrar a paz, preste atenção nesta Palavra: “Eu disse essas coisas para que tenhais a minha paz. Neste mundo, vós tereis aflições, mas tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33).
“Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 28). Nesses dizeres de nosso Salvador, encontramos um terceiro degrau, ao qual deve subir quem já ouviu e compreendeu: pôr em prática. A recompensa é atingir a felicidade.
Essa potente Palavra também condena, como ensinou o próprio Redentor: “Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras, já tem seu juiz. A palavra que falei será o seu juiz no último dia” (Jo 12, 48).
Para muitos, ela é causa de enlevo e admiração: “Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com a inteligência de suas respostas” (Lc 2, 47). Para outros, pelo contrário, ela é motivo de divisões, contradições e ódios: “Ele tem um demônio, está louco! Por que vós O escutais?” (Jo 10, 20). Mas, que Palavra é essa?
Consultemos de novo a Sagrada Escritura e aí encontraremos um esclarecimento: “Porque Eu não falei por mim mesmo; o Pai que me enviou, Ele é que me ordenou o que Eu devia dizer e falar” (Jo 12, 49). Há, portanto, uma íntima relação entre o Pai e o Filho no tocante à palavra. E o Filho, que é a Palavra, a promulga. Daí vem sua eficácia divina, a ponto de nos garantir a vida eterna.
Conforme a repreensão do Senhor, essa Palavra deve ser compreendida. Para isso, é necessário que seja oferecida de modo belo, didático e atraente ao ouvinte, para que nele penetre seu significado.
Segundo São Tomás de Aquino, quem anuncia a Palavra, se quiser ter sucesso, precisa ser contemplativo, estudioso, bem instruído e fiel às normas da Igreja, bem como virtuoso. Ademais, deve ser uma pessoa de oração, uma vez que só com o auxílio do Espírito Santo, sua palavra convencerá e moverá os corações.
A palavra no mundo atual
No entanto, a situação do mundo de hoje é bem diferente. Não há fé na Presença Real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento; não se venera Maria Santíssima como protetora nossa e Medianeira de todas as graças; já não se pratica a Lei de Deus e a Palavra de Deus é posta de lado. A confusão reina e as palavras pronunciadas são dúbias, vazias e falsas; ouvidas na indiferença, ignorância e confusão, porque se deixou de crer como em outros tempos. A sociedade vai se constituindo com base em novas leis e nova moral, cada vez mais agressivas à religião.
Não devemos, porém, cruzar os braços e deixar que tudo se arruíne. É preciso lutar, levar a todos a Palavra de Deus com toda a sua força, a fim de levá-los a experimentar a verdadeira felicidade que só a vida da graça nos dá. Há apenas um caminho para a salvação da humanidade: a fé manifestada pelas obras (cf. Tg 2, 17-18), o cumprimento dos Mandamentos da Lei de Deus; ou seja, “ouvir a Palavra de Deus e colocá-la em prática”.
Neste momento de crise em vivemos, peçamos a graça de compreender a grandeza do chamado que nos foi confiado e, inteiramente fiel às inspirações do Alto, atentos à Palavra de Deus e ungidos pela força da graça, anunciemos a Boa-nova aos pobres de espírito, rumo à vitória de Maria Santíssima profetizada em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”
Texto extraído, com adaptações, das revistas Arautos do Evangelho n. 82 outubro 2008 e n. 205 janeiro 2019.
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