Papa: nem tudo se resolve com a justiça, é preciso perdoar para ser perdoado
Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se não concedermos perdão ao nosso próximo. Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.
Cidade do Vaticano (14/09/2020, 10:10, Gaudium Press) O Papa Francisco inspirou-se no trecho do Evangelho de São Mateus (Mt 18, 21-35), umas das leituras propostas pela liturgia para este XXIV Domingo do Tempo Comum, 13/09, para fazer sua reflexão durante o Angelus.
Dirigindo-se aos fiéis reunidos na Praça São Pedro, Francisco falou do perdão, enfatizando que devemos “aplicar o amor misericordioso nas relações humanas”:
“Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar (…). Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e a misericórdia fossem o estilo de nossa vida! ”, disse Francisco.
E, no final de sua reflexão, o Papa pediu a intercessão da Mãe de Deus: que Ela sempre nos recorde do quanto somos devedores de Deus. “Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados. ”
Um Senhor indulgente e compassivo
Para o Papa Francisco, o centro da parábola do rei misericordioso contada por Jesus é a indulgência que o Senhor demonstra para com o servo com a dívida maior.
À súplica “Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo” é encontrada duas vezes na parábola, começou explicando o Papa:
“A primeira vez (ela) é pronunciada pelo servo que deve a seu patrão dez mil talentos, uma soma enorme. A segunda vez, (a palavra misericórdia) é repetida por outro servo do mesmo Senhor. Ele também está em dívida, não com seu senhor, mas com o mesmo servo que tem uma dívida enorme. E a dívida dele é muito pequena, talvez como o salário de uma semana.”
O Senhor teve compaixão e o servo mostra-se implacável
O Senhor –conforme descrito por São Mateus– teve compaixão, deixou o servo ir embora, perdoando sua dívida.
Era uma dívida enorme e o perdão também foi enorme.
Por sua vez, o servo, depois de ser perdoado, mostra-se implacável com seu companheiro que lhe devia uma soma modesta, –bem menor que a que ele tinha para com seu senhor–, e manda-o para a prisão até que este pague sua pequena dívida.
O Senhor fica indignado ao saber, chama o servo malvado e faz com que seja condenado:
“Mas eu te perdoei tanto e és incapaz de perdoar este pouco?”
Para Deus, a justiça é permeada pela misericórdia
Francisco explica que na Parábola encontramos duas atitudes diferentes: a de Deus – representado pelo rei, que perdoa tanto, porque Deus perdoa sempre – e a do homem:
“No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humano se limita à justiça. Jesus exorta-nos a abrirmo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça”.
Aplicar sempre o amor misericordioso nas relações humanas
De fato, “há necessidade desse amor misericordioso”, que é também a base da resposta do Senhor à pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar um irmão que peca contra ele. O “setenta vezes sete”, na linguagem simbólica da Bíblia, “significa que somos chamados a perdoar sempre”:
“Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida! Mesmo em família. Quantas famílias desunidas, que não sabem se perdoar, quantos irmãos e irmãs que têm este rancor. É necessário aplicar o amor misericordioso em todas as relações humanas: entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, nas nossas comunidades, na Igreja e também na sociedade e na política.”
É necessário esforçar-se para perdoar e amar e, então, sermos perdoados e amados
“Não é fácil perdoar”. Perdoar não é algo só de momento, é uma ação contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. ”
Assim, disse Francisco, esta parábola “ajuda-nos a compreender plenamente o sentido daquela frase que recitamos na oração do Pai-Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido”:
“Essas palavras contêm uma verdade decisiva. Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se, por sua vez, não concedermos perdão ao nosso próximo. É uma condição: pense no fim, no perdão de Deus e deixe de odiar, mande embora o rancor, aquela mosca incômoda que volta e volta e volta. Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados. ” (JSG)
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