“A historicidade dos Evangelhos pode ser demonstrada totalmente”, assegura Vittorio Messori
Por ocasião da republicação de um de seus livros sobre Jesus Cristo, ‘Patì sotto Ponzio Pilato’ (Padeceu sob Pôncio Pilatos), a jornalista Solène Tadiè da ‘National Catholic Register’ entrevistou o renomado jornalista e escritor.
Redação (02/09/2020 16:00, Gaudium Press) Por ocasião da republicação de um de seus livros sobre Jesus Cristo, ‘Patì sotto Ponzio Pilato’ (Padeceu sob Pôncio Pilatos), Solène Tadiè da ‘National Catholic Register’ entrevistou o renomado jornalista e escritor Vittorio Messori. Os temas: seus livros sobre Jesus, a história de sua escrita, alguns aspectos da história de sua vida, sua amizade com o Cardeal Ratzinger, entre outros. Reproduzimos aqui alguns dos trechos mais importantes dessa entrevista, de quem é também doutor em ciências políticas.
Acerca de um humanismo incompreendido na Igreja, Messori disse que muitas vezes “tendemos a reduzi-lo [o Evangelho] à prática de boas obras, como ajudar ao próximo, acolher refugiados, construir lares para idosos, etc. Isso se converte em um Evangelho baseado em boas intenções, reduzindo-o a uma espécie de humanismo. Mas devemos recordar que o principal ensinamento do Evangelho não é a bondade; não se trata de apoiar a todos os necessitados que nos rodeiam, ainda que, é claro, esses fatos sejam necessários. Mas o que nunca devemos esquecer é que a palavra ‘Evangelho’, que vem do grego ‘evangélion’, significa ‘Boa Nova’. O primeiro propósito do Evangelho, do qual também fluem as boas obras, é anunciar a Boa Nova de que Jesus Cristo venceu a morte e abriu as portas do céu.
O primeiro dever do sacerdote é anunciar a Cristo morto e ressuscitado
Inclusive chegou a relacionar este mal entendido com a crise do sacerdócio: “Cristo não veio para nos ensinar como fazer boas obras, antes de tudo. Na verdade, nossas boas obras são consequência da Boa Nova. A prioridade é abrir-nos as portas do céu. Da mesma maneira, a crise do sacerdócio hoje decorre do fato de que muitos sacerdotes se esqueceram que seu primeiro dever é anunciar ao seu rebanho o Evangelho e a ressurreição de Cristo, o que demonstra que realmente é o Filho de Deus.
Messori comprova o interesse que continua existindo pela pessoa de Jesus e seus ensinamentos com o sucesso de sua primeira obra sobre a vida do Salvador, ‘Ipotesi su Gesù’ (Hipóteses sobre Jesus), da qual foram vendidos dois milhões de exemplares só na Itália.
“Com base na minha própria experiência, posso dizer que inúmeras pessoas estão dispostas a aprender mais sobre Cristo e sua vida; estão ansiosas para aprofundar seu conhecimento sobre ele. Muitos sacerdotes de hoje relutam em falar de Jesus Cristo, porque pensam que a verdade sobre sua existência e sacrifício já não é mais aceitável para o homem comum”, algo que Messori considera equivocado e o prova com a impressionante cifra de “20 mil cartas de leitores em reação aos meus livros nos últimos anos”.
A historicidade dos Evangelhos é mais que comprovada
A jornalista Tadié pergunta a Messori se os evangelistas poderiam ter interpretado erroneamente alguns fatos que realmente ocorreram. A isso Messori responde que ele fez antes de tudo uma pesquisa histórica. “Tenho estudado cada detalhe, palavra por palavra, tudo o que dizem os quatro Evangelhos sobre a paixão e a morte de Cristo, tendo um bom conhecimento da história judaica e romana. Ninguém poderia desafiar a verdade histórica. As possibilidades de destruir os fatos expostos em meu livro são iguais a zero porque tudo o que escrevi para provar a verdade da paixão e morte de Cristo é parte de uma história que podemos demonstrar plenamente”. Das muitas histórias que circularam sobre Jesus, a Igreja escolheu apenas quatro, os quatro Evangelhos, que eram os mais confiáveis, que reproduzem “testemunhos que derivam diretamente daqueles que viveram esses acontecimentos”.
Messori conta que não realizou sua pesquisa sobre os Evangelhos sendo fiel, mas que sua conversão ocorreu concomitantemente a isto. De tal forma que, se “eu tivesse descoberto que algo não se ajustava à realidade histórica, simplesmente teria abandonado minha nascente Fé Católica”. Porém, “agora, quanto mais avanço em minha vida, mais me convenço de que não estava equivocado e de que o Evangelho é verdadeiramente um mistério a ser explorado e abraçado”.
Uma descoberta que mudou sua vida
Essa descoberta, da veracidade histórica dos Evangelhos, teve um impacto decisivo em sua vida.
“Me tornei um apaixonado pela história do Evangelho, e foi assim que tudo começou. Em 40 anos de trabalho, publiquei 24 livros, todos relacionados com a apologética [ndt. Defesa das verdades da Fé]. As tentativas de meus livros são para mostrar ao homem moderno que ainda é possível acreditar no Evangelho. Todos estes anos, tentei provar algo do qual duvidava no início da minha vida: o fato de que o Evangelho é historicamente confiável, que tudo realmente aconteceu. Toda a verdade do Evangelho se resume em um único acontecimento, ou seja, a paixão, morte e ressurreição de Cristo”.
“Meus três livros que estão sendo reeditados, ‘Ipotesi su Gesù’, ‘Patì sotto Ponzio Pilato’ e ‘Dicono che è risorto’, oferecem um estudo e pesquisa em profundidade sobre este fato que mudou o curso da história. São os pilares que sustentam toda a estrutura do meu pensamento”.
Seu relacionamento com o Cardeal Ratzinger
Durante a entrevista, Messori também traz boas recordações de sua relação com o Cardeal Ratzinger, fruto da famosa obra ‘Rapporto sulla fede’ (Relatório sobre a Fé). Reproduzimos esses comentários na íntegra:
“Fui muito amigo de Joseph Ratzinger quando ele era Cardeal. O livro que escrevemos juntos não passou despercebido e teve ampla cobertura mundial, visto que era a primeira vez que o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) confiava em um jornalista. Costumávamos almoçar juntos todas as vezes que o visitava em Roma. Sempre brincamos um com o outros sobre a peculiaridade de nossa relação, já que não era comum naquela época que clérigos e jornalistas estivessem associados tão estreitamente”.
“Ele é a pessoa mais amável e compreensiva que já conheci. O fato de que fosse apresentado como o ‘Grande Inquisidor do Santo Ofício’, como se estivesse impedindo a evolução da Igreja, sempre me fez sorrir. Na verdade, Ratzinger foi, e ainda é, acima de tudo um erudito, um professor. Costumava ser muito feliz quando ensinava na universidade alemã”.
“Ele sempre disse que não se sentia capaz de acompanhar o trabalho de seus colegas católicos e chamá-los à ordem. Ele pediu três vezes a João Paulo II que o destituísse de seu posto de prefeito na CDF, mas este último se recusou em todas as ocasiões. Ele costumava dizer que não era seu trabalho, que ele era apenas um simples professor. Sempre me chamou a atenção sua humildade. Eu o vejo como um ótimo candidato para o céu”. (EPC)
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