São Luís, Rei: perfeito modelo de governante
O que simbolizou de modo particular São Luís, Rei de França, cuja memória a Igreja celebra no dia 25 de agosto? O que a História bem narrada e bem estudada nos ensina a respeito de São Luís? Ele brilhou especialmente pela castidade? Pelo recolhimento? Pela pobreza? Se considerarmos os feitos externos de sua vida, nada disso se pode afirmar inteiramente.
Redação (25/08/2024 08:04, Gaudium Press) São Luís, além de ter sido um grande santo da Idade Média, deixou atrás de si a tradição com sua personalidade: um sulco de verdade, de objetividade e uma imagem que se conserva fiel à realidade histórica, apesar de tantas revoluções, transformações e da pregação de tantas doutrinas de ódio e de erro difundidas na França.
Em que aspecto brilhou especialmente a personalidade de São Luís?
O que se venera na pessoa de São Luís? O que a História bem narrada, bem estudada, nos ensina a respeito de São Luís? Ele brilhou especialmente pela castidade? Pelo recolhimento? Pela pobreza? Em favor da Igreja? Se considerarmos os feitos externos de sua vida, nada disso se pode afirmar inteiramente.
Que ele brilhou pela castidade, não há dúvida nenhuma. Todo santo é necessariamente casto. São Luís conservou a virgindade até o matrimônio; casou-se, foi um esposo fidelíssimo. Com efeito, sua vocação não lhe pediu de guardar uma castidade à maneira de São Luís de Gonzaga.
Foi então o recolhimento que o fez brilhar? Em outros santos, o recolhimento refulgiu muito mais: nos eremitas que se separaram completamente do mundo e passaram a viver em lugares totalmente desertos. Ou nos cenobitas que foram viver em conventos, afastados da civilização para levar ali uma vida inteira de silêncio, de estudo e de oração. São Luís, não. Ele viveu no meio do mundo, na direção do maior reino da Terra no tempo dele, que era o reino da França, relacionando-se continuamente com os homens.
Teria sido o espírito combativo? São Luís foi um cruzado, um grande guerreiro, mas houve na Civilização Cristã guerreiros mais bem sucedidos do que ele. As duas Cruzadas que ele empreendeu não alcançaram as vitórias que ele desejava. Existiram, portanto, guerreiros que realizaram feitos de guerra, dentro da inspiração católica, maiores do que ele.
De fato, guerreiros não santos alcançaram vitórias maiores do que as obtidas por São Luís. Por exemplo, Dom João d’Áustria obteve em Lepanto uma grande vitória cristã que São Luís não conseguiu com as suas Cruzadas.
Então, o que em São Luís nos dá um brilho da sua personalidade ou que se realça mais do que nos outros santos?
Varão católico na plenitude da expressão
São Luís representou, com uma plenitude que poucas vezes se encontra na História da Igreja, o varão católico: leigo, vivendo no século a vida de todo mundo e cumprindo, com a mais alta perfeição, os Mandamentos da Lei de Deus.
Quando a Igreja canoniza um santo, a recordação deste santo se prolonga pelos séculos e, às vezes, permanece mais vivaz em alguns do que em outros. É uma missão histórica post mortem, como a missão histórica de Santa Terezinha post mortem que consistiu em derramar uma chuva de rosas em torno dela. E São Luís?
Ele foi o varão na plenitude do termo para provar que o homem deve ser santo dentro da vida quotidiana. Que a santidade não é apenas o distintivo do padre, do frade, do monge, mas de todos os católicos dos quais Deus espera o cumprimento exato dos Mandamentos. E a muitos ele pede um cumprimento tão perfeito que são levados à honra dos altares. Isso São Luís nos ensinou. Ele foi um homem que provou que o bom católico pode ser varão até onde se deve, mas não lhe é vedado, por causa disto, ter certas qualidades que os espíritos superficiais reputam incompatíveis com a varonia.
Rei que realizou o equilíbrio feudal perfeito
N Era um rei que tinha mão firme e manteve de tal maneira a autoridade em seu reino, que poucos reinados na História da França conheceram a paz interior tão ampla e tão perfeita como se conheceu no tempo de São Luís.
O regime feudal dava oportunidade a uma nobreza ainda muito turbulenta, devido à proximidade dos bárbaros, de se levantar nos seus feudos contra o rei. Por causa disto, muitos reis perseguiram a nobreza e tentaram extingui-la; e, afinal, quase todos eles reduziram a nobreza a um mero papel de aparato.
Com São Luís, o que se deu? O equilíbrio perfeito. Ele foi um rei que conservou o regime feudal e manteve a nobreza no uso de todos os seus privilégios. Em várias ocasiões, ele herdou feudos e poderia tê-los reunido à coroa, contudo, não quis fazê-lo e nomeou outras famílias para esses feudos, conservando-os autônomos.
São Luís assegurou a paz no reino da França, realizando o equilíbrio feudal perfeito. Sem embargo, demonstrou que um homem pode manter a ordem com força sem ser um tirano, provando que a bondade, a justiça e a respeitabilidade têm um papel que a força nunca chega a preencher completamente. Ademais, que a irradiação das virtudes é, em muitas ocasiões, uma circunstância indispensável para a manutenção da autoridade. A manifestação de sua justiça, equilíbrio e bondade encantava e atraía a confiança de todos.
Foi o varão ao mesmo tempo forte e bondoso; justo, equitativo, ciente de seus direitos; que sabe se fazer temer e respeitar, bem como dar a cada um o que é seu; e que introduz, assim, em torno de si a verdadeira paz, ou seja, a tranquilidade da ordem. Não é a tranquilidade da chibata, mas a da ordem; pôr todas as coisas em ordem para que elas fiquem em paz, e depois repreender quem estiver fora da ordem. Esta é a verdadeira tarefa do ordenador.
O cruzado
São Luís passou quatro anos na Terra Santa, tratando com os maometanos. Os historiadores reconhecem que ele foi tão ágil em jogar uns maometanos contra outros e embrulhá-los que o poder maometano ficou, durante muito tempo, entrelaçado por querelas. De fato, ele soube cortar a erva debaixo dos pés desses ou daqueles e a obra política de São Luís valeu mais que sua obra militar.
Os cronistas descrevem o esplendor da personalidade de São Luís quando ele desembarcou no Egito, em terra de infiéis: estava armado de uma couraça dourada, um elmo, uma alta cimalha dourada também; era o mais alto dos homens do barco no qual navegava. Quando a embarcação chegou perto da terra, ele se jogou dentro da água, coberto com armadura, e foi de encontro ao Egito para dominá-lo.
Ao ver um rei tão elegante, o mais alto de todos e que salta, ataca e é o primeiro na hora do risco, todo o exército correu atrás dele.
A ideia que temos hoje de um rei é a de um rei de museu: que não fala de medo de dizer bobagem, não se move de receio de ser deselegante, não agride, está perpetuamente sentado num trono, olhando para a frente e pousando para a História.
Rei derrotado, mas venerado pelos seus adversários
Esse varão católico perfeito sofreu um infortúnio: depois de lutas enormes, foi preso. O poder muçulmano era maior do que o dele. Geralmente o prisioneiro era o humilhado, dependente de todo mundo; entretanto, São Luís impôs tal veneração a todos que os mouros vinham pedir a sentença dele a respeito dos processos que tinham entre si; confiavam na justiça do rei cristão mais do que na de qualquer outra pessoa. No longo período em que esteve preso– enquanto negociavam o seu resgate – era tratado por todos com veneração, provando que um rei pode ser grande e impor-se, não só porque está no trono e cercado de toda a pompa real, mas por sua virtude.
Apesar da derrota, quando São Luís voltou da Cruzada, o povo todo o aclamou como verdadeiro herói e lhe preparou uma glorificação no seu trajeto através da França, porque compreendia quanto ele tinha sido grande guerreiro, grande homem e queria consolá-lo da derrota sofrida; e nunca o prestígio dele foi maior na França do que aureolado com a coroa de espinhos da derrota.
Homem simples dentro de toda a sua majestade
Na Idade Média, para evitar o contágio da lepra, os leprosos deveriam viver isolados de todo mundo e, ao andar pelas ruas, precisariam agitar um sino para que ninguém chegasse perto deles.
O que fazia São Luís?
Quando por seu caminho passavam leprosos, não era raro ele parar, descer do cavalo, conversar com eles e uma vez chegou até a oscular um leproso.
Sainte Chapelle
Sua personalidade se exprimiu do modo mais esplêndido na Sainte Chapelle. Ordenou a construção de uma capela toda feita de cristal e que era um relicário para abrigar a coroa de espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Aí está a figura do rei santo. Como São Luís, Rei de França, não existiu outro igual!
Plinio Corrêa de Oliveira – extraído, com adaptações, de conferência de 27/8/1970
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