“O Cristo do Veneno”
Ele está pronto a nos salvar, basta irmos ao seu encontro
Redação (21/08/2020 11:24, Gaudium Press) Quem passeia pela Cidade do México pode encantar-se com belos monumentos, mansões, conventos e igrejas ricamente ornadas. Na região chamada “El Zócalo”, há muitas coisas para ver, entre outras, a grandiosa catedral da cidade, ainda danificada pelo terremoto de 1985. Não muito longe desta, encontra-se a rua Venustiano Carranza, por onde circulam diariamente milhares de pessoas, seja para compras ou simplesmente para se recompor da faina diária, saboreando os típicos tacos ou então as ‘quesadillas’.
É nessa região que deparamos com um pequeno templo chamado Porta Cœli, aonde muitos fiéis vão para agradecer as graças recebidas ou pedir favores diante de uma imagem conhecida pelo singular nome de “Senhor do Veneno”.
Qual é a história de tão inusual invocação?
Em 1602, chegou ao México, então Nova Espanha, uma delegação de dominicanos, trazendo para o seu seminário um belo crucifixo de tamanho natural, com a imagem de Jesus de alvura impressionante. Essa imagem foi entronizada no lado esquerdo, próximo à entrada da igreja.
Ali havia um clérigo, o qual dedicava especial devoção àquele Cristo. Não deixava passar um dia sem fazer as orações diante d’Ele e oscular piedosamente Seus venerandos pés. Certa vez, esse sacerdote atendeu em confissão um homem que declarou ter roubado e matado cruelmente. Ante a revelação de tal crime, o religioso afirmou que Deus perdoaria sempre, desde que restituísse o roubado e se entregasse à justiça, pois não bastava se confessar, mas era também necessário se arrepender e reparar o dano sofrido. O criminoso recusou-se a fazê-lo, retirando-se do confessionário furioso. Temendo ser denunciado, maquinou um pérfido plano para assassinar o sacerdote.
Escondido pelas sombras da noite, furtivamente se introduziu na capela e molhou os pés do Cristo com um poderoso veneno. Ninguém o viu e, sorrateiro como havia chegado, ocultou-se num canto sombrio. No dia seguinte, depois de fazer as orações costumeiras, aproximou-se o padre para beijar os pés da imagem, quando, para seu espanto, ela dobrou os joelhos milagrosamente, levantando os pés, de modo a impedir que estes fossem osculados. Enquanto isso, a imagem absorveu o veneno, em consequência do qual sua cor se tornou negra.
O religioso teve ainda maior surpresa quando ouviu soluços provenientes de alguém oculto atrás de uma coluna. Era o assassino do dia anterior, que ali aguardava o efeito de seu maligno plano. Verdadeiramente arrependido ao testemunhar tão maravilhoso prodígio, em prantos, fez por fim uma sincera confissão e, logo em seguida, entregou-se à justiça disposto a pagar por seus crimes.
Desde então, a milagrosa imagem passou a chamar-se “Senhor do Veneno”. Todos concordavam que o Cristo não só havia protegido seu devoto, absorvendo o veneno, mas Seu misericordioso ato também simbolizava como Nosso Salvador toma a Si nossos pecados, estes sim um terrível veneno, que mata a alma, impedindo-a de alcançar a vida eterna.
Anos depois, a imagem foi transferida para a catedral metropolitana. Quando a igreja de Porta Cœli foi entregue aos sacerdotes do rito grecomelquita em 1952, o pároco desta incumbiu um renomado artista de esculpir uma cópia, a fim de que o “Cristo do Veneno” pudesse ser venerado também na sua igreja de origem.
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Se o Doce “Senhor do Veneno” foi tão solícito em salvar a vida desse fiel sacerdote de um crime tão impiedoso, quão mais desejoso deve estar Ele em resolver os problemas daqueles que d’Ele se aproximam piedosamente? Seriam, todos, afagados pela sua benfazeja presença. Basta irmos ao seu encontro.
Por Darío Iallorenzi
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho, nº 86, p. 39
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