A “dormição” da Virgem Maria, segundo São João Paulo II
A passagem desta vida à outra constituiu para Maria uma maturação da graça na glória e, nesse caso, a morte pôde ser concebida como uma ‘dormição’.
Redação (15/08/2020, 12:05, Gaudium Press) Na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora aos Céus, temos uma ocasião propícia para recordarmos, ainda que de passagem, do tema da “dormição” de Maria.
Nossa Senhora: morte ou dormição?
Sobre esta temática muitos têm tratado, com maior ou menor profundidade, ao longo dos séculos e até hoje.
O Papa São João Paulo II, menos de 25 anos atrás, tratou da “dormição” de Nossa Senhora.
Como se recorda, o Papa que veio da Polônia era grande devota da Santíssima Virgem e consagrou seu Pontificado à Santa Mãe de Deus ao escolher como lema duas palavras que dizem muito: “Totus tuus” (Todo teu).
…não quis negar o fato da morte, mas apenas não julgou oportuno afirmar
Na catequese feita por ele em 25 de junho de 1997, Karol Wojtyla recordou que, quando Pio XII proclamou o dogma da Assunção da Virgem Maria em 1º de novembro de 1950, “não quis negar o fato da morte, mas apenas não julgou oportuno afirmar solenemente a morte da Mãe de Deus, como verdade que devia ser admitida por todos os crentes”.
“Refletindo sobre o destino de Maria e sobre a sua relação com o Filho divino, parece legítimo responder afirmativamente: dado que Cristo morreu, seria difícil afirmar o contrário no que concerne à Mãe”, disse naquela ocasião o Papa.
São João Damasceno: ”nem o Senhor da natureza rejeitou a experiência da morte”.
Dando continuidade à sua catequese sobre a morte de Nossa Senhora João Paulo II citou dois santos que se referiram a este tema: São Modesto de Jerusalém, falecido no ano 634, e São João Damasceno, que morreu no ano 704.
São João Damasceno escreveu sobre a Virgem Maria afirmando que “aquela que no parto ultrapassou todos os limites da natureza”, ao ser assunta ao céu, despojou-se “da parte mortal” para “se revestir de imortalidade, porque nem o Senhor da natureza rejeitou a experiência da morte”.
“Para ser partícipe da ressurreição de Cristo, Maria devia compartilhar antes de Sua morte”
“É verdade que –esclareceu o Papa Wojtyla– na Revelação a morte se apresenta como castigo do pecado.
Porém, o fato de a Igreja proclamar Maria liberta do pecado original por singular privilégio divino não induz a concluir que Ela recebeu também a imortalidade corporal. A Mãe não é superior ao Filho, que assumiu a morte, dando-lhe novo significado e transformando-a em instrumento de salvação”.
“Para ser partícipe da ressurreição de Cristo, Maria devia compartilhar antes de Sua morte”, destacou.
A morte de Maria verificou-se como efeito de um transporte de amor
São João Paulo II, ainda na mesma catequese, afirmou que, embora o “Novo Testamento não ofereça qualquer notícia sobre as circunstâncias da morte de Maria”, este silêncio “induz a supor que ela se tenha verificado normalmente, sem qualquer pormenor digno de menção.
Se assim não tivesse sido, como poderia a notícia permanecer escondida aos contemporâneos e, de alguma forma, não chegar até nós?”.
O Papa João Paulo II recordou também o que afirma São Francisco de Sales ao considerar que “a morte de Maria se tenha verificado como efeito de um transporte de amor.
Ele fala de um morrer ‘no amor, por causa do amor e por amor’, chegando por isso a afirmar que a Mãe de Deus morreu de amor pelo seu filho Jesus”.
João Paulo II: a passagem desta vida para a outra foi para Maria uma maturação da graça na glória
Para concluir, o Papa Mariano afirmou que “qualquer que tenha sido o fato orgânico e biológico que, sob o aspecto físico, causou a cessação da vida do corpo, pode-se dizer que a passagem desta vida à outra constituiu para Maria uma maturação da graça na glória, de tal forma que jamais como nesse caso a morte pôde ser concebida como uma ‘dormida’”.
“A experiência da morte enriqueceu a pessoa da Virgem: passando pela comum sorte dos homens, ela pode exercer com mais eficácia a sua maternidade espiritual em relação àqueles que chegam à hora suprema da vida”, concluiu João Paulo II. (JSG)
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