Qual é a solução para a pobreza no mundo?
Nunca houve tantas associações filantrópicas como em nossos dias, mas também nunca foi mais profunda entre os homens a sensação de penúria e abandono.
Redação (16/07/2020 14:59, Gaudium Press) Mesquinharias, egocentrismo e muitas outras más inclinações passaram a caracterizar o homem depois do pecado original. Quem viola a Lei de Deus no afã de satisfazer suas paixões desordenadas afunda cada vez mais no vício até se tornar insaciável. ‘Todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo’ (Jo 8, 34), adverte Jesus. Desse modo, a ambição e a tendência a apegar-se às criaturas por egoísmo causam a perdição de muitas almas.
“Bem-aventurados os pobres de espírito”
Com efeito, a Bem-aventurança escolhida por Nosso Senhor para encabeçar a sequência das regras morais que devem reger a vida do cristão a fim de levá-lo à santidade constitui justamente a solução para nosso problema: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3).
Pobreza… Quão pouco compreendida é esta virtude! Por que Jesus fez questão de dizer aqui “pobres de espírito”? Refere-se Ele à mera pobreza material?
São Leão Magno ressalta que o Divino Mestre teve o cuidado de acrescentar “pobres de espírito” para se entender a que classe de pobres Ele aludia. Senão “pareceria ser suficiente para alcançar o Reino dos Céus apenas a indigência que muitos padecem, com grave e dura necessidade. No entanto, ao dizer ‘Bem-aventurados os pobres de espírito’, mostra que o Reino dos Céus será dado àqueles a quem recomenda mais a humildade de alma do que a escassez de fortuna”.
De fato, Bento XVI explica que “o coração daqueles que nada possuem pode estar endurecido, envenenado, ser mau – interiormente cheio de cobiça pela posse das coisas, esquecendo-se de Deus e cobiçando as propriedades externas”.
Um pobre de espírito é aquele que pode possuir muitos bens e os administrar em função da caridade, com inteira submissão à vontade de Deus, isto é, com total desapego, na certeza de ser a nossa existência um mero caminho para chegar até o Céu.
Má riqueza e má pobreza
Em nossos dias, infelizmente, a ideia que se tem de pobreza é unilateral. Nunca houve tantas organizações e associações filantrópicas para remediar a situação de países chamados de “terceiro mundo” por sua carência de riquezas terrenas. Como também talvez nunca houve época em que se ambicionasse tanto as coisas concretas como hoje. Basta ver nossa sociedade globalizada, tecnológica, em que o que importa é ter, produzir ou fazer, dando-se casos de pessoas que usam aparelhos eletrônicos de última geração enquanto carecem de bens de primeira necessidade…
Assim, podemos afirmar que há uma má riqueza e uma má pobreza. E vice-versa, há uma boa riqueza e uma boa pobreza. Toda posse das coisas materiais com apego, que as toma como finalidade última desta vida, é uma má riqueza; como é má a pobreza que, embora se apresente sob aparência de humildade, está cheia de revolta e de apreço desordenado pelos bens terrenos, pondo obstáculos quase intransponíveis para que os dons celestiais se derramem sobre a alma.
Em sentido oposto, a prática da virtude faz a alma enriquecer-se dos bens do Céu, na plena certeza de que não faltarão os da terra: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6, 33). E quando se vive na fartura com pobreza de espírito, tem-se a boa riqueza. Ou seja, de si mesmas, tanto a pobreza quanto a riqueza podem ser boas ou más, dependendo da disposição interior com que são vividas.
Tal é o que afirma a sabedoria das Escrituras: “Há quem parece rico, não tendo nada, há quem se faz de pobre e possui copiosas riquezas” (Pr 13, 7). O que importa é o desapego das coisas deste mundo com vistas ao Reino de Deus.
Ir. María Carolina Vindas Morales, EP
(Texto extraído, com adaptações, da revista Arautos do Evangelho ano 17, n. 202, Out. 2018 p.20-21)
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