Alimentar o corpo, mas também a alma
A arte de comer com espírito.
Redação (12/07/2020 12:07, Gaudium Press) Entrei na biblioteca para distrair-me um pouco, buscando algum tema para espairecer das questões controversas – muitas vezes cansativas – que a mídia tem apresentado ultimamente.
Abrindo a porta da estante, em uma das prateleiras, pouco distante dos meus olhos, pude entrever, entre os periódicos, uma revista parisiense muito conhecida, “Figaro Mazagine”. Apanhei-a. Folheando-a sem mais interesse, avistei um sugestivo título: “A arte de comer com espírito”. Fiquei com a mente faminta em descobrir a que se desprendia a matéria; e minha surpresa ao ler o estudo foi inusual. Inteirei-me de que, há poucos anos atrás, certas tendências gastronômicas em Paris acenavam que “as pessoas não se contentam mais com restaurantes onde há apenas pratos brancos, sem decoração. Desejam mais. Querem um complemento para a alma: que seja um prolongamento do ambiente familiar, que tenha alguma transcendência, algo de imponderável. Inúmeros são os restaurantes que chamam a atenção para o elemento surpresa, para o que não se esperava.”
No entanto, pensei tratar de informações antiquadas, pois, durante décadas, certa publicidade materialista vem inculcando a ideia de que, em matéria de alimentação, não se deve dar qualquer importância aos aspectos psicológicos, ou seja, à bela apresentação dos pratos, arrumação das mesas, decoração dos ambientes. Pois, afirma-se que uma vez saciada fome, o homem está suficientemente atendido, podendo o restante ser excluído de suas preocupações.
Entretanto, refletindo melhor sobre o tema, pude encontrar a resposta dentro de meu interior ainda irrequieto: o homem é composto de corpo e alma — ou melhor, na ordem certa, de alma e corpo — e justamente nisto consiste sua semelhança com os Anjos, puros espíritos. E atender, no campo da gastronomia, como em qualquer outro, tão somente a um dos seus elementos constitutivos, acaba produzindo a atrofia do outro. Este é precisamente o malefício imposto, pela mencionada mentalidade consumista-materialista, à sociedade atual.
Assim, a revista reitera que, nos restaurantes, o papel preponderante não pode ser reservado exclusivamente aos alimentos enquanto tais. Eles devem ser apresentados de modo agradável e decorativo, pois “as pessoas desejam mais. Querem um suplemento para a alma”.
Ora, numa sociedade que levou quase ao delírio o culto dos bens meramente materiais, estas reflexões são recebidas com alento por aqueles que almejam, também, pelos bens do espírito.
E concluí com meus botões: “Mas, hoje em dia, cogitar num assunto desses, quando o fast-food acaba por atropelar nossa comum união à mesa e provocar dissabores ao nosso paladar?! É que, à força de muito alimentar o corpo, há espíritos que morrem de fome, e que querem um complemento para a alma”.
Por Thiago Cunha
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