Igreja Católica, para alguns instrumento de opressão dos brancos…mas e Santa Bakhita?
A Santa sudanesa, canonizada por João Paulo II no ano 2000, tem uma história que não se encaixa muito com certa retórica Black Lives Matter.
Redação (04/07/2020 11:26, Gaudium Press) Em um interessante artigo editorial, publicado em Boulevard Voltaire, Michel Thooris faz uma análise precisa da figura da Santa Bakhita. Sob a luz desta virtuosa negra, faz aplicações a certo ódio à Igreja que se volta a manifestar por ocasião dos protestos pela morte de George Floyd em Minnesota.
As bases de muitas estátuas estão vazias nos Estados Unidos, fruto da ação dos vândalos que as atiraram ao chão ou simplesmente as destruíram. Quem poderia ser colocado lá agora, segundo a mente desses iconoclastas? Por que não exaltar um escravo nesses pedestais que estão agora vazios? Melhor um escravo negro, evidentemente. E se fosse uma mulher? Muitíssimo melhor. Eureka! Pois esta é exatamente Santa Josefina Bakhita: escrava, negra e mulher. Mas não, sua figura não parece se encaixar nem com a lógica, nem com o discurso de certos Black Lives Matter, ou, abreviando, BLMs, como se diz hoje.
“Bakhita – lembra Thooris, irônico apelido que significa sorte em árabe, dado por um de seus carcereiros, foi capturada em uma aldeia de Dafur por comerciantes de escravos africanos quando tinha 7 anos. Foi vendida como escrava a um chefe árabe que a deu como brinquedo para seus filhos sádicos. Resgatada por um turco, era surrada todos os dias. Finalmente, aos 14 anos foi libertada por um cônsul italiano em Jardum. Suas feridas foram curadas com as Filhas da Caridade em Canossa, Itália. Tornou-se freira e cuidou, com uma devoção incomensurável, das crianças órfãs acolhidas pelo Instituto das Irmãs em Schio, Itália. Sensibilizadas, estas publicaram sua história, Storia meravigliosa (história maravilhosa).
Para a Igreja, a escrava negra está acima da irmã de São Luís, Rei
Sim, a vida de Santa Bakhita não combina muito com a retórica dos Black Lives Matter. Também porque, como destaca Thooris, Bakhita é mais exaltada pela odiada Igreja Católica do que a própria irmã de São Luís, rei da França, a Bem-aventurada Elizabeth de França. Elizabeth é só uma bem-aventurada e ainda tem um longo caminho a percorrer para ser uma santa. Santa Bakhita já está lá em cima. Existe, inclusive, uma igreja dedicada a Santa Bakhita em Touraine
A história de Santa Bakhita não combina com essa estúpida retórica binária dos BLMs, porque ela não foi presa por opressores brancos, mas por comerciantes de escravos africanos que a venderam a árabes tiranos, mas foi sim resgatada por católicos italianos e depois a Igreja Católica a dignificou.
No entanto, fica muito feio falar mal de santa Bakhita, entre outras coisas, porque ela é uma intercessora usada para pedir o fim da escravidão atual. Sim, a escravidão não é um patrimônio dos séculos que nos precederam de dominação branca, mas segue ainda muito viva, sob novas modalidades, como por exemplo, o tráfico de seres humanos, que são realmente de todas as cores.
Santa Josefina Bakhita não será exaltada pelos BLMs
“Apostamos que as modestas estátuas de Santa Bakhita permanecerão confinadas por um longo tempo nos santuários onde foram erigidas (pelo que sei, há três: em Ontario, Manila e Chicago), porque não basta ser negra e escrava para ganhar os votos e ser carregado em triunfo”, declara Thooris. Sua figura não se encaixa, não se enquadra com “esse racismo autoritário do outro lado do Atlântico que nos invade hoje e que proíbe moralmente um negro de ser policial ou uma Bakhita de ser santa, como proibia, em outras épocas, Rosa Parks de se sentar em um ônibus”, afirma o autor francês. Em outras palavras, para essa corrente verdadeiramente racista, Santa Bakhita, embora escrava, mulher e negra, é de segunda ou terceira classe e não de primeira.
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