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Quarentena: Na Pandemia… cuidado com as outras “epidemias”

A forma de vida que levávamos entrou em colapso. Parece que todos os dias são iguais! A casa é a melhor “vacina”. Mas existem outras “epidemias” que devemos tomar cuidado.

Na Pandemia… cuidado com as outras “epidemias”

Redação (06/05/2020 12:00, Gaudium Press) Enquanto nos prevenimos desta silenciosa, penetrante e nefasta pandemia, corremos o risco -estando em casa pela quarentena- de cair em outras “epidemias”.

Esse confinamento, que restringe nosso movimento, surgiu como um cuidado indispensável diante do coronavírus. Se fosse um mosquito, o transmissor do coronavírus, a situação seria outra. Neste caso, o “mosquito” pode ser nós mesmos, os seres humanos, convivendo, compartilhando, levando-o em nossos corpos e contagiando; ou deixando o vírus em alguma superfície ou objeto, dando lugar para que se multiplique. Motivo que levou nossos ritmos de vida a serem alterados.

A quarentena e os outros efeitos da pandemia

Dentro desta contingência -de futuro imprevisível-, vão aparecendo outros efeitos, não concretamente do próprio vírus, mas da situação a qual nos levou o Covid-19: a quarentena. Nossos hábitos, afetos mútuos, entretenimentos, forma de trabalhar, de estudar ou de nos mover, mesmo nossos momentos de quietude, estão sendo convulsionados. Estamos experimentando uma nova forma de coexistir.

(Leia também: Diante do Coronavírus: Ficar em casa, na ‘igreja doméstica’)

Alguns dizem, e com razão, que esta doença, e as mortes que está provocando, golpearam nossa espécie humana. Perdemos nossa privacidade, com uma repercussão psicológica inegável. Por mais que amemos nossa família, estar e nos ver 24 horas por dia… desgasta. São necessários momentos de intimidade, de estar com nós mesmos. Não é normal ficar 100% do dia juntos. Entramos em uma situação diferente.

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A casa é a melhor “vacina”, até agora, mas a nova rotina é monótona. Não deixam de surgir conflitos, especialmente em lugares menores, com suas repercussões na esfera emocional. O medo do contágio, o distanciamento dos vínculos humanos em geral, a carência de elementos básicos e não tão básicos, a possível crise econômica que se poderá sofrer; tudo como conseqüência do estado de isolamento imposto ou recomendado pelas autoridades sanitárias, pode levar à tristeza e irritabilidade.

Uma mudança tão radical exigirá: paciência, tolerância, respeito ao espaço dos outros, ser colaborador nas novas tarefas domésticas que apareçam. Mesmo assim, quando confinados, se apresentarão outras “epidemias”: violência doméstica, estresse, tédio, vício digital; para citar as mais destacadas das quais podemos “nos contaminar”.

Aumento da violência doméstica

Um dos fatores que o confinamento mais pode produzir -em famílias com dificuldades- é a violência doméstica, que se tornará mais grave. Ao passar mais tempo juntos, incapazes de solicitar ajuda, as vítimas não poderão fugir dessas circunstâncias perigosas. Encurraladas em pouco espaço, o abuso psicológico, e até físico, aumenta. É uma triste realidade. As denúncias de violência doméstica, ou “terrorismo íntimo”, como qualificam os especialistas, cresceram em quase todos os países.

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O isolamento pode levar ao transtorno do estresse. Não sabemos quando terminarão as quarentenas no mundo, que estão se tornando mais rigorosas, pela simples razão de que sua violação está aumentando. Dizem os especialistas que, após mais de 10 dias, se pode produzir um estresse pós-traumático.

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A forma de vida que levávamos entrou em colapso. Parece que todos os dias são iguais! Já não diferenciamos mais terça-feira de sexta-feira ou domingo. Tudo é mais ou menos igual. Sair ou voltar para casa já não existe mais. Como que, deixamos de ser livres.

Um sentimento de ansiedade, abandono, medo de não conseguir para si e sua família o que necessita, gera um nervosismo que pode levar à tentação de violar os limites da lei. O tempo parece não passar. A inquietação e os conflitos aumentam. É como estar em uma jaula, por mais que seja nossa casa, grande ou pequena; a pessoa está sobrecarregada.

Manter hábitos

É necessário, antes de tudo, manter os hábitos mais parecidos aos que habitualmente levávamos. E ter estímulos constantes para matar o tempo: horários, ordem, ocupar-se, refeições em conjunto. Principalmente, não podem faltar momentos de elevar nossas mentes a Deus, como bem nos ensina São Paulo, “pensar nas coisas do alto e não nas coisas da terra” (Col 3, 1-2). Oração, recitação do Santo Rosário, assistir a Missa transmitida “online”, leitura espiritual, refletir. Se não dermos espaço a isto, seremos atropelados pelas circunstâncias mencionadas acima.

(Leia também: Onde está Deus nesta pandemia de coronavírus?)

Já vivíamos “imersos” no digital. Entrando o tédio em cena, ele pode nos levar a uma falsa fuga para enfrentá-lo; em vez de tirar vantagem disso, para sermos mais criativos e produtivos. O trabalho em casa, as tarefas escolares feitas online, aumentaram imediatamente o tempo diário diante da tela. Se acrescentarmos a isso o espaço dedicado a comunicações mais extensas com familiares e amigos, para preencher o tempo com filmes, videogames e seu quase vício, poderíamos dizer que o aumento de tempo diante das telas é superior a 100%.

Cuidado com a escravidão à tecnologia

Corremos o risco de cair em outra “epidemia”. Em vez de tirar proveito dessa solidão, que pode nos levar ao pensamento, somos “escravizados” pela tecnologia, caminhamos para uma alienação diante dela.

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Ninguém nega as enormes vantagens que isso nos dá para lidar com a quarentena. Agora, se nos atermos às telas…, podemos, neste período, passar de usuários normais para sermos dominados por ela, transformando-nos em viciados. Passando do uso equilibrado ao abuso. Diante da nova situação, é essencial evitar cair em um ambiente “virtual” no qual desapareça o convívio familiar “real”. Estas reflexões não sugerem que a quarentena não deva ser seguida, pois seria permitir a propagação da doença. Trata-se de estarmos vigilantes diante dos efeitos psicológicos que surgirão, se ainda não surgiram, dentro deste confinamento em que nos encontramos. Que a Santíssima Virgem nos proteja e que o Sagrado Coração de Jesus detenha a propagação deste vírus mortal.

(Publicado originalmente em La Prensa Gráfica, 3 de maio de 2020)

Por Padre Fernando Gioia, EP

www.reflexionando.org

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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