Poder comungar: “uma das maiores emergências do momento”
Muitos fiéis enfrentam com dificuldade a privação da Comunhão Eucarística. As iniciativas para uma solução são raras, então, como solucionar privação da Eucaristia e ao mesmo tempo respeitar as regras relacionadas ao confinamento?
Redação (28/04/2020 18:17, Gaudium Press) Há várias semanas que a maioria dos católicos não consegue receber Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento. Para muitos fiéis, essa privação é enfrentada com dificuldade, e são raras as iniciativas para encontrar uma solução para esta privação e que ao mesmo tempo sejam respeitadas as regras relacionadas ao confinamento.
A este propósito, Adélaïde Patrignani do Vatican News, entrevistou o Frei François-Marie Léthel, sacerdote carmelita descalço e consultor da Congregação para a Causa dos Santos. Na entrevista, o sacerdote pede mais criatividade e maior participação dos leigos como “ministros extraordinários da comunhão”.
Médicos de Hospital distribuem a comunhão para cem pacientes vítimas do Coronavírus
Na entrevista o sacerdote recordou que seis médicos de um Hospital em Prato, na Toscana, encorajados pelo capelão do hospital e autorizados pelo Bispo de Prato, Dom Giovanni Nerbini, puderam distribuir Jesus na Eucaristia a cem pacientes, depois que foram instituídos “ministros extraordinários da comunhão”. Assim, médicos e doentes receberam uma graça especial no Domingo de Páscoa. Gesto que destaca o papel dos leigos e dá ocasião para recordar a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja
O padre François-Marie Léthel, Carmelita Descalço, consultor da Congregação para a Causa dos Santos, professor da Pontifícia Faculdade Teológica Teresianum, em Roma, fala nesta entrevista sobre o significado desse gesto que, para ele, destaca o papel dos leigos e dá ocasião para recordar a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja.
Ele afirmou que receber o Pão da Vida deve ser uma possibilidade dada a todos os fiéis em tempos de provação. Ele viu na iniciativa dos médicos de Prato, algo como que profético, um sinal para mostrar como, neste novo período, há uma complementaridade entre a vocação dos padres (só eles podem transubstanciar o pão e o vinho no Corpo de Jesus) e o papel indispensável dos leigos como “ministros extraordinários da comunhão”.
O sacerdote carmelita comentou que, na atual situação difícil em que nos encontramos, – quando, sem dúvida as igrejas não reabrirão imediatamente, ou serão muito limitadas as aberturas – é realmente necessário que os leigos tenham uma participação ativa, não apenas para receber a comunhão, mas para manter a Eucaristia e a distribuir para seus irmãos. Então ele acha que é um evento exemplar que aconteceu na Páscoa, que pode ser um sinal para a Igreja universal.
A grande preocupação é que os leigos, os fiéis, não sejam afastados da comunhão eucarística
Quando foi perguntado ao sacerdote carmelita se essa iniciativa poderia ocorrer na França ou em outros países onde existe uma forte reivindicação de secularismo, ele afirmou que certamente. Em seguida ele recordou o Papa Paulo VI que, para ele, viveu o Mistério da Eucaristia, além de escrever a encíclica Mysterium Fidei e instituir o ministério extraordinário da Eucaristia, dando ainda aos fiéis a permissão da comunhão nas mãos –algo obrigatório na situação atual em que vivemos.
Frei François-Marie afirmou que Paulo VI colocou Jesus Eucaristia nas mãos dos leigos não em oposição, mas em complementaridade com os sacerdotes. Ele recordou que foi Paulo VI quem deu essa possibilidade para que homens e mulheres pudessem levar comunhão aos enfermos. O frade carmelita afirmou ainda que os sacerdotes conhecem famílias, pessoas consagradas, que poderiam ter uma reserva eucarística em casa.
Para o consultor da Congregação para a Causa dos Santos a grande preocupação é que os leigos, os fiéis, não sejam afastados da comunhão eucarística. Há um grande sofrimento, que ouvi de muitos lados, conta ele. Eu acredito que seja necessária muita criatividade, e isto é bem possível na Igreja universal, os padres e bispos devem ouvir os leigos e associá-los nesta participação e comunicação da Eucaristia.
A entrevistadora quis saber se o consultor da Congregação para a Causa dos Santos via nessa situação toda um sinal de novos tempos.
Ele afirmou que sim e recordou o exemplo do cardeal Venerável Van Thuan: Ele viveu a Eucaristia em condições impossíveis, na prisão, e distribuiu o Santíssimo Sacramento em maços de cigarro aos prisioneiros católicos, para que eles pudessem continuar a ter a Eucaristia, para que pudessem adorar e comungar.
Frei François-Marie citou também o exemplo de uma mística salesiana leiga italiana, cuja causa de beatificação foi aberta e que viveu uma experiência eucarística mística, ainda na época de Paulo VI. Ela fala dos fiéis como “tabernáculos vivos”, considerando também essa possibilidade de as famílias cristãs manterem a Eucaristia. Penso que a grande preocupação é que os fiéis, os leigos, não sejam “cortados” porque são os que mais sofreram. Não ter mais oportunidade de comunhão é algo extremamente doloroso.
Medidas de higiene e prevenção: como fica ter acesso à comunhão, proteger-se e proteger os outros?
Perguntado sobre as medidas de higiene e prevenção a serem observadas e sobre como fica ter acesso à comunhão e proteger-se e proteger os outros, o sacerdote respondeu que isso é extremamente importante: você absolutamente precisa cumprir todos os padrões do governo.
A fé nunca vai contra a razão. Mesmo que as Missas recomeçam, necessariamente haverá números muito limitados para atender a esses padrões. Então [devemos] conseguir inventar modalidades, respeitando plenamente esses padrões.
Assim como os fiéis, por exemplo, vão às lojas de alimentos. Para que possam receber alimento espiritual, o Corpo de Jesus, na Itália, por exemplo, os padres dão comunhão aos fiéis que perguntam: nas igrejas que permaneceram abertas, purificando as mãos, colocando a máscara, dando comunhão nas mãos … portanto, respeitando absolutamente esses padrões. É bem possível, e devemos respeitá-los.
A situação atual quando os padres recebem a Eucaristia e os leigos sejam privados dela não cria uma lacuna, uma distância na percepção da Eucaristia?
Frei François-Marie respondeu a essa pergunta afirmando que sim. Há um perigo muito grande. Se não dermos esse passo, se não encontrarmos um meio de comunhão com os fiéis, há o risco de uma vala.
Ele recorda que o Papa já afirmou que devemos ter cuidado que o virtual não substitua o real. A comunhão espiritual, que o Santo Padre convida a fazer todos os dias, não substitui, mas, pelo contrário, tudo está orientado para o desejo de comunhão eucarística.
Creio que agora é urgente, a fim de evitar esse corte e essa lacuna. Que a Igreja, nossos pastores, em colaboração com os leigos, ouvindo os leigos, encontrem uma maneira de dar comunhão aos fiéis.
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