São Pascoal Bailão, Padroeiro dos Congressos Eucarísticos e Associações Eucarísticas
Modelo de mansidão e humildade, soube estar sempre atento à voz do Pastor, que o instruía na ciência divina e nos segredos da verdadeira santidade.
Redação (17/05/2023 09:43, Gaudium Press) Quem já teve oportunidade de contemplar o espetáculo encantador de um rebanho de ovelhas reunido em torno de seu pastor, certamente terá notado o quanto existe uma como que interlocução entre esses mansos animais e aquele a quem estão confiados. Com efeito, quando ele as chama ou lhes dirige alguma advertência, as ovelhas se juntam ao seu redor, submissas e atentas, parecendo compreender o sentido de suas palavras.
Esta cena, tão simples na aparência, nos revela a realidade profunda daquela frase do Evangelho: “As minhas ovelhas escutam a minha voz” (Jo 10, 27). Há na relação pastor-ovelha uma simbologia criada por Deus para nos fazer entender o relacionamento cheio de consonância e intimidade que se estabelece entre Jesus e a alma conduzida pela graça. Bastará uma palavra, isto é, uma suave inspiração do Espírito Santo, para ela se mover segundo a vontade de Deus, sem temores ou dúvidas, pois sabe reconhecer o timbre da voz do Pastor.
Tais são os santos, ao longo da História, verdadeiras “oves manus eius – ovelhas nas mãos do Senhor” (Sl 94, 7), flexíveis e obedientes a seus mandamentos. Aquilo que os distingue dos demais homens e os faz galgar os cumes da virtude, conferindo-lhes um inequívoco carisma de atração, repousa nesse abandono nas mãos de Deus e na docilidade em deixar- se levar conforme o seu beneplácito. Nisso consiste o verdadeiro heroísmo, muito mais do que em esforços e trabalhos nos quais a alma possa se fatigar, pois estes, quando privados do auxílio da graça, resultam inteiramente estéreis.
Deste modo, compreendemos então que a santidade não consiste tanto em realizar grandes obras, mas sim em tornar grandes todas as obras, mesmo as mais insignificantes.
Contemplativo desde a infância
Em 1540, num jubiloso domingo de Pentecostes, enquanto os sinos da matriz de Torrehermosa, situada no limite da Província de Saragoça, em Aragão, repicavam para comemorar a grande solenidade do Espírito Santo, nascia um menino predestinado por Deus a ser um perfeito modelo de mansidão e inocência, como cordeiro do rebanho do Senhor. Dado que na Espanha esse dia é chamado “Páscoa de Pentecostes”, seus pais, Martim Bailão e Isabel Jubera, batizaram-no com o nome de Pascoal.
De condição modesta, o pequeno Pascoal começou a trabalhar aos sete anos de idade para ajudar os pais, honrados camponeses, pastoreando suas ovelhas – único bem que estes possuíam – e, mais tarde, exercendo o mesmo ofício a serviço de outros proprietários.
A solidão dos campos e a serenidade própria ao rebanho constituíam um marco ideal para o desenvolvimento daquela alma austera e contemplativa, de modo a fazer florescer nela as virtudes. Se, desde os primeiros anos, seus pais lhe haviam inculcado uma ardorosa piedade, Pascoal empregou-se em torná-la cada dia mais sólida, por meio da prece assídua, da mortificação e da leitura. Impossibilitado de frequentar escola, pela falta de recursos da família, o menino aprendeu a ler e a escrever por si só – ensinado pelos Anjos, segundo alguns de seus biógrafos -, tamanho era seu desejo de instruir-se na Religião. Seu alforje transformou-se numa pequenina biblioteca, onde carregava os livros de sua devoção e o Ofício Parvo de Nossa Senhora, que rezava todos os dias.
Não tendo oportunidade de assistir à Missa durante a semana, o pastorzinho supria essa lacuna dedicando longas horas à oração, quer numa pequena ermida da Santíssima Virgem situada naquelas redondezas, quer voltado para o longínquo Santuário de Nossa Senhora da Serra, quer, simplesmente, diante de seu próprio cajado, onde fizera gravar uma cruz e uma imagem de Maria. Aprouve a Deus premiá-lo, concedendo-lhe em diversas ocasiões que os Anjos trouxessem até ele a Hóstia resplandecente para ele poder vê-la e adorá-la.
De outro lado, como a região em torno da ermida era muito seca e o pasto escasso, Pascoal foi advertido por seu amo de que, indo com frequência para lá, os animais acabariam por perecer. Não querendo abandonar seu lugar predileto, o menino argumentou, cheio de fé, que Maria, como Divina Pastora, jamais deixaria faltar alimento ao rebanho. E ao cabo de algum tempo o dono deu-se por vencido, constatando que suas ovelhas eram as mais bem nutridas de toda a região.
Na vida religiosa
Como Pascoal desejava ardentemente entregar-se a Deus no estado religioso, apareceram-lhe certa vez São Francisco e Santa Clara, e disseram-lhe que deveria ingressar na Ordem dos Frades Menores. Tal desígnio ia de encontro a seus afetos mais recônditos, pois alimentava um especial amor à virtude da pobreza. E quando seu patrão, o senhor Martín García, homem rico e poderoso, prometeu deixar-lhe seus bens, uma vez que não possuía filhos, o jovem pastor rejeitou a oferta, dizendo que preferia ser herdeiro de Deus e co-herdeiro de Jesus Cristo.
Aos vinte anos partiu em busca dessa herança incorruptível e transladou-se para o reino de Valência. Desejava ingressar no convento de Nossa Senhora de Loreto, recém-reformado por São Pedro de Alcântara. No entanto, sua timidez no momento de falar com o padre superior reteve-o por quatro anos, durante os quais permaneceu nas proximidades do mosteiro, empregado, mais uma vez, na guarda de ovelhas. Sua piedade e suas virtudes tornaram-no conhecido em toda a comarca sob o apelido de o “santo pastor”.
Decidiu-se, por fim, a solicitar sua admissão no convento, e foi acolhido com alegria por aquela comunidade. Quis o Superior dar-lhe o hábito de irmão corista, mas a humildade de Pascoal levou-o a suplicar que o deixassem apenas como irmão converso, pois só almejava ser a “vassoura da casa de Deus”.
Humildade e intrepidez
O novo frade não tardou em se transformar num modelo de observância religiosa, a ponto de ser disputada sua presença nos diversos conventos da Ordem. Exercia com despretensão e simplicidade as mais variadas funções, tais como de cozinheiro, jardineiro, porteiro ou esmoler. Porém, ao procurar humilhar-se diante dos homens, crescia em estatura espiritual diante de Deus. De trato afável e bondoso com os demais, o irmão Pascoal era duro e intransigente consigo mesmo. Considerava-se um grande pecador, motivo pelo qual se sacrificava continuamente, privando-se do pão para dá-lo aos pobres, dormindo sobre a terra nua e flagelando-se com frequência.
Assim testemunhou a seu respeito um de seus contemporâneos: “Nunca pensava em satisfazer o menor capricho. Sempre punha empenho em mortificar-se a si mesmo. Vi brilhar nele a humildade, a obediência, a mortificação, a castidade, a piedade, a doçura, a modéstia e, em suma, todas as virtudes: e não posso dizer com certeza qual delas sobrepujava as outras”.
Nutria terníssima devoção a Maria Santíssima, a quem dedicava todos os seus trabalhos. Certa vez, julgando-se sozinho enquanto montava a mesa no refeitório, caiu de joelhos diante da imagem de Nossa Senhora; depois, tomado de sobrenatural transporte de alegria, executou uma graciosa dança para aquela Mãe que com tantas consolações o agraciava. Tal episódio foi visto por outro frade, o qual mais tarde o relatou, acrescentando que a recordação do rosto radiante de júbilo do irmão Pascoal o estimulou durante muito tempo na prática da virtude.
Em 1576 os superiores o enviaram a Paris, como portador de um importante documento destinado ao padre Christophe de Cheffontaines, Superior Geral da Ordem. Por aquela época, a França ardia nas guerras de religião e atravessar as cidades vestindo o austero burel de São Francisco constituía um autêntico perigo. Contudo, o intrépido irmão Pascoal lançou-se na aventura cheio de confiança na Providência, alegre por expor a própria vida pela obediência. Em alguns lugares foi apedrejado pelos huguenotes, a ponto de guardar um ferimento no ombro até o fim da vida.
Voltando a seu convento, deu respostas lacônicas às perguntas feitas por seus confrades a respeito dos riscos por ele enfrentados, omitindo todos os detalhes que pudessem redundar em elogios à sua pessoa.
Ao longo de suas múltiplas caminhadas pelas vilas e aldeias da região, pedindo esmolas para o convento, sua palavra tinha para todos o valor de uma pregação, e os milagres que realizava mais contribuíam para lhe granjear a admiração e a estima do povo. Inúmeras vezes obteve a cura de doentes fazendo-lhes um simples sinal da cruz. Em certa ocasião, mandou-lhe o Padre Superior curar um frade que estava gravemente atacado por uma hemorragia. Embora essa ordem contundisse sua humildade, nosso santo viu-se obrigado a obedecer: traçou uma cruz sobre seu companheiro e logo o sangue parou de correr.
Singular devoção Eucarística
Entretanto, o que distinguiu nosso Santo com um brilho todo especial foi sua devoção ao Santíssimo Sacramento. A todo o momento que seus deveres o permitiam, lá estava o humilde irmão aos pés do sacrário, ora rezando com os braços em cruz, ora abismado em profunda adoração, ora ainda acolitando com fervor a Missa privada de algum sacerdote do mosteiro. Era junto a Jesus Eucarístico que sua alma se expandia e hauria novas forças para enfrentar os combates da vida. Ali o Divino Mestre lhe revelava os mistérios do Reino, escondidos aos sábios e doutores. Sem ter feito qualquer estudo, o humilde converso franciscano entendia de teologia mais do que muitos mestres, porque o ardor de seu coração lhe explicava o que não aprendera pelo raciocínio.
Isto se patenteou certa vez, quando, estando na França, foi interpelado por alguns hereges acerca da Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento. Enfrentou com tanta sabedoria os sofismas dos inimigos da Religião e deu-lhes uma tão perfeita explicação acerca da doutrina eucarística, que eles se sentiram encurralados e sem resposta. Ficaram boquiabertos também os que acompanhavam Frei Pascoal, pois sabiam como ele não era homem versado em letras, muito menos nos sacros ensinamentos.
Até mesmo durante os mais corriqueiros trabalhos, seu coração estava posto no tabernáculo. Por exemplo, cultivando a terra ou cozinhando verduras, rezava recordando-se de sua Comunhão matutina: “Ó Luz sem mancha, que delícias podeis encontrar num homem tão pequeno como eu? Por que quisestes entrar em meu peito e fazer dele um templo de vossa majestade?”. Sua alma estava todo o tempo posta em adoração a Deus feito Hóstia.
Atenção inteira à voz do Pastor
São Pascoal morreu em 1592, aos 52 anos de idade, no mosteiro de Villarreal, após uma prolongada doença que o fizera sofrer durante cinco anos, dando-lhe a oportunidade de edificar com sua paciência todos quantos o rodeavam.
Pouco antes de falecer, perguntou ao irmão enfermeiro: “Já tocaram o sino para a Missa conventual?”. 5 Ao receber a resposta afirmativa, seu rosto iluminou-se com um sorriso de júbilo, pois sabia de antemão a hora de sua partida. No instante da elevação, quando a sineta anunciava a Presença Real de Jesus sobre o altar, o humilde irmão exalou seu último suspiro e sua alma voou para unir-se definitivamente Àquele mesmo Jesus a quem tanto procurara ao longo de toda a sua existência.
Estava já tão difundida sua fama de santidade, que foi impossível fazer o funeral antes de três dias, devido à afluência de gente que acorreu ao convento para dar-lhe a despedida. Na Missa de exéquias, para assombro de toda a assistência, seus olhos se abriram por duas vezes, uma na elevação da Sagrada Hóstia, outra na do cálice, para reverenciar por última vez, nesta Terra, a Santíssima Eucaristia.
Como manso cordeiro do rebanho de Cristo, São Pascoal Bailão soube estar com sua atenção inteira posta na voz do Pastor, que o instruía na ciência divina e nos segredos da verdadeira santidade. No cumprimento da vocação de irmão leigo franciscano, sua vida transcorreu na paz do claustro e na mendicância, de maneira apagada, humilde, mas valente, na busca contínua e exclusiva da glória de Deus. E lhe estava reservada grande glória e renome pelo mundo inteiro, a ponto de ser canonizado por Inocêncio XII menos de um século após sua morte, em 15 de julho de 1691, e proclamado pelo Papa Leão XIII, tão justamente, Padroeiro Universal dos Congressos e Obras Eucarísticas, em 28 de novembro de 1897.
(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2013. n. 137, p. 32 à 35)
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