Jeremias enfrentou sacerdotes, reis e o povo
Houve um varão que, favorecido por graças especiais, se mostrou firme como “uma cidade fortificada, uma coluna de ferro, um muro de bronze para enfrentar o país inteiro: os reis de Judá e seus chefes, os sacerdotes e o povo do país” (Jr 1,18). A Igreja celebra a memória de Jeremias no dia 1º de maio.
Redação (30/04/2023 19:47, Gaudium Press) Jeremias nasceu em Anatot, cidade localizada a cinco quilômetros de Jerusalém, aproximadamente em 650 a. C. Ainda no claustro materno foi consagrado e feito profeta por Deus (cf. Jr 1, 5). Segundo “a sentença comum dos Doutores, apoiada nesta passagem, Jeremias teria sido purificado da mancha original desde o seio de sua mãe, como o Precursor”(1) , São João Batista; aos quinze anos de idade ele começou a profetizar. (2) E, por ordem de Deus, se manteve celibatário.
No início de seu ministério profético – que durou quase meio século: 41 anos em Judá e provavelmente quatro no Egito (3) -, o Senhor lhe disse: “Eu te coloco contra nações e reinos, para arrancar e para derrubar, devastar e destruir, para construir e para plantar” (Jr 1, 10).
Chamado ao “profetismo para destruir e edificar”, Jeremias prevê a destruição de Jerusalém, o desterro, mas incita também o povo ao arrependimento. E assinala no horizonte uma saída esplêndida para a restauração religiosa, com a conversão dos desterrados e a volta deles para a Judeia. Profetiza também a destruição dos grandes impérios e dos reinos vizinhos (cf. Jr cap. 46 a 51). (4)
Em seus escritos ele denuncia os pecados do povo e, sobretudo, dos sacerdotes, dos falsos profetas e das autoridades de Judá. “Os guias, quer espirituais, quer temporais do povo, nada haviam feito para reter seus irmãos; eles tinham mesmo se lançado mais além que os outros no mal.” (5) E também semeia palavras para que tenham outra mentalidade, isto é, se voltem para o verdadeiro Deus.
Prefigura do Varão das dores
Jeremias descreve a Pessoa do Messias, descendente de Davi que “reinará de verdade e com sabedoria” (Jr 23, 5); e prevê a matança dos inocentes, logo após o nascimento do Redentor: “Um clamor se ouve em Ramá, de lamento, de choro, de amargura, é Raquel que chora seus filhos e recusa ser consolada, porque eles já não existem!” (Jr 31, 15). Essa profecia é citada por São Mateus (cf. 2, 17-18).
Devido às denúncias que o Profeta fez dos pecados cometidos em Judá, ele foi muito odiado e perseguido atrozmente pelo seu próprio povo. Deus o advertira: “Farão guerra contra ti, mas não te vencerão, porque estou contigo” (Jr 1, 18-19). Foi traído pelos seus próprios irmãos de sangue, que o “caluniaram pelas costas” (Jr 12, 6).
Afirma Monsenhor João Clá:
“O profeta é incompreendido porque alerta o povo de seus desvios e lhe indica um caminho contrário às paixões humanas; o caminho da moral, do direito e da retidão, a via, enfim, da santidade. Ele, portanto, é um homem que vai contra a corrente e enfrenta a opinião pública. Entretanto, por essa perseguição ele recebe os méritos que, pelo seu grande amor, Deus lhe reserva. E daí sua grandeza, mesmo na aparência de desastre.” (6)
De tal modo ele sofreu que pôde representar a si mesmo como “um manso cordeiro levado para o matadouro” (Jr 11, 19). Ele não só pregava a boa doutrina, mas a vivia de tal modo que foi a “prefigura mais perfeita do Homem das dores” (7) , Nosso Senhor. E muitos judeus do tempo de Jesus acreditavam que Ele era Jeremias ressuscitado (cf. Mt 16, 14).
O sacerdote Fassur manda açoitar o Profeta
Entre outras tremendas denúncias, Jeremias increpava os falsos profetas: “Praticam adultério, vivem na mentira, apoiam o agir de gente criminosa, de modo que ninguém mais se afaste da perversidade. Para mim, são iguais a Sodoma, seus cidadãos, iguais a Gomorra” (Jr 23, 14). E alguns desses falsos profetas eram sacerdotes.
Determinado dia, Jeremias colocou-se à entrada do Templo e proclamou que viriam desgraças sobre Jerusalém e todos os povoados de Judá, porque não deram ouvidos às suas advertências (cf. Jr 19, 14-15).
Então, um ímpio sacerdote chamado Fassur, administrador-chefe do Templo, mandou que Jeremias fosse açoitado, encarcerado numa prisão existente no interior da Casa de Deus, e ali permanecesse amarrado num tronco. No dia seguinte, Fassur foi até o local para soltar o Profeta, mas este, inspirado por Deus, o increpou com veemência:
– Teu nome não será mais Fassur, e sim “Terror-ao-Redor”. Vou transformar-te numa coisa terrível para ti mesmo e para todos os teus amigos. Judá será conquistada pelo Rei da Babilônia. Tu e os que moram na tua casa serão levados como cativos para Babilônia, onde morrerás bem como teus amigos, para os quais profetizavas mentiras. (cf. Jr 20, 1-6). “É provável que [Fassur] tenha sido conduzido ao exílio com o Rei Jeconias (cf. Jr 29, 2)” 8 , em 599 a. C.
É necessário fazermos apostolado, compenetrados de que “os sofrimentos precisam confluir no apóstolo, e ele deve recebê-los, abraçá-los como Nosso Senhor abraçou a sua Cruz ou como, por exemplo, o Profeta Jeremias que abraçou e suportou todo o imenso sofrimento para, de fato, realizar os desígnios da Providência sobre ele.” (9)
Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada – 86)
1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – La Prophétie de Jérémie. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p.522 .
2 – Cf. SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.150.
3 – Cf. ASENSIO, Félix, SJ. In LA SAGRADA ESCRITURA – Texto y comentário por professores de la Compañia de Jesús. Madrid : BAC. 1970. v. V, p.409.
4 – Cf. ASENSIO, op. cit., p. 419-420.
5 – FILLION, op. cit., p. 524-525.
6 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapintiae. 2016, v. III, p.178.
7 – FILLION, op. cit. p. 518.
8 – FILLION, op. cit. p. 601.
9 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. As cruzes bem aceitas diminuem as penas do Purgatório. In Revista Dr. Plinio, São Paulo, n. 216, março 2016, p. 27.
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