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Liturgia guerreira

Redação – (Sexta-feira, 24/07/2015, Gaudium Press) – Tendo seguido com total fidelidade as instruções dadas por Deus, o povo de Israel, comandado por Josué, presenciou a repentina ruína das muralhas de Jericó. É o que veremos abaixo em mais um artigo de Paulo Francisco Martos:

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Cleofas – Felipe Aquino

Depois da miraculosa travessia do Jordão, Josué tinha diante de si a cidade de Jericó, toda cercada por muralhas, cujas portas estavam trancadas.

Após um potente brado, ruem as muralhas de Jericó

O Altíssimo disse a Josué que lhe entregaria a cidade, e ordenou que fosse feita “em torno de Jericó uma liturgia guerreira”. De fato, foi uma prodigiosa operação de guerra orientada pelo próprio Deus, que consistiu no seguinte:

Durante seis dias consecutivos, os israelitas deveriam dar uma volta ao redor da cidade, formando um cortejo: no centro, a Arca da Aliança conduzida por sacerdotes, diante da qual outros sete sacerdotes tocariam trombetas; na frente marchariam os guerreiros; e o restante do povo seguiria atrás da Arca.

Todos caminhariam em silêncio; apenas se ouviriam os toques de trombetas.

No sétimo dia, seriam efetuadas sete voltas em torno da cidade, “conforme o mesmo ritual” (Js 6, 15). Terminada a última volta, Josué ordenaria que todos dessem um grande brado; nesse momento as muralhas ruiriam e os habitantes, bem como os animais ali encontrados, seriam mortos, com exceção de Raab, que protegera os dois espias hebreus.

Os israelitas não deveriam pegar nada para si mesmos; o ouro, a prata e outros metais encontrados seriam consagrados a Deus e guardados em seu tesouro. Aqueles que não respeitassem essa ordem seriam “culpados de um grande pecado” (Js 6, 18).

No sétimo dia, após efetuar a última volta em torno de Jericó, “o povo inteiro lançou, então, o grito de guerra […] e desabaram de repente as muralhas. Cada um entrou pelo lugar que estava à sua frente, e assim tomaram a cidade, matando tudo o que nela havia” (Js 6, 20-21).

Somente Raab e seus familiares foram salvos

Restou de pé apenas a casa de Raab. Josué ordenou que ela e todos os membros de sua família fossem trazidos para junto dos israelitas, a cujo povo passaram a pertencer.
A propósito desses extraordinários acontecimentos, afirma o Apóstolo:

“Pela fé, ruíram os muros de Jericó, após as voltas ao seu redor durante sete dias. Pela fé, a prostituta Raab não pereceu com os incrédulos, porque ela acolheu bem os israelitas que vieram reconhecer a região” (Hb 11, 30-31).

Depois de recolhidos o ouro, a prata e objetos de bronze e ferro, as ruínas da cidade foram incendiadas. “O Senhor estava com Josué, que ganhou fama por toda a região” (Js 6, 27).

Os Professores de Salamanca, em seus comentários à Sagrada Escritura, afirmam: “As escavações realizadas na cidade de Jericó demonstram que a cidade foi destruída por uma catástrofe, na época em que os israelitas entraram em Canaã.”

Entretanto, um hebreu chamado Acã, quando penetrou em Jericó arrasada, apoderou-se de algumas coisas consagradas a Deus, cometendo assim um sacrilégio, que ocasionou grave consequência.

Israelitas sofrem estrondosa derrota

O próximo objetivo era agora conquistar Hai. Josué enviou alguns homens para explorarem a cidade. Feito o reconhecimento, eles, otimistas, voltaram dizendo que em Hai existia apenas um “punhado de defensores” (Js 7, 3).

Josué, então, mandou cerca de 3.000 homens para conquistá-la. Mas eles foram fragorosamente derrotados; alguns foram mortos e os outros fugiram.

Em face desse desbaratamento, o varão de Deus rasgou as vestes, prosternou-se diante da Arca da Aliança e dirigiu ao Senhor pungentes palavras: “Que direi, após Israel ter oferecido as costas aos inimigos? Os cananeus e todos os habitantes do país ficarão sabendo, virão cercar-nos e arrancarão nosso nome da terra” (Js 7, 8-9).

Punido o culpado, a vitória é alcançada

O Altíssimo disse-lhe que alguns bens consagrados haviam sido roubados, e por isso houve a derrota. O culpado deveria ser morto e queimado, “ele e tudo o que lhe pertence, porque violou a aliança do Senhor e cometeu uma infâmia em Israel” (Js 7, 15).

Após ter sido descoberto que o culpado era Acã, este confessou que havia roubado uma capa babilônica, 200 moedas de prata e uma barra de ouro, e escondera tudo em sua tenda.

Tendo sido verificado que na tenda de Acã se encontravam de fato tais objetos, Josué mandou que ele, seus filhos, o ouro, a prata, a capa, seus bois, jumentos e ovelhas, sua tenda e tudo que lhe pertencia fossem queimados (cf. Js 7, 24-25).

Depois disso, o Senhor declarou a Josué que Hai seria conquistada, o que de fato ocorreu, mediante uma emboscada. Todos seus habitantes foram mortos e a cidade incendiada.

Entre as razões para justificar tal procedimento, Fillion apresenta a seguinte: “Os hebreus tinham recebido como dom, do próprio Céu, todo o país de Canaã e, destruindo as populações que o ocupavam à sua chegada, não fizeram senão se conformar com os costumes que então reinavam por toda parte.”

Que a Santíssima Virgem nos consiga a graça de termos a fé de que, assim como ruíram as muralhas de Jericó, serão aniquiladas as maquinações daqueles que planejam destruir a Santa Igreja de Deus.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada – 37)

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1 – BIBLIA SAGRADA – Tradução da CNBB. 8.ed. Brasília: Edições CNBB; São Paulo: Canção Nova. Nota na p 244.

2 – FUSTER, Eloíno Nácar e COLUNGA, Alberto OP. Sagrada Biblia – versión directa de las lenguas originales. 11.ed. Madrid: BAC. 1961, p.244.

3 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v.2 , p. 50.

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