O presépio, um altar
Redação (Terça-feira, 03-12-2019, Gaudium Press) Vão se configurando cada vez mais na opinião pública dois pólos opostos entre si: os crentes e os incrédulos. No meio, a massa majoritária, imensa, dos indiferentes. O Natal teve seu sentido deturpado; hoje em dia, Natal está sendo sinônimo de gastos, compras, comidas, férias, diversões… muitas vezes pecaminosas. E o Menino Deus é o grande ausente. Infelizmente, isto é assim.
Estas meditações se dirigem imediatamente às pessoas de Fé, para que possam robustecer sua Fé e contagiar outras, e essas outras, por sua vez, a outras… à espera de acontecimentos que canalizem o rumo do mundo até o triunfo do Imaculado Coração de Maria profetizado em Fátima.
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Toda a existência terrena de Jesus tem relação, próxima ou remota, com a Eucaristia. Em Nazaré, quando o anjo anuncia a Maria que chegou a hora da Encarnação, já se esboça o mistério eucarístico ao tomar natureza humana a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade nas entranhas puríssimas da Virgem. Jesus se faz carne para padecer, imolar-se e morrer. E na véspera da paixão, para dar-nos a comer sua carne sem que sintamos repugnância, Jesus se fará “pão” e “vinho” no Cenáculo. Ele se encarnou não somente para padecer, mas também para ficar entre nós e poder se dar em alimento.
É em Belém, que significa “cidade do pão”, em meio de uma desconcertante pobreza, que o Senhor toma todo o aspecto exterior que assumirá mais tarde na Hóstia consagrada: simplicidade, fragilidade, abandono. Assim o encontramos em todos os sacrários da terra. Ainda que adorado pelos anjos, o vemos indefeso, como um cativo, muitas vezes esquecido e até, em certas ocasiões, profanado.
Em sua vida pública, anunciou a Eucaristia em Cafarnaúm (Jo 6, 26-63), a instituiu durante a última ceia (Mt 26, 26-29) e, ressuscitado, a celebrou outra vez em uma pousada perto de Emaús (Lc 24, 27-31). Ainda que não conste nos Evangelhos, haverá feito o próprio também junto à Sua Mãe. Como não seria assim?
Há uma íntima relação entre Belém e o Cenáculo; entre Belém e o Calvário: o presépio, a mesa da ceia e a Cruz são altares de sacrifício. Em Belém, o tirano Herodes buscou matá-lo provocando um banho de sangue. Saindo do Cenáculo, um dos doze, qual novo Herodes, mas muito pior que aquele rei, ocasiona outro banho de Sangue, este redentor. No momento em que Nosso Senhor oferece o dom infinito de seu Corpo como alimento, o traidor o entrega aos seus inimigos por trinta moedas.
Como os habitantes de Belém, os apóstolos o abandonam em sua via dolorosa; assim também, hoje os fiéis o ignoram nos sacrários. Barrabás foi preferido pelo povo; em nossos dias, o mundo é colocado diante de sua presença na Eucaristia.
Mas voltemos a Belém. No nascimento de Jesus, sendo um acontecimento festivo tão alegre e cheio de esperança, está muito presente a Cruz. Vejamos: a penosa viagem que empreendeu Maria por causa do edito de César Augusto estando grávida, o desprezo manifestado pelos habitantes de Belém que não deram pousada aos viajantes, o ter que refugiar-se em uma fria gruta para se dispôr ao augusto nascimento… Que lição de humildade e de desprendimento!
O Salvador para nascer escolhe a cidade mais insignificante da Judeia: Belém, e é posto no lugar onde comem os animais. E para morrer, escolhe a prestigiosa capital, Jerusalém, onde é levantado no patíbulo da Cruz entre dois vulgares ladrões à vista de todos. Que lição de humildade e de desprendimento!
E na Eucaristia, Ele se faz ainda menor e mais frágil do que em Belém. Na gruta tem a companhia inefável de sua Mãe Santíssima e de seu pai virginal, também o calor que lhe dão os animais. Mas nos sacrários fica muitas vezes -quase sempre- abandonado, a mercê dos demais, o considerem ou não. Que lição de humildade e de desprendimento!
O Dr. Plinio Correa de Oliveira comenta em uma meditação natalina, que o Menino Deus no presépio nos dá três maravilhosas lições: 1. – a nulidade das riquezas, 2. – a loucura de fazer das delícias a principal finalidade da vida, e 3. – quanto é insensato buscar as honras como meta da vida. Não podemos fazer dos valores terrenos a finalidade de nossa existência. Procuremos eliminar de nossos corações, com a energia de quem arranca uma erva daninha, as falsas ideias mundanas que nos levam a adorar o dinheiro, os prazeres e as honras.
Essas lições também nos dá o Senhor a partir dos sacrários. Mas, para aceitar estes ensinamentos que a razão não capta por completo e que repelem a natureza decaída, se precisa Fé. Sem a Fé, tudo isto não passa de meras fábulas.
Porque se em Nazaré sucede algo inimaginável como a encarnação de um Deus; se na gruta de Belém é tão difícil aos olhos humanos aceitar que nascia o próprio Criador; se no Cenáculo, resulta impensável que o Mestre possa dar-se em alimento aos seus amigos; se no Calvário parece impossível que esse homem desfigurado que pende de uma Cruz seja o mesmo Deus encarnado; parece ainda mais inverossível professar uma Fé incondicional em que, um pequenino círculo plano de pão de trigo consagrado na Missa para dar-se a comer, seja o mesmo Jesus Cristo com seu corpo, sangue, alma e divindade em estado glorioso. E, que, ainda, se multiplique prodigiosamente por todos os altares e sacrários da terra! O mistério da Eucaristia somente pode ser idealizado por amor infinito de um Deus.
Na Noite de Natal, vivamos a festa em família e adoremos ao Menino no altar do presépio. Cada vez que durante o ano que entra, nos aproximemos para adorá-lo na Eucaristia, Ele estará nascendo em nossos corações.
Feliz e Santo Natal!
São Paulo, Dezembro de 2019
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.
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