Apostolado em sistema de avalanche
Redação (Quinta-feira, 13-02-2020, Gaudium Press) Com a vinda do Espírito Santo, os Apóstolos converteram-se totalmente. Eles, que haviam fugido quando da Paixão, transformaram-se em ardorosos propagadores da Pessoa e da doutrina de Nosso Senhor.
No átrio do palácio de Caifás, São Pedro fez um discurso dizendo que vinha pregar Jesus Cristo que “vós matastes” (At 2, 23), “a Quem vós crucificastes” (At 2, 36). Foto Arquivo Gaudium Press |
Primeiros cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo
Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
Em Pentecostes, houve “a transformação completa da mentalidade deles, de homens que tinham mostrado um espírito tão diferente do cavaleiro, fugindo quando Nosso Senhor foi preso, e que recebendo o Espírito Santo se tornaram os primeiros cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foram sem dúvida os Apóstolos, verdadeiros heróis da Fé”.
Por meio de Nossa Senhora, eles receberam o Espírito Santo “sob a forma de línguas de fogo, transformando suas mentalidades e os santificando.
A partir de então, os Apóstolos passaram a atear esse fogo – ou seja, a ação da graça divina e a expansão da Igreja Católica – no mundo inteiro, e até hoje ele se difunde entre nós, fruto do milagre de Pentecostes”.
Antes, porém, de se lançarem na luta pela difusão do Evangelho, os Apóstolos se reuniram para formular um resumo da doutrina católica, que passou a ser chamado “Símbolo dos Apóstolos”: é a oração “Creio”.
Entusiasmo que provém da plenitude da temperança
Os Apóstolos ficaram tão alegres, contentes, com tanta força, quemuitas pessoas pensaram estarem eles embriagados (cf. At 2, 13).
“É o que a linguagem da Liturgia chama de ‘a casta embriaguez do Espírito Santo’: um entusiasmo que não vem da intemperança, mas de uma plenitude da temperança, que faz com que a alma, inteiramente senhora de si e dominada por Deus, profira palavras tão sublimes e diga coisas tão extraordinárias, com tanto fogo, que muitas dessas coisas nem são adequadamente captadas pelos outros. Mas são coisas que arrebatam a todo mundo.
“Começa, então, a expansão da Igreja com uma plenitude do Espírito
Santo, que nunca a abandonará. Desde aquele momento, onde houver autênticos católicos haverá uma presença do Divino Espírito Santo que se faz sentir pela infalibilidade da doutrina, pela continuidade da santidade, pelo vigor apostólico, e por um certo ambiente indefinível que é a alegria da alma do católico, por onde sabe-se que a Igreja Católica é a única verdadeira, eternamente a Igreja verdadeira, independente de provas ou de apologéticas.”
3.000 pessoas se converteram e foram batizadas
Dirigindo-se à multidão reunida em torno do Cenáculo, São Pedro – que havia tremido de medo diante de uma criada no átrio do palácio de Caifás – fez um belíssimo discurso no qual disse, entre outras coisas, que ele vinha pregar Jesus Cristo a Quem “vós matastes” (At 2, 23), e repetiu: “a Quem vós crucificastes” (At 2, 36).
Depois, atendendo às pessoas que perguntavam o que deveriam fazer, o Apóstolo declarou que precisavam se converter, fazer penitência e receber o Batismo. E acrescentou: “Salvai-vos desta geração perversa!” (At 2, 40). Ou seja, afastai-vos das pessoas e dos ambientes que vos levam a praticar o mal.
Movidas pela graça divina, umas 3.000 pessoas se converteram e foram batizadas (cf. At 2, 41).
Comenta Monsenhor João Clá:
“Era o início do apostolado em sistema de ‘avalanche’, que se multiplicaria quando os Apóstolos começassem a fazer milagres. Em breve iam estender a evangelização por todo o mundo antigo, e chegaria um momento em que o Império Romano inteiro estaria cristianizado.”
Extinguir a Revolução sobre a face da Terra
Voltando nossos olhos para a humanidade atual, a qual se encontra numa situação religiosa e moral muito pior do que a do tempo dos Apóstolos, perguntamos como seria hoje um milagre semelhante ao de Pentecostes.
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira responde:
“Um dado fundamental distingue nossa época daquela. No tempo de Jesus Cristo existia o mal, como o prova a Paixão e Morte de Nosso Senhor tramada pelos seus adversários, que tinham sido reprovados pelo Redentor
com veemência em suas pregações.
“Havia o mal, não porém a Revolução. Esta é uma forma organizada, articulada, estruturada do mal, como se fosse um país invisível. Existe por toda parte, trama contra o bem e procura atacar tudo quanto o represente.
“Se em nossos dias sobreviesse fenômeno parecido com o de Pentecostes, teríamos de imaginar – com quanta alegria! – os Anjos esmagando a Revolução pelo mundo afora. Seria, então, o nosso Grand Retour, uma conversão completa, um total repúdio a todo o mal que havíamos feito, e um amor inteiro às virtudes e a todo o bem que éramos chamados a praticar e a realizar.
“Em suma, um voo à santidade que abarca o perfeito amor a Deus
e ao próximo, com o deliberado propósito de extinguir a Revolução sobre a face da Terra.”
Enviai, ó Jesus, o Divino Espírito Santo e tudo reflorescerá!
“Devemos apresentar, por meio de Nossa Senhora, esta oração a Nosso Senhor Jesus Cristo: ‘Enviai para este mundo revolucionário, corrupto, transviado, cego, abobado, o Divino Espírito Santo, e todas as coisas serão como que novamente criadas; tudo reflorescerá. E Vós, meu Deus, tereis renovado a face da Terra’.”
Após a graça de Pentecostes, os que foram batizados procuravam os Apóstolos para ouvir seus conselhos, participar das Missas – a “fração do pão” (At 2, 42) – e rezar em conjunto.
“Vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um” (At 2, 45).
Esclarece o grande exegeta Fillion que essa prática só existia em Jerusalém, e não nas outras localidades onde se constituíram grupos de cristãos. E não era obrigatória como o demonstra o episódio de Ananias e Safira (cf. At 5, 1-11). Por não ter dado certo, foi logo abandonada.
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 2)
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1- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Cerimônia de investidura do cavaleiro medieval. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XXII, n. 255 (junho 2019), p. 32-33.
2- Idem. Reflexão na festa de Pentecostes. In revista Dr. Plinio. Ano VIII, n. 86 (maio 2005), p. 22.
3- Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1869, v. V, p. 436.
4- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O início de uma epopeia! In revista Dr. Plinio. Ano XV, n. 170 (maio 2012), p. 6.
5- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. I, p. 403-404.
6- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Reflexão na festa de Pentecostes. In revista Dr. Plinio. Ano VIII, n. 86 (maio 2005), p. 25.
7- Idem. O início de uma epopeia! In revista Dr. Plinio. Ano XV, n. 170 (maio 2012), p. 8.
8- Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Actes des Apôtres. Paris: Lethielleux, p. 627.
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