“Um só coração e uma só alma”
Redação (Quarta-feira, 19-02-2020, Gaudium Press) Perseverantes na oração bem como nas atividades pelo fortalecimento e expansão da Igreja, os Apóstolos frequentavam diariamente o Templo de Jerusalém e celebravam Missas em casas particulares (cf. At 2, 46).
“Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3, 6). Foto Gaudium Press |
O número de cristãos elevou-se a cinco mil
Iam rezar no Templo porque “Deus não queria que os cristãos cortassem repentinamente com os ritos da sinagoga”.
Certo dia, São Pedro e São João entravam no Templo e um homem coxo de nascença – o qual tinha mais de quarenta anos de idade (cf. At 4, 22) – pediu-lhes uma esmola.
O Príncipe dos Apóstolos disse-lhe: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3, 6). E, tomando-o pela mão direita, São Pedro o levantou.
Imediatamente o homem ficou de pé com firmeza e entrou no Templo junto com os dois Apóstolos, “andando, saltando e louvando a Deus” (At 3, 8).
Vendo isso, as pessoas que ali se encontravam ficaram estupefatas e acorreram para junto de São João e São Pedro. Então, este afirmou que o milagre não fora feito pelos dois, mas sim por Jesus o Qual elas haviam matado. E acrescentou que precisavam se arrepender e se converter para que os seus pecados fossem perdoados (cf. At 3, 12-19).
Estava já anoitecendo e os Apóstolos continuavam a falar. De repente, chegou o comandante da guarda do Templo, acompanhado de fariseus e saduceus, que os lançaram na prisão. E pela ação da graça divina, muitos que tinham ouvido a pregação de São Pedro e São João abraçaram a Fé; assim, o número de cristãos passou a ser aproximadamente cinco mil (cf. At 4, 1-4).
“Tremeu o lugar onde estavam reunidos”
Na manhã do dia seguinte, os Apóstolos foram conduzidos à presença de membros do Sinédrio – entre os quais Anás e Caifás – que lhes perguntaram “em virtude de que nome” (At 4, 7) eles fizeram aquela cura.
Com admirável firmeza, São Pedro respondeu que o milagre fora realizado em nome de Jesus Cristo, “que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos” (At 4, 10).
Então os sinedritas deram-lhes liberdade, “por causa do povo” (At 4, 21), ou seja, temiam a opinião pública, pois muitas pessoas ficaram favoráveis aos Apóstolos. Estes se dirigiram para uma casa onde os cristãos estavam reunidos, e contaram o que havia sucedido no Sinédrio. Ao final da narrativa, todos fizeram uma bela oração pedindo a Deus que estendesse sua mão para que se realizassem novos milagres, por meio do Nome de Jesus.
Terminada a prece, aconteceu um fato extraordinário: “Tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e anunciavam corajosamente a palavra de Deus” (At 4, 31).
Lembremo-nos de que, logo após a morte de Nosso Senhor, houve um forte terremoto que apavorou os ímpios. Foi uma manifestação da cólera do Redentor. Mas no caso presente o tremor indicava o júbilo do Divino Salvador pelo progresso espiritual dos cristãos.
São Barnabé: um homem bom, cheio do Espírito Santo e de Fé
A respeito do modo de vida dos primeiros cristãos, São Lucas – autor dos Atos dos Apóstolos – escreve que “a multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4, 32).
Ou seja, pela graça divina eles tinham perfeita união de pensamentos (alma) e vontades (coração). Mas, note-se bem, união com Nosso Senhor Jesus Cristo, Fundador da Igreja.
E acrescenta que muitos vendiam suas propriedades e depositavam o dinheiro aos pés dos Apóstolos, a fim de ser distribuído conforme a necessidade de cada um.
São Barnabé, por exemplo, que era levita, natural da Ilha de Chipre, vendeu um campo que possuía e entregou o dinheiro aos Apóstolos (cf. At 4, 34-37).
Ele era um dos 72 discípulos de Nosso Senhor e primo de São Marcos, autor do segundo Evangelho. Seus pais possuíam muitos bens em Chipre e uma casa em Jerusalém. Quando jovem, estudou na escola de Gamaliel, juntamente com Saulo de Tarso.
Depois da conversão de Saulo, que se tornou São Paulo, São Barnabé apresentou-o aos Apóstolos, em Jerusalém (cf. At 9, 27). E foi seu companheiro na primeira viagem do grande Apóstolo (cf. At 13, 2).
São Lucas faz este elogio de São Barnabé:
“Era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de Fé” (At 11, 24). Demonstrou ele tal zelo na evangelização que, sendo apenas um discípulo, foi chamado depois Apóstolo.
Ananias e Safira
Havia em Jerusalém um homem chamado Ananias que vendeu sua propriedade e, em combinação com sua esposa Safira, entregou apenas uma parte do dinheiro a São Pedro, dizendo-lhe que estava dando tudo.
Logo após ter Ananias colocado o dinheiro aos pés do Príncipe dos Apóstolos, este declarou:
“Ananias, por que encheu satanás teu coração, para que mintas ao Espírito Santo e retenhas uma parte do preço da propriedade? Ficando como estava, não permaneceria tua? E vendendo-a, o dinheiro não ficaria teu? […] Não é a homens que mentiste, mas a Deus. Ao ouvir essas palavras, Ananias caiu morto” (At 5, 3-5).
Aproximadamente três horas depois, Safira, sem saber o que acontecera a Ananias, foi entregar a São Pedro outra parcela de dinheiro. O Apóstolo perguntou-lhe se fora por aquela quantia que ela vendera a propriedade. Tendo Safira respondido que sim, São Pedro disse:
“Por que combinastes pôr à prova o Espírito Santo? Olha, os pés dos que enterraram teu marido estão à porta para levar a ti também. No mesmo instante, ela caiu diante dele e expirou” (At 5, 9-10).
Afirmar que os primeiros cristãos viviam num regime de comunidade de bens, ou seja, no comunismo, é completamente falso.
O próprio São Pedro, no caso acima referido, disse a Ananias que ele poderia vender sua propriedade e ficar com todo o dinheiro. O pecado dele e de sua esposa foi mentir a Deus.
O comunismo, quando instaurado num país, obriga todos os seus habitantes a viver na comunidade de bens, ou seja, o direito de propriedade é abolido.
Ora, esse direito é sagrado porque está consignado em dois Mandamentos da Lei de Deus: o sétimo “Não furtar”, e o décimo “Não cobiçar as coisas alheias”.
Depois que Ananias e Safira foram fulminados pela cólera divina, “grande temor apoderou-se de toda a Igreja” (At 5, 11).
É a primeira vez que a palavra “Igreja” aparece nos Atos dos Apóstolos.
Antes era empregado o termo “irmãos” (At 1, 15). Mas agora a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo estava bem constituída, e jamais as forças do Inferno prevalecerão contra ela.
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 3)
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1- MATOS SOARES, Manuel. Bíblia Sagrada. 6. ed. Porto: Tip. Sociedade de Papelaria. 1956, p. 215.
2- Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. X, p. 206.
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