Contemplar é como ir por uma ponte até um castelo celestial
Redação (Quarta-feira, 20-02-2019, Gaudium Press) A contemplação é algo muito importante, contemplar acaba sendo um observar atento da ‘escritura’ que Deus nos oferece em todas as coisas que nos rodeiam.
Comumente, na criança e depois no homem existe uma inclinação a -com base em suas observações ao longo da vida- elaborar uma “visão completa, perfeita, acabada e íntegra da ordem do universo”, para depois “amar essa ordem como reflexo da grandeza de Deus”. (1) Essas tendências são o contrário ao egoísmo ou a estar sempre pensando em si, tendências também presentes na alma pelo pecado original. No domínio de uma ou outra tendência se joga o destino do ser humano.
Efetivamente Deus escreveu na criação uma autobiografia sublime, ao alcance de todo homem, mas comumente estamos tão ensimesmados, às vezes tão absortos em nosso egoísmo, tão agitados correndo e olhando o chão, que não nos detemos nessas maravilhas, as quais como temos visto na expressão acima de Monsenhor João Clá, são um reflexo da grandeza divina. O que mais reflete a Deus é o conjunto da Ordem do Universo, mas este conjunto vai sendo completado pela observação contemplativa, detalhada e analítica da vida de todos os dias.
Além disso, Deus que quer dar-se a conhecer para nosso benefício, constantemente nos envia graças que nos ajudam nessa contemplação.
É um caminho luminoso, sólido, sereno, santificante, esse da contemplação, auxiliada pela graça de Deus. Usemos a imagem do ‘pons Aelius’, a ponte Aelio que leva ao Castelo de Sant’Angelo em Roma, para exemplificar.
É uma via entretida, porque o universo reflexo do Deus infinito, é quase-infinito em sua variedade e portanto -se não nos deixamos nos asfixiar pela má inclinação à monogamia egoísta- na contemplação do Universo não nos entediamos pois agora degustaremos de uma maravilha, mas daí partiremos para outra. Essa ponte até o conhecimento do Infinito pela via do simbolismo do Universo não pode ser percorrida com agitação. Comete falta gravíssima quem a transita como se estivesse sendo perseguido por assassinos, mas se deve caminhar como quem pisa em um chão de cristal ao mesmo tempo robusto e delicado.
É uma via sólida, porque quem vai lendo a caligrafia de Deus nos diversos reinos da Criação, que vai escutando a sinfonia do Criador nos sons brilhantes da Ordem do Universo, vai tendo a forte certeza interior que vai caminhando corretamente, o Espírito Santo, vai lhe dando esta segurança interior.
É um caminho luminoso, porque apesar de todo homem dever percorrer um vale de lágrimas, em meio da escuridão desse vale, Deus de tempos em tempos manda grandes consolações, que portam mensagens que iluminam uma parte do caminho.
É um caminho ponte que guia até um castelo imponente, que conhecemos como cheio de salões magníficos, certamente com uma especial capela de magnífico altar de mármore, de estalas austeras mas abençoadas, talvez com um sacrário de nobre metal.
Quem percorre o caminho da contemplação da Ordem do Universo, vai construindo em seu interior esse sólido castelo da certeza do céu, do sobrenatural, castelo que é lugar de santas delícias mas também defesa contra as invasões dos inimigos -mundo, demônio e carne-, castelo fortificado que é contundente e às vezes acolhedor, que é refúgio e é morada.
É um castelo coroado por um luminoso São Miguel Arcanjo, que nos recorda que esta vida é uma luta, e que as castas delícias que nos permite Deus não são senão um consolo para continuar as árduas batalhas que toda existência comporta. É um castelo que nos eleva até as alturas, para a partir de seus ares límpidos contemplar o conjunto do panorama, e admirando esse panorama, imprimir em nossas almas a imagem de seu Criador.
Por Saúl Castiblanco
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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(1) Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias. O Dom de Sabedoria na Mente, Vida e Obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Instituto Lumen Sapientiae – Librería Editrice Vaticana. 2016. p. 43
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