Divagações, encantos, reflexões que o mar produz…
Redação (Quarta-feira, 09-10-2019, Gaudium Press) O título é nosso, os subtítulos também. E isso é tudo que pusemos nestas considerações feitas por Plinio Corrêa de Oliveira a propósito do mar.
Nós deixamos tudo como foi expresso por ele em uma reunião realizada para um grupo de jovens que queriam que ele descrevesse o mar.
Deixamos tudo como no original para sermos mais autêntios, afinal, cada um vê o mar como pode…
-O mar… objeto perpétuo de meu enlevo, meu encanto, meu entusiasmo!
Eu seria capaz de passar uma tarde inteira sozinho olhando para o mar, quieto, inteiramente entretido, sem nenhuma outra preocupação que me distraísse desse convívio com as águas do imenso oceano!
Pontos extremos, gamas intermediárias: agradam, não assustam
No mar sempre me chamou muito a atenção o fato de ele se apresentar variando entre dois pontos extremos, com todas as gamas intermediárias.
É agradável considerar tantas formas de belezas postas por Deus na Criação. E a magnificência do Altíssimo se reflete de modo especial nessa capacidade que foi dada ao mar de passar do auge da serenidade para o auge da impetuosidade, através de etapas.
Se, de repente, a sequência desse processo fosse bruscamente interrompida, saltando de um lado para outro, levaríamos um susto.
As ondas: exércitos, batalhas, bailes…
O ordenado e o bonito daquelas imensas ondas que avançam em ofensiva para a terra, sem se mostrarem descabeladas nem fazendo tumulto, evocam um ataque em regra de uma cavalaria nobre.
Já a maré montante de certos dias, que vai cobrindo a praia, tem seu esplendor próprio, lembrando uma bataille rangée, em fileiras.
É linda, igualmente, a variedade das ondas, porque às vezes algumas não chegam a rebentar: apenas formam aquelas eminências e vão adiante.
Outras, pelo contrário, arrebentam e há um gáudio de gotas pelo ar que depois caem e seguem na sua ofensiva, detendo-se um pouco antes de atingir a praia, saltitando, porque vão se entranhar nas profundidades das areias, e terão de esperar um longo tempo até se tornarem água de novo.
Elas então bailam pelo ar, jubilosamente, como guerreiros que, antes de desferir o ataque definitivo, entregam-se à dança da vitória.
O incrível esplendor da variedade: contemplação, bagunça, imprevisto
Agrada-me também considerar o mar quando se acha calmo, quase imóvel. Dir-se-ia que está de tal maneira absorto na contemplação do firmamento, que nem pensa em si.
De súbito, percebe-se que de um lugar qualquer virá uma surpresa.
Algo começa a se mover, e dentro em pouco forma-se um vagalhão; é uma bagunça aquática, um assalto contra a terra em que os vários elementos do mar não vêm em bataille rangée, mas parecem se empurrarem uns aos outros para tomar a dianteira, a fim de conquistar a costa mais depressa.
É o esplendor da variedade, do inesperado, do quase susto, do imprevisto, que tem seu encanto próprio. E a sucessão desses aspectos torna o mar muitíssimo entretido.
Variado porque belo, belo porque variado…
Esses diversos modos do movimento das águas têm pulchrum, porque é belo o mar. Se este fosse feio, suas variações também o seriam.
Imagine-se um espetáculo em que aparecesse uma dançarina feia dançando bem. Ninguém quereria assisti-lo, porque a dança é bela quando é belo quem a executa.
Afigurem-se um exército que avança.
Será muito bonito quando composto de homens fortes, robustos. Se, pelo contrário, formado de capengas a se arrastarem em certa ordem, não valerá coisa alguma.
Assim também o mar: é belo e a sua movimentação está à altura dele.
Formosura dos mistérios… ocultos a nossos olhos
Além disso, confere-lhe particular formosura os mistérios que ele contém.
É um outro mundo a se mover em suas entranhas, nas suas profundidades ocultas aos nossos olhos os quais, das areias, continuam a contemplar o atraente vaivém das ondas…
“Temperamentos” do mar, temperamentos dos homens
Concluo essas divagações, fazendo notar que no existir humano há situações e aspectos de alma análogos aos movimentos do mar.
Por exemplo, indivíduos cujos pensamentos avançam em bataille rangée, cuja oratória, argumentação e dialética apertam e estalam nas praias da polêmica.
E há homens que não são do gênero Turenne, general de Luís XIV, célebre por suas triunfantes táticas de combate, mas são os “condeanos”, imitadores do Grande Condé: afeitos aos pulos de vitória em meio a raios de luz e de aventura: percebem rapidamente uma situação e a resolvem com rasgos de ousadia.
Há espíritos e feitios de inteligência de uma e outra espécie, todos eles com sua beleza peculiar, assim como se reveste de encantos próprios o mar quando sereno, quando impetuoso…
(in “Revista Dr. Plinio” n. 74)
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