A Eucaristia, boa nova para a Amazônia
Redação (Quinta-feira, 17-10-2019, Gaudium Press) Como é sabido, neste mês de outubro acontece em Roma um Sínodo sobre a Amazônia. O interesse da Igreja, especialmente da que peregrina nos nove países da Bacia Amazônica, se volta para a evangelização desses povos, e para sensibilizar o mundo sobre a necessidade de salvaguardar a natureza, ferida pela irresponsabilidade dos homens.
Esses são, basicamente, os dois grandes eixos temáticos propostos para os debates. O tempo dirá o que resultará deste evento eclesial tão repercutido.
Mas, o leitor se perguntará: e a Eucaristia nisto tudo? Vamos a isso.
“Buscai o reino de Deus e sua Justiça e o resto lhe será dado por acréscimo”, disse o Senhor. Antes do cuidado da terra, a proteção das espécies, o saneamento das águas ou a pureza do ar, se deve buscar o bem das pessoas e a salvação de suas almas. Esse é o primeiro eixo temático. Não é que interesse pouco o cuidado da natureza. Importa, sim, e muito. Mas vamos por partes.
Esse bem supremo das almas, somente pode ser conquistado dentro do ideal de unidade ao qual apontou Jesus em sua oração dirigida ao Pai na Última Ceia: “Que todos sejam um como Tu e Eu, Pai, somos um”. Agora, a Eucaristia é exatamente Sacramento de unidade. Ensina o Vaticano II: “No Sacramento do Pão Eucarístico está representada e realizada a unidade dos fiéis que constituem um só corpo em Cristo que é a luz do mundo da qual procedemos, para a qual vivemos e para a qual tendemos” (LG, 3).
Assim sendo, se impõem uma catequese bem elaborada e adaptada às circunstâncias sobre a Eucaristia naquele emaranhado complexo pluri-étnico: 34 milhões de habitantes, 390 etnias e mais de 200 línguas. Trata-se de seguir fazendo o que os missionários têm feito desde sempre, com luzes e sombras, colocando no centro de sua pregação a Eucaristia. Com novos métodos e novos brios. A Missa dominical, a adoração ao Santíssimo, as manifestações de piedade popular, a devoção a Maria, aos Anjos, aos Santos, às Obras de Misericórdia: eis aí o roteiro permanente.
Para o trabalho pastoral ‘in situ’, há que saber que por volta de 80% dos habitantes da bacia Amazônica vivem em cidades ou centros urbanos. Os outros 20% estão dispersos, e muito poucos em isolamento voluntário. Todos eles são tentados por ídolos: o dinheiro, o consumismo e o materialismo aos que vivem em zonas urbanas; e o paganismo bárbaro que leva a adorar a natureza ou a tótens fabricados pelo capricho humano, aos de regiões distantes. Trata-se de mudar os falsos “deuses” pelo Deus verdadeiro que se esconde no pão Eucarístico. Claro, isto pede organização, dedicação, engenho e, sobretudo, fervor nos clérigos e leigos que se lançam à missão com a ajuda da graça de Deus. O que sempre tem valido em todo tempo e lugar, não se aplicaria à Amazônia? Devemos rezar para contar com missionários santos que projetem as luzes da Fé Católica na Amazônia… e em todas partes. E que se manifestem esses missionários! Porque parece que não levam a voz cantada nisto…
A Hóstia santa tem uma força de atrair e de santificar poderosa. Ao contrário, os ídolos, sejam modernos ou ancestrais, possuem um caráter centrífugo que leva as pessoas a se ignorarem, se desentenderem e se enfrentarem. A Eucaristia, tem ainda muito de inefável, de encantador, quase diríamos de sedutor.
Agora, um parênteses. Poucos santos tiveram tanta sede pela salvação das almas como São Francisco de Assis. Ele geralmente é apresentado apenas como um amigo das criaturas, suas “irmãs”. Bem. Mas não esqueçamos sua dedicação total pelos pobres, os leprosos, os infiéis (hoje diríamos por todo tipo de pessoa em estado de vulnerabilidade). Francisco foi um cavaleiro ambulante da misericórdia.
Há outra coisa que pouco se diz do Poverello; ele era um apaixonado pela Eucaristia. Vejamos: 1) Em uma regra primitiva -não feita por ele; ele não era muito amigo das regras… -acrescentou: “Se em suas viagens através do mundo, os irmãos notam que se conserva o Santíssimo Sacramento em âmbulas ou em sacrários inconvenientes, devem motivar aos sacerdotes a remediar essa situação”. 2) Entre as normas para a Ordem Terceira laica nascente, impôs que deveriam confessar-se e receber a Comunhão com regularidade. 3) Redigiu uma exortação “De reverentia Corpus Christi”. 4) Enviou uma carta à um Capítulo da Ordem (ao qual não pode assistir) dizendo “dar todo o respeito e a honra possíveis ao Corpo e ao Sangue precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo”. 5) E em seu testamento escreveu “Te adoro Oh Senhor Nosso Jesus Cristo, aqui e em todas as igrejas espalhadas pela face da terra”. (Dados retirados de “Vie de St-Francios d´Assise”, P. Cuthbert OFSC, Ed. J. Duclot, Gembloux, 1927).
É parcial, portanto, apresentar ao Santo somente como amante do ‘irmão sol’ e deixar de ver sua adoração pela Eucaristia, sol do mundo; ou como amigo da ‘irmã lua’ ignorando sua imensa devoção à Rainha dos Anjos…
Voltemos à Amazônia. Sobre ela, em nossos dias, ao lado de vozes respeitáveis e verazes, opinam outros com ares de profetas de desgraças, “teóricos de escritório”, amigos de preconceitos… não muito confiáveis. Saibamos distinguir.
Por sua fabulosa biodiversidade, a região Amazônica é chamada com razão o pulmão do mundo. Mas não esqueçamos que Jesus na Eucaristia é o centro do cosmos, matriz de toda vida. Entretanto, quanto se ignora ou se subestima!
Esses povos tem sede de Deus ainda que quiçá não o tenham explicitado totalmente. Há que dizer-lhes e saciá-los colocando a Eucaristia no centro de suas vidas com a devida reverência. E a “irmã mãe terra” se beneficiará.
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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