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O sublime apostolado de São Damião no Hawai

O pequeno arquipélago do Hawai -hoje pertencente aos Estados Unidos- não passará a ser parte do patrimônio da memória histórica da humanidade por suas famosas ondas, seus vulcões ativos, seu turismo exasperante ou o bombardeio de Pearl Harbor. Isso poderia ter acontecido em qualquer quadrante do planeta.

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O que fará dele um local inesquecível será a breve história de um simples missionário belga que sepultou os melhores anos de sua vida em uma ilha-leprosário de lá, velando pela salvação das almas daqueles infelizes carregados de ressentimento incurável e diários mal-estares físicos, afastados do convívio humano: Josef de Veuster, conhecido hoje em sua congregação religiosa e no mundo inteiro como o pai São Damião de Molokai, falecido aos 49 anos de idade, afligido dessa terrível enfermidade no mesmo lugar ao que chegou completamente são com 33 anos de idade recém cumpridos em 1873.

Existe uma foto sua conhecidíssima, onde ele aparece com seu hábito e chapéu de missionário católico, sentado mansamente, olhado a lente da câmera e já com os sinais visíveis da lepra no rosto e nas mãos. É quase um Ecce homo deformado, mas sereno, sem nenhum tipo de auto-compaixão e resolvido a seguir adiante com o apostolado que lhe tirou a vida.

São Damião nasceu em uma pequena fazenda da Bélgica. Sua família era de camponeses católicos. Tornou-se sacerdote da Congregação dos Sagrados Corações seguindo o exemplo de seu irmão maior que foi mandado por sua Ordem para uma missão no Hawai. Mas Deus escreve a história como a Ele apetece e sua vontade é mandato irrevogável para um religioso com o sagrado voto de obediência.

Hawai era uma pequena monarquia nativa unificada violentamente por um Reizinho animista com o apoio de ingleses e norte-americanos que terminariam apropriando-se dela. Os arquivos históricos registram que não foi precisamente James Cook quem a descobriu em 1778 mas que já desde o século XVI aparece em um mapa espanhol visitada por uma expedição ao mando do fidalgo Ruy López de Villalobos, o mesmo que descobriu e deu o nome a Filipinas havendo saído para explorar o Pacífico desde o vice-reino da Nova Espanha, hoje México. Nos mapas de Villalobos, uma das ilhas do arquipélago hawaiano -provavelmente Molokai, o futuro leprosário- é denominada misteriosamente como a “Desgraçada”. Ao parecer nada estimulou o espírito conquistador da expedição espanhola ou algo inesperado em seus nativos os fez desistir de explorar as ilhas. E isto sucedeu-se durante dois séculos antes que Cook as visitasse. O inglês terminaria seus dias ali, devorado com muitos de sua expedição pelos próprios aborígenes do Hawai.

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São Damião de Molokai
 

Nem Villalobos, nem Cook, nem Pearl Harbor são referências deste arquipélago localizado no enigmático Oceano Pacífico quando se faz teologia da história e deseja-se evocar a epopéia da imolação cristã.

Menos ainda alcançaram perene memória os pragmáticos missionários anglicanos cuja iniciativa deve-se o leprosário que depois abandonaram completamente. São Damião de Molokai bem poderá ser o nome do lugar onde seus nativos estão reduzidos a menos de 6% da povoação atual, e talvez não o estariam se a preocupação dos posteriores colonizadores tivesse sido mais caridosa, garantindo as pessoas antes de explorar a todo custo seus recursos naturais.

Por Antonio Borda / Trad. Emílio P. Coutinho

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