O Matrimônio: Uma instituição duplamente santa
Redação (Segunda-feira, 25-11-2019, Gaudium Press) No matrimônio, a graça santifica e torna fiel o vínculo entre os nubentes, permanecendo sobre eles até o fim da vida. Duas vezes honrado por Deus, na criação e na Redenção, ele se impõe aos homens como a dizer: “Não o toqueis, é uma coisa santa”.
Ao criar o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, Deus lhes deu um objetivo bem definido: “Frutificai, disse Ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei- -a” (Gn 1, 28). Tornava-os, assim, seus colaboradores na tarefa de transmitir a vida e propagar a espécie humana, e confiava-lhes a missão de reger e governar tudo o que havia feito.
Este encargo de crescer e multiplicar-se tinha muitos desdobramentos, entre os quais o dever de educar e formar os filhos segundo a Lei de Deus. No pensamento divino, porém, havia uma intenção ainda mais elevada: a instituição do Sacramento do Matrimônio, como símbolo da união de Jesus Cristo com a Igreja, sua Esposa “toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5, 27).
Tal é o sublime parâmetro estabelecido pelo Altíssimo para a união conjugal em todos os tempos, uma instituição duplamente santa.
O pecado do primeiro casal
Pelo pecado original, entretanto, nossos primeiros pais insurgiram-se contra tão elevado desígnio, pois, seduzida pelo demônio, Eva, que deveria completar o esposo em santa união, pecou e serviu de instrumento para arrastar Adão na queda.
Como foi possível acontecer isto no Paraíso?
Mons. João Scognamiglio Clá Dias (1) o esclarece em seu mais recente livro sobre São José, esposo santo arquetípico. Explica ele que o pecado original foi precedido pela ação exercida por muitos demônios sobre Adão e Eva, visando desequilibrar o reto relacionamento existente entre ambos.
A mulher era chamada a representar a grandeza encantadora de Deus, enquanto o varão devia manifestar a soberania e majestade do Altíssimo, atributos próprios a causar mais temor do que atrativo.
Ora, cedendo às insinuações diabólicas, Adão tendia, no convívio diário, a deslumbrar-se com Eva mais pelo afeto humano que esta lhe tributava do que pelos aspectos que a assemelhavam ao Criador. E algo análogo deu-se no coração dela, ou seja, Deus deixou de ser o centro em torno do qual giravam suas aspirações.
“Ao seduzir Eva, a serpente causou-lhe confusão na mente e, por fim, orgulho na alma.
Quando ela comeu o fruto proibido, sentiu em si os deletérios efeitos do pecado e, ao apresentá-lo a Adão, este percebeu a terrível mudança ocorrida em sua esposa. Eva, por inveja do estado inocente em que ele estava e para não ficar sozinha em sua falta, convenceu-o a comer o fruto.
Adão compreendeu o que perderia se consentisse, mas vacilou entre obedecer a Deus ou agradar sua esposa, acabando por ceder às instâncias desta, pela pouca experiência que tinha da severidade de Deus”.(2)
Maria e José, exemplo do matrimônio perfeito
“Em sentido diametralmente oposto, São José e Nossa Senhora, por sua virtude e fidelidade, viveram na mais completa harmonia, mostrando a ordem perfeita do matrimônio quando marcado pela santidade.
Apesar de terem sido tentados pelos mesmos demônios que assaltaram Adão e Eva, eles resistiram com total integridade, não permitindo sequer a menor concessão.
Assim, de certa forma São José tornou-se um novo Adão pelo fato de haver convivido com Maria, a nova Eva, num equilíbrio feito de pureza e retidão.
Em consequência, ao Santo Casal foram concedidos dons e graças ainda maiores que os primeiros pais obteriam se passassem bem pela prova.
“Por sua submissão a São José, Nossa Senhora, apesar de ser superior a ele, reparou o orgulho de Eva. E São José, elevado ao encargo de chefe da Sagrada Família, embora admirasse a grandeza de Nossa Senhora teve de governá-La, reparando a fraqueza de Adão.
“Desse modo, na união esponsal entre Maria e José, toda ela virginal e castíssima, é reparada com superabundância a defecção de Adão e Eva, pois no extremo oposto àquela desobediência está a docilidade plena à vontade de Deus dos imaculados cônjuges.
Em seu afeto cheio de pureza e de mútua entrega, isento, portanto, de qualquer sombra de egoísmo, eles prepararam de forma excelente o advento de Nosso Senhor, que em sua infinita afeição pela Igreja daria por ela todo o seu Sangue no alto da Cruz, selando com sua Esposa Mística uma aliança eterna de fidelidade (cf. Ap 19, 7-9)”. (3)
(Continua.)
Por Padre Aumir Antônio Scomparin, EP
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1- Cf. CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. São José: quem o conhece?… São Paulo: Lumen Sapientiæ, 2017, p.93-94.
2- Idem, p.92-93.
3- Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Suppl., q.44, a.2.
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